Caça-Fantasmas: Como o modelo Disney afeta a nova fase da franquia
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  • Foto do escritorGuilherme Cândido

Caça-Fantasmas: Como o modelo Disney afeta a nova fase da franquia


Que o dinheiro, o lucro, sempre movimentou as engrenagens hollywoodianas, todo mundo já sabe. Mas a pasteurização da maior indústria cinematográfica do planeta, embora não seja exatamente um advento do nosso tempo (longe disso), tem trilhado um caminho curioso de uns anos para cá. Assim como aconteceu com a Warner quando o britânico Christopher Nolan (recém-oscarizado por Oppenheimer) sacudiu o mundo ao trazer sua abordagem “sombria e realista” para o Batman (influenciando todo um subgênero e pautando o sucesso junto ao público), agora é a vez da Disney servir de espelho para o business hollywoodiano. Mas se a revolução perpetrada por Nolan foi algo extremamente benéfico (ao menos por um período), o que estamos vivenciando é completamente distinto.

O estúdio do Mickey é a bola da vez justamente por ter construído um caso de sucesso, não exatamente em termos narrativos (como o exemplo da Warner), mas sim através de um modelo de negócios. Repare como a Disney vem intensificando a produção de versões cinematográficas das atrações de seus parques. Ou você acha que foi um mero acaso o lançamento de Jungle Cruise em 2021, com Dwayne ‘The Rock’ Johnson tentando ressuscitar uma atração que nunca foi popular no Magic Kingdom? Mais recentemente, a Mansão Mal-Assombrada, do mesmo Magic Kingdom, sofreu uma série de modificações para se adequar à sua nova versão cinematográfica, que chegou aos cinemas em menos de um ano. E não vai parar por aí, pois a franquia TRON que foi parar na geladeira após a recepção morna do filme de 2009, vai ganhar um novo capítulo, agora estrelado por Jared Leto e programado para ganhar as telonas na próxima temporada. Coincidentemente, uma montanha-russa com a temática de TRON foi inaugurada no ano passado (adivinha em qual parque?). Será coincidência mesmo?

Acontece que de uns anos para cá, com raras exceções, os ingressos vendidos são apenas a primeira etapa do grande modelo de negócio que impera entre os conglomerados de mídia norte-americanos (os donos dos centenários estúdios). Não esquecer também que atualmente, os cinemas faturam mais com a bomboniere do que propriamente com os tickets. O fato de o remake de Mansão Mal-Assombrada ter patinado nas bilheterias importa menos do que a difusão de sua marca em escala global. Quando alguém for visitar o famigerado “Reino Mágico”, a atração fantasmagórica já terá feito seu trabalho. Se dá certo ($$$), podemos condenar os executivos da Disney? Ora, Piratas do Caribe, uma das atrações mais antigas idealizadas pelo gênio Walt Disney, se transformou numa máquina de dinheiro, com cinco filmes arrecadando, juntos, mais de 4.5 bilhões de dólares. Isso para ficarmos só no raciocínio do licenciamento, pois a Disney ainda tem filmes da Marvel e adaptações de seus próprios clássicos animados para engrossar o faturamento.

Essa é exatamente a estratégia almejada por boa parte dos estúdios concorrentes. A Universal foi uma das primeiras ‘influenciadas’, arrecadando seus bilhões com o desgastado reboot da franquia Jurassic Park (agora Jurassic World). A Columbia, agora sob as garras da Sony, até tentou resistir, perdendo dinheiro ao tentar replicar outro modelo da Disney (o famigerado universo B do Homem-Aranha), mas o inevitável aconteceu. Criada em 1984, a franquia Caça-Fantasmas, idealizada pelos comediantes Dan Aykroyd e Harold Ramis, e ancorada no charme de Bill Murray, agora é também mais um produto dessa Hollywood pasteurizada, onde tudo é moldado em prol do dinheiro. Para a mudança não passar desapercebida, até o título mudou, pois Ghostbusters é uma marca internacional, afinal. É triste, mas também é reflexo dos nossos tempos.

Fenômeno avassalador de público e abraçado pela crítica, o primeiro longa-metragem, que ainda contou com Sigourney Weaver (estrela de Alien) no elenco, não demorou a render uma sequência e o potencial da marca possibilitou o estúdio a lucrar, inclusive, com a venda de bonecos, lancheiras, jogos eletrônicos e até direitos para obras televisivas e quadrinhos, o tipo de paraíso capitalista antevisto por George Lucas com o inigualável colosso comercial Star Wars. É óbvio que Caça-Fantasmas não pararia no segundo filme, mesmo diante da relutância de sua estrela maior (Murray, evidentemente). Uma versão feminina, protagonizada pela nata da comédia norte-americana (assim como o projeto original, diga-se), chegou a ser produzida, mas acabou impiedosamente destroçada pelos fãs. Ivan Reitman, diretor e produtor dos dois primeiros, resolveu botar a mão na massa e intensificar as conversas para reunir os velhos amigos. Infelizmente, não apenas Harold Ramis, co-criador e membro do elenco original, faleceu (em 2014), como o mesmo aconteceu com Reitman (em 2022), afetando a produção de uma continuação direta, até que Jason, filho de Ivan e também cineasta, resolveu tomar as rédeas da menina dos olhos de seu pai. Quatro vezes indicado ao Oscar (por Juno e Amor Sem Escalas), Jason Reitman construiu uma filmografia de histórias centradas em dilemas familiares. Geralmente pautado pelo humor, seu estilo de escrita se destaca mesmo é pelo coração, diferencial que o fez despontar.

E foi justamente essa abordagem que ele trouxe para Ghostbusters: Mais Além, mistura de reboot e continuação que cumpriu com louvor não apenas a missão de concluir o trabalho do pai, mas também homenagear Harold Ramis. O resultado agradou o estúdio, pois uniu o elenco original a novos rostos, num entrelaçamento de passado e futuro abraçado também pelos fãs. O tão em voga fator nostalgia, claro, foi determinante, mas o roteiro oferecia um ‘algo mais’ que nem os filmes originais se preocuparam em entregar: coração. Sim, Mais Além beneficiou-se com a assinatura de Jason Reitman, sendo capaz de emocionar e divertir em iguais medidas. Poderia ser o final perfeito de uma série que marcou época e divertiu múltiplas gerações, mas era óbvio que uma marca tão valiosa não seria descartada em Hollywood e foi dado o sinal verde para a produção de mais uma continuação.

O resultado dessa nova empreitada eu te conto na crítica de Ghostbusters: Apocalipse de Gelo, que estreia nos cinemas brasileiros neste final de semana. Clique aqui para ler.


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