CRÍTICA | "Sorry, Baby"
- Guilherme Cândido

- há 17 minutos
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Sorry, Baby é um daqueles filmes feitos sob medida para serem vistos em festivais, quando entramos na sala de projeção sabendo praticamente nada do que veremos a seguir. Trata-se de uma situação única que somente este tipo de evento é capaz de proporcionar. E quando a escolha se mostra acertada, a experiência se assemelha a um nirvana cinéfilo. Foi o que senti assistindo a Close, A Chegada, Cafarnaum e Manchester à Beira-Mar, por exemplo (obrigado Festival do Rio!). Este último, aliás, compartilhando elementos tonais e temáticos com Sorry, Baby, que apesar de não se equiparar às obras-primas supracitadas, é capaz de desferir golpes poderosos nos espectadores emocionalmente desarmados.
Estreando como diretora após uma carreira discreta como atriz (a série Billions é a obra mais famosa de seu currículo), a francesa Eva Victor também assina o roteiro e interpreta a protagonista Agnes, uma estudante de pós-graduação cuja vida é impactada por um evento traumático. A revelação do que aconteceu é o principal ponto de virada da narrativa e causa o choque necessário para recolocar o filme nos trilhos após um início ilusoriamente moroso.

Victor não tem pressa para desenvolver sua história, cujo alicerce é composto pela amizade entre Agnes e Lydie (Naomie Ackie, a Whitney Houston do decepcionante I Wanna Dance With Somebody). Aos poucos descobrimos o porquê da personagem principal continuar morando na cidade onde estudou, ao invés de se mudar para Nova York como a amiga, numa objetiva ilustração de como foi incapaz de seguir em frente.

Seguir em frente, por sua vez, é o grande desafio de Agnes e o filme se fragmenta em capítulos não-lineares para mostrar o que deixou a jovem tão depressiva, como esta era vívida, idealista e alegre na época em que fazia pós-graduação e como lidou com o trauma. O vaivém narrativo, que tinha tudo para se tornar confuso, é trabalhado com cuidado e competência por Victor, que sintetiza os marcos temporais em sua própria composição. Seja pelo corte de cabelo, pela postura ou pela energia (ou ausência de), é a atriz quem assume a função de manter a plateia ao seu lado enquanto desvenda os segredos de Agnes.

Por se tratar de um debute, surpreende a segurança da parisiense, que equilibra humor e drama com naturalidade, salpicando momentos nos quais o calor humano corresponde ao alívio que todos nós precisamos quando a carga dramática atinge seu pico. E quando o mistério é finalmente solucionado, é sua coragem que merece aplausos de pé, pois consegue trabalhar um tema incômodo de formas que suavizam o discurso sem desviar da seriedade exigida. Tudo isso numa realidade em que até uma simples palavra normalmente elogiosa pode se tornar um gatilho.

Nesse aspecto, o papel de Lucas Hedges (outro ponto em comum com Manchester à Beira-Mar) é crucial justamente por impedir uma generalização na qual seria fácil resvalar. Além de trazer gentileza ao desajeitado Gavin, Hedges simboliza o futuro da moça, ainda intacto. A esperança de que, após exorcizar seus demônios, há uma nova etapa a ser vivida. Sem saber, o vizinho torna-se um vetor de superação, ao mesmo tempo em que surge como o outro lado de uma moeda aparentemente sem espaço para bondade. É onde entra o subestimado John Carroll Lynch (Os 7 de Chicago), protagonizando uma das sequências mais sensíveis do longa ao encarnar um personagem que, ao seu próprio modo, abre os olhos de Agnes para a possibilidade de uma vida feliz.

Sorry, Baby faz jus aos elogios que recebeu em Cannes, merecendo também o prêmio de Melhor Roteiro em Sundance e posicionando Eva Victor como uma nova voz a ser ouvida.
NOTA 8









