"Casamento em Família" desperdiça elenco trama pretensiosa
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  • Foto do escritorGuilherme Cândido

"Casamento em Família" desperdiça elenco trama pretensiosa


Casamento em Família é o tipo de projeto que surge a atores veteranos quando Hollywood já não se mostra tão hospitaleira quanto antes. A partir do momento em que as rugas ficam mais difíceis de serem escondidas, as portas começam a se fechar e cabe às antigas estrelas se adaptarem a papéis em produções periféricas, tentando ocupar espaço numa indústria feita por e para jovens. Pensando nisso, o diretor/roteirista Michael Jacobs conseguiu reunir algumas das maiores estrelas da década de 90, mas que atualmente batalham para permanecerem em atividade.


Como roteirista, ele construiu uma carreira de sucesso na TV (Família Dinossauros e O Mundo é dos Jovens estão entre suas criações), porém sua única experiência como diretor aconteceu quando comandou um episódio de Pais Demais, também de sua autoria. Isso explica sua imperícia à frente de Casamento em Família, filme que ele adapta de sua própria peça de teatro, com o excesso de establishing shots refletindo os anos dedicados às séries televisivas, assim como aquelas tomadas aéreas que enchem a tela antes de partirmos para outro segmento.

E ‘segmento’ é um termo que cai como uma luva para Maybe I Do (no original), pois Jacobs se perde ao transformar sua peça num longa-metragem, resultando num aglomerado de cenas filmadas como se fossem esquetes, denunciando também a falta de uma estrutura clara. Mas como estruturar um filme sem uma história? Os personagens vêm e vão sem que o roteiro se aprofunde sobre eles, são figuras unidimensionais que não aparentam ter uma vida fora daquele espaço cênico, pois não sabemos com o que trabalham (ou se trabalham), o que gostam de fazer ou o do que não gostam de participar. Se acabamos por simpatizarmos com alguns deles, isso se deve ao fato de serem interpretados por atores talentosos e carismáticos.

Além disso, Jacobs posiciona o elenco em espaços tão limitados (perceba a restrição de figurantes) que por vezes gera a impressão de estar conduzindo uma apresentação teatral, tal qual o material de origem. Para piorar, os personagens se entregam a longos monólogos, esticando cenas com a certeza de estarem filosofando sobre temas profundos como amor, fidelidade, tempo e envelhecimento, quando na verdade só divagam orbitando a superficialidade, como se o roteirista quisesse emular o estilo de Woody Allen, mas sem a mesma inspiração.

Incorporando essa influência do mestre de obras-primas como A Rosa Púrpura do Cairo, Meia-Noite em Paris e Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, William H. Macy é aquele que se sai melhor, justamente por surgir como como alguém que parece saído diretamente de uma das produções supracitadas: dotado de um humor autodepreciativo, Sam está experimentando uma tardia crise de meia-idade assim como quase todos os demais personagens. A diferença é que ele está acomodado no marasmo no qual se encontra seu casamento e já não faz mais questão de esconder isso. Deprimido a ponto de ser flagrado chorando sozinho no cinema, ele enxerga Grace (Keaton) como a válvula de escape perfeita, sem imaginar que ela também está desiludida.

Ela, no entanto, é uma caricatura da típica mulher madura conservadora, servindo à trama basicamente para levantar questões sobre a culpa cristã. Felizmente, é vivida por uma Diane Keaton hábil em transformá-la ao menos numa figura simpática, trazendo uma inocência que a torna adorável aos olhos do público, ao passo que Richard Gere conforma-se com o papel de garanhão que passou décadas interpretando. Fechando o elenco principal, Susan Sarandon (par romântico de Gere no divertido Dança Comigo?) é aquela que parece estar se divertindo mais, ao fazer de Monica uma mulher dominadora e extravagante.

Como não poderia deixar de ser, os melhores momentos da produção residem nas interações entre eles, quando o filme se desprende de uma vez por todas da realidade para envolvê-los em situações absurdas, sem a menor preocupação em desenvolver suas reflexões (ao menos por boa parte do tempo). São raros instantes em que o realizador se permite utilizar artifícios mais simples, lúdicos até, para alcançar efeitos cômicos mais honestos e diretos, como o entrelaçamento à la Amor a Toda Prova.

No final das contas, Casamento em Família é um filme que, se não consegue arrancar as gargalhadas que almeja enquanto comédia, ao menos provoca alguns sorrisos. Não em função de seu texto pretensioso, mas graças ao seu carismático elenco, resultando numa experiência agradável e inofensiva, como um passeio de 88 minutos ao lado de velhos amigos que não vemos com frequência.


NOTA 5

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