Festival do Rio 2025 | Bônus: "Saída 8"
- Guilherme Cândido
- há 12 horas
- 2 min de leitura
Saída 8
(8-ban Deguchi, Japão)

Um homem está no metrô a caminho do trabalho. Enquanto ouve o Bolero de Ravel em seu AirPod esquerdo, ele observa um passageiro surtar com o choro de um bebê, direcionando gritos à moça que o segura. Sem reação como os demais, o protagonista volta a encarar o celular quando sua parada finalmente chega, ao mesmo tempo que uma ligação da ex-namorada. Ela suspeita estar grávida e pergunta o que farão a respeito. Desesperado, ele chega a ter um ataque de asma cruzando os corredores bem iluminados de uma estação misteriosa, até perceber estar preso num loop.

Baseado no jogo homônimo que viralizou no ano passado, Saída 8 muitas vezes lembra outro game, o intelectivo Portal. Mas enquanto na franquia da desenvolvedora Valve o jogador deve resolver quebra-cabeças para passar de fase, a obra adaptada por Genki Kawamura, funciona como um jogo dos sete erros. Ou oito, no caso, já que para encontrar a saída definitiva presente no título, é preciso identificar a existência ou a ausência de anomalias no ambiente. Pode ser um outdoor torto ou mal escrito, uma placa fora de lugar, uma maçaneta sumida ou até mesmo criaturas. Está diferente? Então é só voltar por onde veio. Não está? Siga em frente que o próximo nível o aguarda.

O protagonista, identificado apenas como “Homem Perdido” aprende as regras a duras penas, permitindo a Kawamura exercitar a criatividade para manter uma atmosfera de suspense à base do imprevisível e quando resolve provocar sustos, não fica refém dos acordes súbitos, embora apele para um ou dois clichês (o velho truque da lanterna que falha, por exemplo).

Também abre-se espaço para homenagens escancaradas a O Iluminado (1980), como o sangue escorrendo pela parede, a inundação repentina ou as curvas pelos corredores revelando elementos potencialmente assustadores (quem não lembra de Danny andando de velocípede pelas instalações serpenteadas do hotel Overlook?).

A estratégia, por outro lado, tem prazo de validade e o diretor recorre à divisão do protagonismo, compartilhando a função central em outros dois personagens. Na prática, o recurso se revela ainda mais limitado, pois seu único benefício é trocar a figura que reagirá aos mistérios da estação de metrô. A natureza bizarra dos acontecimentos, ao menos, nos mantém interessados no desenrolar da história.

Que no cômputo geral parte de uma premissa bem simples envolvendo a culpa social do nosso herói misterioso, bem como uma alegoria nada sutil sobre o aborto (ou a escolha por um). Lá pela metade da projeção, me peguei pensando em 1408 (2007), terror baseado num conto de Stephen King em que um escritor vivido por John Cusack ficava preso em looping num quarto de hotel. São produções que compartilham não só vários elementos narrativos, como também seus resultados.

Uma experiência quase sempre envolvente e interessante enquanto de desenvolve, beneficiando-se de uma duração que não dá muito tempo para bocejos, mas que será difícil de ser lembrada após os créditos rolarem.
NOTA 6