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CRÍTICA | "A Própria Carne"

  • Foto do escritor: Guilherme Cândido
    Guilherme Cândido
  • 30 de out.
  • 2 min de leitura

*Crítica publicada durante o Festival do Rio 2025


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Num momento cinematográfico em que o Horror tende a ser mais sugerido do que explícito, com realizadores mais preocupados em codificar discursos do que engendrar arrepios, A Própria Carne representa um bem-vindo retrocesso, lembrando uma manufatura artesanal de propósitos simplificados, mas nunca simplórios. Em tempos mais simples, não era preciso explicar o significado por trás de um espectro, elucubrações sobre traumas, culpa e maldade. O que víamos era exatamente o que víamos e ponto, justificando-se através do propósito de causar desconforto.


Mais acostumado a trabalhar com histórias leves após despontar no coletivo cômico Porta dos Fundos, o cineasta Ian SBF propõe um exercício de gênero exibindo pleno domínio dos signos do terror. A atmosfera pesada, ressaltada não só pela trilha onipresente de Bruno Gouveia, como também pela fotografia sombria de Vinicius Brum, é o destaque de uma produção que busca escancarar o que normalmente é internalizado.

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Luiz Carlos Persy, ícone da dublagem, vive um anfitrião de aura sinistra nesse típico horror de câmara. A voz familiar agora ganha o rosto expressivo de um intérprete eficaz em tornar menos estapafúrdias os esforços de um homem supostamente maligno. Persy evoca desespero, mas também diligência, pena que os roteiristas Deive Pazos e Alexandre Ottoni, dupla mais conhecida pela marca Jovem Nerd, não se mostra tão interessada em explorar seus tormentos.

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Ambientada no auge da Guerra do Paraguai, a história acompanha um trio de soldados desertores em busca de um refúgio para tratar dos graves ferimentos de um deles, finalmente deparando-se com o arauto do caos supracitado.

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George Sauma, o Tatalo da sitcom global Toma Lá, Dá Cá (2005-2007), é quem chama mais atenção por deixar para trás a verve humorística para retratar de forma visceral (e competente, diga-se de passagem) a agonia. Pierri Baitelli (da série Magnífica 70), ganhando de presente a oportunidade de explorar mais seus dotes dramáticos do que a pinta de galã, se sai bem dando peso aos diálogos talvez informais demais do roteiro. E se Jade Mascarenhas (O Homem de Ouro, também em exibição no Festival do Rio 2025) desperta uma curiosidade jamais saciada, é Jorge Guerreiro (do folhetim Justiça) quem acaba ocupando o centro da narrativa ao cumprir duplo expediente como o típico sobrevivente do gênero e também como pivô de uma discussão envolvendo racismo.

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Aliás, o roteiro engatilha tantas pautas que fica difícil disparar todas no alvo. Pazos e Ottoni evidentemente têm muito a dizer, mas faltou um recorte mais preciso, menos disperso. Há muitos filmes dentro do filme, uns mais dramáticos e abstratos, outros mais físicos e proponentes. Todos interessantes, mas que frustram pela ausência de desenvolvimento. Potencial há de sobra, uma vez que a estrutura é construída sem intercorrências.


Estreantes nas telonas após o sucesso nas telas do computador, o Jovem Nerd cumpriu a missão mais difícil: fazer Cinema de gênero no Brasil.


NOTA 5,5

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