'Invocação do Mal 4' encerra franquia com dignidade e muitos sustos
- Guilherme Cândido
- há 13 minutos
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Pode não parecer, mas já se passaram doze anos desde que Invocação do Mal chegou aos cinemas apresentando um até então jovem e promissor James Wan, que não só vingou, como transformou o filme numa das franquias mais lucrativas e consistentes da Warner, antes de partir para Hollywood, onde chegou a dirigir Velozes e Furiosos e Aquaman, dois sucessos bilionários.
Apesar de se manter ativo como produtor e eventualmente como roteirista, Wan viu seu bebê crescer nas mãos de outros profissionais, gerando filmes derivados razoavelmente bem-sucedidos, como Annabelle e A Freira, ambos baseados nos vilões carismáticos que ajudou a cravar no imaginário popular. Já o terceiro longa-metragem solo sobre Ed e Lorraine Warren, Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio, sucumbiu à troca de comando e viu o padrão de qualidade estabelecido pelo malaio cair substancialmente. Portanto, antes de ser anunciado como a suposta última entrada da franquia principal (algo difícil de acreditar, se tratando de Hollywood), assumindo a tarefa de fechar a saga dos Warren com chave de ouro, este The Conjuring: Last Rites (no original) chega aos cinemas do mundo inteiro com a função adicional de tirar o gosto amargo deixado pelo filme anterior.

Para isso, os roteiristas Richard Naing, Ian Goldberg e David Leslie Johnson-McGoldrick (que escreveu o argumento ao lado de James Wan), deixam claro desde o início a intenção de oferecer uma conclusão para a história iniciada no longa de 2013, utilizando o primeiro caso dos Warren para estabelecer uma conexão com o último, aproveitando de lambuja para explorar mais a filha do casal, que pela primeira vez deixa de ser um acessório narrativo. Mais uma vez sustentando o bom e velho “baseado em fatos reais”, a trama também se esbalda com as convenções da cartilha de continuações hollywoodianas. Além de incrementar o núcleo familiar, há mais espíritos malignos, mais eventos sobrenaturais, mais violência e mais subtramas, o que acaba inchando a duração além do que o ritmo já frágil seria capaz de suportar.

As mais de duas horas de projeção são sentidas através da paciência com que Michael Chaves conduz a narrativa. Alçado à fama com o medíocre A Maldição da Chorona, antes de ser cooptado por Wan para dirigir o fraquíssimo A Freira 2, o norte-americano dá espaço demais para sequências que a essa altura do campeonato já não empolgam mais o espectador. Personagens vomitando rios de sangue, brinquedos se mexendo sozinho, sussurros no escuro e vultos são parte do arsenal enferrujado do cineasta, que sofre até mesmo para aproveitar as locações: Sai a casa assustadora do primeiro longa (praticamente um personagem), entram porões mal-assombrados e corredores escurecidos.

O que impede o espectador de cair no sono é a presença sempre magnética de Vera Farmiga e Patrick Wilson, ainda convincentes na pele do casal de exorcistas mais famoso do Terror. No entanto, quem for ao cinema na ânsia de vê-los em ação, deverá esperar dois longos atos focados no desenvolvimento de seus laços familiares. Mas o elenco está afinadíssimo, especialmente Wilson, que ganha a oportunidade de explorar seu timing cômico, fazendo Ed Warren surpreendentemente protagonizar alguns momentos genuinamente hilários, especificamente quando confrontado pela possibilidade de dar sua bênção para o casamento da filha. Mia Tomlinson pode não ser a mais talentosa entre seus colegas - na verdade, nem é tão exigida assim -, mas é hábil o bastante para impedir que Judy torne-se uma daquelas scream girls chatas de galocha, beneficiando-se dos momentos em que divide cena com a experiente Vera Farmiga, ainda firme e forte como o coração de Invocação do Mal.

A franquia, aliás, apresenta mais dois fortes candidatos a ganharem filmes derivados. O primeiro, uma velhinha de sorriso diabólico (literalmente), deve pipocar em muitos pesadelos por aí, mas o destaque vai para a entidade cujo visual meio lenhador, meio metaleiro, renderia uma boa história de origem. O riso distinto, o caminhar lento a passos pesados e o machado o tornam um adversário formidável até mesmo para especialistas como Warren. A dupla representa um sopro de criatividade em meio a set-pieces que variam entre extremos, ora acertando em cheio, ora se esfarelando em construções preguiçosas que se escoram em estratégias batidas (só faltou a clássica lanterna com defeito). Já o clímax recoloca a narrativa nos trilhos, com Michael Chaves apostando tudo numa longa sequência que busca referenciar o que de melhor a quadrilogia ofereceu ao longo dos anos, derrapando apenas em sua conclusão, quando “o poder da família” tira um pouco da credibilidade recém-conquistada ao soar como uma versão sombria e novelesca de “Velozes e Furiosos”.

O que não chega a representar uma decepção (mesmo vindo de um mês recheado de bons títulos de terror), até porque, há vida inteligente entre sustos e arrepios, o que o posiciona imediatamente acima da média do que é produzido em Hollywood hoje em dia, mas é inegável que o maior trunfo deste Invocação do Mal 4: O Último Ritual é oferecer um desfecho digno para seus personagens, amarrando tramas e subtramas, resgatando velhos conhecidos (é importante ter assistido aos filmes anteriores) e relembrando porque a franquia não apenas virou um dos maiores carros-chefes da Warner, mas também uma das mais relevantes marcas do Terror Contemporâneo.
NOTA 6,5
Observação: Há uma cena pós-créditos