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  • Foto do escritorGuilherme Cândido

Documentário "Longe da Árvore" celebra as diferenças

O que curar e o que celebrar?


Eis uma questão que parece feita sob medida para tentar detectar algumas características que nos definem como seres humanos. Partindo de uma premissa que começa nos apresentando a crianças que se desenvolveram de forma diferente daquela esperada por seus pais, o documentário dirigido por Rachel Dretzin nos coloca no centro de famílias de portadores de Síndrome de Down, autistas, anões e até mesmo um assassino. Há também Andrew Solomon, autor do livro que inspirou o filme e que narra sua trajetória de aceitação como homossexual.


O fato de serem diferentes é tão determinante assim para construir um relacionamento? Não é possível simplesmente aceitá-los como eles são ao invés de tentar adaptá-los à nossa mediocridade? Perguntas como essas são respondidas de forma leve e nada manipuladora, de um jeito em que a empatia faça todo o trabalho emocional por nós, sem precisar recorrer a uma trilha sonora melosa ou a uma montagem tendenciosa.


Essa abordagem torna mais fácil a tarefa de abordar pessoas que são encaradas como verdadeiros párias pela sociedade. Uma pessoa com nanismo, por exemplo, se mostra exausta com as tentativas de cura que lhe são sugeridas. Pois aos olhos de estranhos, é difícil e até surpreendente que ela possa ser, de fato, feliz. Infelizmente, isso revela muito mais a respeito da nossa sociedade e nossos valores equivocados do que sobre aqueles supostamente diferentes.


Através de depoimentos comoventes, percebemos que não é a estatura de uma pessoa ou um cromossomo a mais que serão capazes de determinar o caráter de alguém. Somos todos humanos, afinal. A necessidade de amar e ser amado é tão normal como o respeito que se deve ter por qualquer um, e é isso que nos torna humanos. Ou há quem seja imune a emoções?


A estrutura, no entanto, enfrenta problemas para encaixar todos os personagens, o que resulta num ritmo irregular que quebra o dinamismo lá pelo terceiro ato. Por outro lado, as imagens de arquivo trazem ainda mais humanidade àquelas pessoas e facilitam a conexão com o espectador. Simplesmente não há como não admirá-las.


Me sinto como um tigre dentro de uma jaula” diz Jack, o menino autista, logo após comprovar que sua dificuldade com a fala não significa falta de inteligência: Ele percebe e entende tudo ao seu redor, só não é capaz de se comunicar sem o auxílio de um aparelho. E há um momento especialmente tocante envolvendo sua mãe ao finalmente se dar conta de que seu filho a entende. Momentos como esse são recorrentes e acumulam-se até o último plano.


Porém, é o drama de Andrew que acaba sendo o elo entre as histórias, ganhando atenção especial. Sem conseguir explicar que não se trata de uma “opção”, Andrew conta que chegou a apelar para uma espécie de cura, na esperança de passar a sentir atração por mulheres. É palpável seu desespero por tentar adequar-se, não somente aos padrões da sociedade, como principalmente os de sua família. Isso revela a estupidez de boçais como o deputado Marco Feliciano e seus partidários, que insistem em encarar a homossexualidade como uma escolha consciente ou uma doença a ser combatida. “Eu jamais escolheria um caminho de dor e solidão”, diz Andrew em certo ponto.


Por isso, ao invés de buscar uma “cura”, porque não aceitar nossos coabitantes da Terra como realmente são? Todos buscam a felicidade, de um jeito ou de outro. Aliás, todos buscam felicidade ao seu próprio modo e não cabe a ninguém julgar isso. Que obras como Longe da Árvore ainda sejam relevantes e necessárias, só ratifica que ainda temos muito a evoluir.


NOTA 8

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