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Foto do escritorGuilherme Cândido

Novo Triplo X estabelece Vin Diesel como um fanfarrão hollywoodiano

O que tenho para falar sobre o novo Triplo X ou xXx: Reativado?


Depois de executarem um audacioso plano, uma quadrilha está prestes a fugir quando, na saída do local do crime, se deparam com um motoqueiro armado. Eles se encaram por um instante, mas um destemido indivíduo com um espalhafatoso corte de cabelo (Tony Jaa) resolve partir para cima do adversário motorizado. Obviamente, o motoqueiro finalmente resolve fazer o que já deveria ter feito assim que avistou os criminosos, atirando sem reservas em direção ao criminoso, quando de repente acontece um dos momentos mais inusitados do Cinema nos últimos anos.


Caso o tal sujeito de penteado irreverente fosse Neo, de Matrix, este certamente desviaria das balas numa impressionante tomada em câmera lenta. Uma pessoa comum simplesmente não encararia os projéteis. Mas, para escapar das balas, o personagem vivido pelo tailandês Tony Jaa resolve inovar, executando saltos de ginástica artística em direção ao motoqueiro (que também acelera), e não só consegue, como ainda toma a moto para si. Sim, caro leitor, o novo xXx é esse tipo de filme.


Pois a nova produção estrelada por Vin Diesel não tem vergonha de abraçar sua natureza adolescente, introduzindo cada personagem com uma espécie de “perfil”, exibindo características “relevantes” de cada um, com direito a um inacreditável “apelido no Call of Duty”. Reforçando também a débil virilidade tão comum em filmes do gênero, xXx: Reativado trata suas principais personagens femininas como objeto, investindo no batidíssimo clichê da beldade de biquíni saindo da piscina, por exemplo.


E é claro que a única mocinha, aparentemente (ênfase no “aparentemente”) inteligente usa óculos, mas não demora muito a se jogar aos pés de Xander (Diesel), que aqui é tratado como uma verdadeira lenda. Aliás, esse é só um dos sinais da presunção de xXx, pois, afinal, quem é Xander Cage?


Com isso, frases como “é ótimo estar de volta” ou o clássico supremo das continuações “lá vamos nós de novo”, insistem em sair da boca do escalvado astro de Velozes e Furiosos. E quando nos lembramos de que a tal “lenda” sequer estava presente no (péssimo) filme anterior (de 12 anos atrás), a situação fica ainda mais embaraçosa.


Mas o que esperar do roteirista responsável pelo fraco Códigos de Defesa (lançado direto em home video? Pois é, a falta de talento de F. Scott Frazier não limita-se a ridículas frases de efeito, estendendo-se também à áudio descrição (repare por exemplo na reação de Xander ao ver um engarrafamento), à obviedade (logo após ouvir que um personagem vai executar uma manobra kamikaze, ouvimos um hilário “mas isso é suicídio! ”), e, principalmente, à composição dos personagens.


Os vilões, como não poderia deixar de ser, estão devidamente vestidos de preto dos pés à cabeça e usando óculos escuros, ao passo que os mocinhos, ao menos têm liberdade para usarem casacos de couro ou regatas justas. E se durante uma batalha os homens estão quase todos usando trajes de combate, adivinhe como as mulheres estão se vestindo? E por quê desenvolver personagens, se é possível conceber vilões sempre sérios e inescrupulosos e mocinhos que são corajosos e exímios comediantes? Claro que o filme acaba flertando sempre com o humor (lembre-se da ginástica anti-balas), mas colocar um antagonista soltando um “não se eu pegá-los primeiro!” poderia se encaixar melhor numa esquete.


xXx: Reativado também desperdiça uma boa parcela de grandes nomes dos filmes de ação orientais contemporâneos, como o ótimo Donnie Yen (o cego de Rogue One), que aqui é sabotado pela confusa direção de D.J. Caruso (Eu Sou o Número Quatro), já que não conseguimos acompanhar com clareza a elaborada coreografia de suas sequências de luta. E se Tony Jaa (série Ong Baq) é obrigado a protagonizar a ridícula cena que descrevi no início do texto, a bela Ruby Rose (de Orange is The New Black) tem de encarnar uma referência gratuita e nada sutil a Azul é a Cor Mais Quente, surgindo com cabelos azuis e interpretando uma lésbica chamada Adele. Já Nina Dobrev (de The Vampire Diaries) passa vergonha no papel de uma admiradora de Xander Cage que, como já era de se esperar, ganha vida com toda a virilidade e canastrice de Vin Diesel. Fechando o elenco principal, Toni Collette é desperdiçada numa espécie de clichê loiro ambulante.


Embora tecnicamente competente, o filme não vai muito além do básico, exibindo efeitos visuais que jamais impressionam e uma trilha sonora tão genérica quanto esquecível. Difícil de esquecer, no entanto, é o momento em que a personagem de Toni Collette intimida um grupo de personagens. Não, ela não diz que vai mandar seu exército particular confrontá-los. Ela apenas ameaça jogar um satélite em cima deles. Muito mais prático, não?


Desperdiçando também Neymar (sim, o próprio), xXx: Reativado é um filme ridículo, absurdo e que só não é mais frustrante porque acaba provocando algumas boas gargalhadas (involuntárias, evidentemente). Aliás, eu já falei que um personagem desvia de balas dando saltos ornamentais? Enfim, ao invés de Neymar, a produção deveria ter chamado a Daiane dos Santos.


NOTA 2

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