Festival do Rio 2025 | Bônus: "Twinless"
- Guilherme Cândido
- há 12 horas
- 3 min de leitura
Twinless
(Idem, EUA)
*** Esta crítica contém spoilers

Após uma sequência misteriosa na qual ouvimos o que parece o som de um carro batendo em algo, o filme nos apresenta a Roman (Dylan O’Brien), participando do encontro de um grupo de apoio para pessoas que perderam seus irmãos gêmeos. Ainda devastado ele acaba encontrando Dennis (James Sweeney), que apesar da espontaneidade também está de luto. É o início de uma amizade instantânea, mas destinada a um conflito, pois Dennis guarda um terrível segredo. Além de estrelar ao lado de O’Brien, Sweeney escreve, dirige e produz Twinless, longa-metragem que foi a sensação do mais recente festival de Sundance, do qual ambos saíram premiados e têm tudo para repetir o sucesso nesta reta final de Festival do Rio.

E o californiano, em seu terceiro trabalho como cineasta, opta por uma abordagem quase pessoal, intimista, priorizando silêncios, olhares e reações. Uma direção segura de alguém determinado a fugir do lugar-comum, especialmente na linguagem narrativa. Ele aprimora, por exemplo, o recurso da tela dividida, tão proeminente em Harry e Sally: Feitos Um Para o Outro (clara inspiração em vários sentidos): com os personagens geograficamente separados, vemos Dennis se materializar lentamente na cama de Roman assim que este atende sua ligação. No entanto, quando o foco está no primeiro, o design de som mantém a voz do segundo digitalizada, como se ouvíssemos diretamente do aparelho, alternando a estratégia num determinado ponto da conversa.

Da mesma forma, Sweeney quebra a expectativa do público duas vezes, separando (na mesma velocidade em que Dennis e Roman se distanciam) e depois unindo o quadro durante uma longa passagem numa festa, mas desta vez de forma engenhosa ao aproveitar um espelho para aplicar uma ilusão de perspectiva. São detalhes que poderiam passar despercebidos em outras produções, mas que aqui comprovam a sofisticação de um profissional ainda em início de carreira.

Já como ator, o californiano é ainda mais eficiente, pois apresenta um timing cômico crucial para aliviar a atmosfera melancólica, que vai provocando cada vez mais ansiedade à medida que nos afeiçoamos aos protagonistas e sabemos que eles estão a uma revelação de entrarem em conflito. O humor, vale dizer, é orgânico e, além de servir para fortalecer o laço entre os amigos, nos diz muito sobre a personalidade de cada um, especialmente nas reações de Roman ao ser corrigido por Dennis.

Dylan O’Brien, que vinha se equilibrando entre papéis heroicos (Maze Runner, O Assassino) e desajeitados (Amor e Monstros, Bumblebee), tem mais uma oportunidade de encarnar um personagem psicologicamente complexo, assim como aconteceu no bom Os Horrores do Caddo Lake (2024). Na verdade, dois, e ele é tremendamente feliz em conferir personalidades distintas a ambos. Roman, por exemplo, é um sujeito que se encontra perdido após perder uma de suas metades, encarando o luto com uma selvageria que é também seu mecanismo de defesa, enquanto figura máscula, oposta ao irmão. Xucro e inocente, adota maneirismos contidos e um jeito de andar mais enrijecido, um reflexo de sua persona mais fechada, ao passo que Roman é sua antítese. É justamente por vê-lo tão confiante e ser capaz de atos moralmente reprováveis, que Roman se torna, paradoxalmente, mais nobre e não apenas por sua vulnerabilidade.

E Sweeney é inteligente ao utilizar a profundidade (bem desenvolvida) de seus personagens para subverter o clássico modelo no qual seu enredo se encaixa, um clássico de Sundance. Pois, Twinless não é apenas sobre o luto ou camaradagem e tampouco uma comédia romântica. Em última instância, trata-se de uma história sobre a solidão, seja ela provocada por uma tragédia, ou tragicamente modulada pela vida.

Nesse sentido, Dennis é inquestionavelmente quem mais necessita de nossa empatia, por mais controversas que sejam suas atitudes. E vê-lo assistir a uma cópia perfeita do amor de sua vida se entregando a outra paixão (após muito lutar para se aproximar) só não é mais desolador do que a sequência em que precisa interagir com o pivô da traição de Rocky sem dar bandeira.

Eficaz também ao adicionar um comentário sobre a realidade LGBTQIPN+ sem soar panfletário, Twinless ainda tem o luxo de se encerrar com uma cena brilhante que ao mesmo tempo que funciona como parte de uma piada recorrente, amarra com perfeição sua trama principal, resultando numa das experiências mais tocantes, catárticas e, consequentemente, recompensadoras do ano.
NOTA 8,5