De dublê a cineasta: Um breve panorama da carreira do diretor de Trem-Bala
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  • Foto do escritorGuilherme Cândido

De dublê a cineasta: Um breve panorama da carreira do diretor de Trem-Bala


Chad Stahelski e David Leitch construíram uma carreira de sucesso como dublês de astros hollywoodianos. Chad era quem fazia as sequências de ação de Keanu Reeves, por exemplo, ao passo que Leitch assumia o risco por Brad Pitt. O prestígio estava lá em cima, mas com a idade avançando, a dupla acabou por se aventurar em outras searas, foi quando resolveu dirigir seu próprio filme de ação. Surgia John Wick: De Volta ao Jogo, produção marcada por uma renovação do star power de Keanu Reeves (olha como o mundo dá voltas), presenteando-o com uma nova franquia num momento de baixa na carreira, mas também pela altíssima qualidade da ação, especialidade dos, agora, cineastas. As elaboradas coreografias eram valorizadas por um trabalho de câmera preciso e uma montagem complexa, com poucos cortes.

Assim como aconteceu com Reeves, a carreira de Stahelski e Leitch deu uma guinada brusca, colocando os ex-dublês no radar dos grandes estúdios. Mas enquanto Stahelski preferia ficar com John Wick e explorar a recém-criada franquia, Leitch optou por percorrer outros caminhos e apostar em novos projetos, levando sua expertise para a adaptação de uma cultuada revista em quadrinhos chamada Atômica, atraindo nomes como Charlize Theron e James McAvoy. Com Theron no papel principal, Leitch construiu uma espécie de “versão feminina de John Wick”, mas com um toque maior de realismo não apenas nos combates corporais, pois sua ideia era mostrar assassinos mais humanizados.

Os hematomas que rabiscavam o corpo escultural da atriz sul-africana era sentidos por sua personagem, que frequentemente surgia sem fôlego, combalida ou nitidamente fadigada. Os socos ganhavam um impacto ainda maior, já que o espectador percebia que havia consequência. Quando a Atômica se atracava com um inimigo, trocando golpes frenéticos por longos minutos, ela surgia exausta, machucada e demorava a se recuperar. O dia seguinte era marcado por manchas roxas na pele e um andar trôpego típico de quem batalhou para estar viva naquele momento.

Depois dessa empreitada, porém, enquanto Stahelski seguia a bordo da trilogia John Wick, David Leitch engatava outro projeto, abraçando a ideia de comandar mais uma adaptação de HQ. Após a saída de Tim Miller, Deadpool 2 precisava de outro diretor que soubesse conduzir a ação espremida no balé caótico de piadas autodepreciativas e referenciais liderado por Ryan Reynolds, cujo tom irreverente equilibrou-se perfeitamente com o estilo de direção de Leitch, capaz de construir algumas ótimas sequências de ação sem ofuscar o astro canadense.

Pouco mais de um ano depois, o cineasta toparia entrar para outra franquia, assinando contrato para comandar Hobbs & Shaw, derivado da marca Velozes e Furiosos que focaria apenas nos personagens periféricos presentes no título. Interpretados por figuras não só extremamente carismáticas como The Rock e Jason Statham, mas que também eram ícones da ação contemporânea, os personagens caíram como uma luva para Leitch, que tirou de letra a tarefa ao trazer credibilidade para as absurdas e bem elaboradas sequências de ação enquanto o roteiro também fazia sua parte ao investir na autoironia para desconstruir a sisudez entranhada na franquia principal. Mal sabia ele que esse tom irreverente aliado à ação de qualidade resultaria numa combinação que definiria para sempre sua carreira como cineasta.

Pois três anos depois, Trem-Bala chega aos cinemas mostrando que David Leitch está mais do que confortável no comando de uma história que transita entre o humor e a adrenalina com impressionante desenvoltura. Com um elenco composto por estrelas, incluindo Brad Pitt, de quem foi dublê, e acompanhado de algumas participações especiais que surpreenderão o público, Trem-Bala é fruto do que o cinema de David Leitch tem de melhor, como um diamante devidamente lapidado após anos de aperfeiçoamento. Hoje, o especialista em lutas coreografadas assina seu mais novo diploma: o de especialista em comédias de ação (ou ação cômica?). Seu nome já está pronto para ser consolidado na indústria, cabe ao público endossá-lo através das bilheterias.

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