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Festival de Cinema Europeu Imovision #4: "O Último Moicano"

  • Foto do escritor: Guilherme Cândido
    Guilherme Cândido
  • 28 de abr.
  • 3 min de leitura

O Último Moicano

(Le Mohican, França)


Por trás da costa ensolarada, com praias paradisíacas e repletas de turistas endinheirados, há um drama maior acontecendo na Córsega, ilha francesa vizinha à italiana Sardenha. As centenas de pessoas que se bronzeiam às margens do Mar Mediterrâneo mal imaginam estar no meio de uma batalha silenciosa entre tradição e modernidade e é justamente esse conflito o cerne de O Último Moicano, longa-metragem de Frédéric Farrucci que acompanha um diligente pastor tentando manter suas terras longe das garras de empresários do ramo imobiliário.


O roteiro igualmente assinado por Farrucci não traz nada especialmente novo além da boa e velha resistência às expansões agressivas impulsionadas pelo capitalismo, tal qual ocorreu no ótimo Aquarius (2016), longa brasileiro em que a personagem de Sônia Braga recusava-se a vender seu apartamento para uma corporação interessada na construção de um complexo mais moderno. A resiliência, presumivelmente, cobra um preço alto. No caso do pacato Joseph, vivido por Alexis Manenti como um sujeito calado e de expressão melancólica, significa bater de frente com a máfia local, vendida aos interesses econômicos de especuladores.

Àqueles que enxergam o dinheiro não como um meio, mas como um fim, é difícil conceber o valor daquelas terras para além das benesses comerciais. Como o título antecipa, Joseph é o último a pastorear na região e assim pretende seguir. Seu patrimônio maior não é a fazenda e tampouco as cabras que fornecem o seu sustento e o de amigos e familiares. A terra, embora inegavelmente valiosa, foi lar de gerações e é onde ele está feliz.

Farrucci é cuidadoso ao ilustrar o apego de Joseph sem recair na teimosia, mas peca ao retratar os esforços da polícia. Negando ao espectador a participação na investigação, os esforços da Lei são relegados a noticiários televisivos e comentários dos personagens. Mesmo com o escopo limitado, essa abordagem engrandece a resistência do protagonista, vencedor nos duelos tanto com os mafiosos, quanto com os policiais. Méritos também para o compromisso do diretor para com o realismo, evitando o uso ostensivo de trilha sonora e dispensando sequências de ação grandiosas.

A ação, diga-se de passagem, acontece por meio de rompantes, explosões de violência cujo impacto se dá mais pela surpresa do que pelos atos em si e Manenti é bem-sucedido ao corresponder à fisicalidade do papel. Parte da autenticidade alcançada deve-se também ao esmero da direção, que dá espaço para momentos de descanso para Joseph e, consequentemente, para o espectador. O herói cansa, sangra, necessita de cuidados e depende da ajuda dos outros, oferecendo à narrativa uma oportunidade de ouro de ilustrar humanidade.

Como um documento de sua época, a produção faz questão de pontuar a influência das redes sociais no conflito retratado e soma pontos importantes ao registrar a covardia peculiar àquele tipo de perfil que se nega a reprisar o comportamento raivoso no mundo real, aqui ironizado pelo misterioso “intrépido”, aliado de Joseph. Tornando-se uma espécie de mártir digital, a luta do protagonista acaba justificando-se precisamente por inspirar uma parcela do povo, abraçando aquele que, indiretamente ou não, tomou para si a responsabilidade de defender os interesses da população comum frente aos desmandos de comerciantes obcecados pelo lucro.

Sem recorrer ao panfletarismo, O Último Moicano funciona como um veículo de promoção da resiliência humana, capaz de catalisar o povo em prol de interesses coletivos. Ao aliar esse discurso a uma história envolvente e bem dirigida, o impacto é ainda maior.


NOTA 7

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