Projeto James Bond #05: Com 007 Só Se Vive Duas Vezes (1967)
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  • Foto do escritorGuilherme Cândido

Projeto James Bond #05: Com 007 Só Se Vive Duas Vezes (1967)

Com 007 Só Se Vive Duas Vezes (You Only Live Twice, 1967)


Chegando à sua quinta aventura (a última de forma consecutiva) na pele do agente secreto mais famoso do Cinema, Sean Connery segue em plena forma, mantendo o alto padrão de suas performances anteriores e adicionando uma bem-vinda carga física, convencendo em sequências de correria e combate corpo-a-corpo, o que aliás representa o ponto alto da projeção, com coreografias irrepreensíveis e que fazem de Com 007 Só Se Vive Duas Vezes uma das produções mais assertivas de toda a série no campo da ação.


Após quatro histórias alternando entre Europa e Estados Unidos, a produção faz um movimento mais radical dessa vez ao enviar James Bond para o Japão, uma atitude claramente influenciada pela intenção de injetar alguma novidade na franquia. O medo de ver a fórmula da série fadigar o público foi tamanho, que os produtores resolveram trazer um novo roteirista, apostando no galês Roald Dahl, célebre romancista que viria a ganhar fama mundial com as adaptações de suas obras, especialmente Matilda e A Fantástica Fábrica de Chocolate.

É uma pena que a grande novidade da vez seja tão superficialmente aproveitada pelo roteiro, que prefere reciclar estereótipos ao invés de criar situações que permitam a cultura Japonesa ser incorporada canonicamente a James Bond. Assim que o agente chega a Tóquio, não demora até que ele compareça a uma luta de sumô, por exemplo, e seu aliado local, claro, possui uma escola de treinamento ninja. Em contrapartida, a produção faz bom uso das locações, presenteando o espectador com imagens estonteantes das belezas locais. A fotografia, vale destacar, oferece alguns dos enquadramentos mais elegantes da série, com planos realmente pictóricos. O orçamento mais robusto também permitiu o designer de produção Ken Adam construir cenários extraordinários, fazendo valer a indicação ao BAFTA de melhor direção de arte graças aos espaços grandiosos e bem concebidos.

No entanto, conforme a trama avança, ela vai se afastando das raízes realistas cultivadas pelos três primeiros filmes e Dahl pesa a mão ao apelar para elementos tão absurdos que fazem o filme saltar do gênero “espionagem” para o de ficção científica. É possível tolerar sequências de ação subaquáticas, carros improvavelmente equipados, maletas que funcionam como canivetes suíços e até uma mochila a jato, mas ver a base da SPECTRE localizada no interior de um vulcão e uma nave engolindo outra em pleno espaço sideral fogem completamente da sobriedade demonstrada pelos três primeiros filmes.

E o pior é que tais disparates surgem de formas artificiais, pois é facilmente perceptível que determinadas sequências foram concebidas sob medida para que cada dispositivo possa ser aproveitado. Quando vemos Q apresentar James Bond a um helicóptero portátil e fortemente armado, por exemplo, explicando cada uma de suas funcionalidades, já sabemos que todas serão úteis em algum momento, mas se os filmes anteriores foram hábeis em esconder essa arquitetura cinematográfica, dessa vez fica escancarado quando James Bond se beneficiará dos artifícios à sua disposição. Há um inimigo para cada especialidade, afinal, cabendo ao espião apenas decidir se o lança-chamas será o primeiro a ser utilizado ou se tal honraria caberá aos mísseis.

Isso não impede Com 007 Só Se Vive Duas Vezes de ser extremamente divertido e a escala épica da ação, que veste bem a roupagem de blockbuster, mostra-se tão tola quanto envolvente. Não importa que uma granada se materializa nas mãos de Bond durante o clímax, o que vale é saborear os efeitos de sua explosão, mandando inimigos pelos ares. E são tantas explosões que me pergunto se esse filme serviu de inspiração para o diretor Michael Bay.

Se tecnicamente o filme merece elogios, os elementos clássicos da série surgem na mesma medida. A química de Akiko Wakabayashi com Sean Connery, vale ressaltar, faz de Aki uma excelente adição ao cânone das Bond Girls, com uma forte ligação que estimula nossa torcida para que os dois fiquem juntos, apesar de já conhecermos James Bond e a facilidade com que descarta as mulheres com quem se envolve. Depois de Pussy Galore, Aki surge como uma bela adversária da Honey Ryder de Ursula Andress na briga pelo segundo lugar no ranking de Bond Girls.

Já em relação à música-tema da vez, a suavidade da voz de Nancy Sinatra opõe-se à grandiosidade de Shirley Bassey, intérprete da mais icônica das canções da série (“Goldfinger”), mas quando combinada a uma pegajosa melodia tocada por guitarras elétricas, o resultado beira o irresistível. Da mesma forma, o compositor John Barry, agora com a obrigação de incorporar elementos da cultura musical japonesa, oferece um de seus trabalhos mais irregulares e a ideia de reciclar temas do filme anterior é um sinal claro de sua falta de inspiração. Além disso, a produção escolhe um péssimo momento para finalmente tocar o clássico tema de James Bond, que acaba soterrado na mixagem por sons de helicópteros e outros efeitos sonoros oriundos de uma batalha aérea.

Enquanto isso, Blofeld finalmente dá as caras, surgindo na pele do britânico Donald Pleasance como o vilão mais marcante entre todos os cinco filmes. Cumprindo a expectativa criada desde que apareceu pela primeira vez como a mão que acariciava um gato, Blofeld aproveita seus 20 minutos de tela para desafiar Bond ostentando um visual presumivelmente intimidador (com uma das cicatrizes mais famosas do Cinema). Com um modo cuidadoso ao falar e olhos constantemente arregalados, Ernst Stavro Blofeld é o típico psicopata megalomaníaco que serve perfeitamente como o líder que se espera da SPECTRE, apresentando potencial de sobra para os futuros filmes.

Ao final, Com 007 Só Se Vive Duas Vezes se posiciona como um capítulo mediano dentro da franquia, compensando parcialmente os equívocos de seu roteiro com bastante pirotecnia, um luxo quando comparado ao início modesto de James Bond.


NOTA 6,5

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