Documentário "Rio do Medo" expõe escalada da violência no Rio de Janeiro
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  • Foto do escritorGuilherme Cândido

Documentário "Rio do Medo" expõe escalada da violência no Rio de Janeiro

Não, Rio do Medo não é um filme de terror. É um documentário sobre a realidade da cidade do Rio. E que poderia virar um filme de terror sem grandes dificuldades…


É estatisticamente comprovado que a cidade do Rio de Janeiro é uma das mais violentas do Brasil. E uma das que mais tem policiais militares mortos, com 134 baixas somente no ano de 2017. Enquanto os PMs seguem num combate aparentemente sem fim contra o crime, o próprio sistema – que deveria prestar auxílio – faz questão de dificultar a vida dos oficiais, seja por intermédio de um estado falido como o do Rio (que já não possui recursos suficientes para conter a escalada da criminalidade) ou através da própria corrupção entranhada no povo brasileiro. De um jeito ou de outro, são os bandidos que parecem estar vencendo essa batalha e os motivos por trás de todos esses dados são discutidos neste Rio do Medo, documentário dirigido por Ernesto Rodrigues e que tenta colocar o dedo na ferida da questão social carioca, dando voz aos próprios policiais militares.


Fruto de uma parceria entre Globo Filmes, Globo News e Canal Brasil, Rio do Medo logo de cara bombardeia o espectador com informações alarmantes sobre a situação crítica da Segurança Pública do Rio de Janeiro, que há muito tempo já se mostra um ponto fora da curva no cenário nacional. Mergulhado num horror cotidiano que assemelha-se, e muito, a verdadeiras guerras civis (e a taxa de mortandade supera muitas ao redor do mundo), o Rio de Janeiro é uma cidade carente de heróis e dominada pelos bandidos.


Isso, em parte, explica o fato de uma criança ter pedido uma festa de aniversário com o tema do BOPE (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar), imortalizado pelo longa-metragem Tropa de Elite, de José Padilha. Esse absurdo não só escancara o problema supracitado, como evidencia um outro, bastante discutido durante a projeção: afinal, o Capitão Nascimento é, de fato, um herói? Não somente o caráter do personagem é analisado como sua ética também é posta em xeque, pois dar tapa na cara de aspirantes a policiais e torturar suspeitos são apenas alguns dos elementos que compõem o modus operandi do Batalhão, conhecido pela brutalidade de suas ações.


Para discutir esses e outros temas, o cineasta Ernesto Rodrigues aponta sua câmera para os verdadeiros alvos: os policiais militares, sejam eles da ativa ou da reserva. O grande problema dessa abordagem, vale ressaltar, é a tal da imparcialidade aparentemente buscada por Rodrigues, o que o obriga a investir numa dinâmica de contradições que, se funciona num primeiro momento, acaba soando como uma promessa não cumprida. Sem um posicionamento majoritário, a discussão tende a limitar-se, como num interminável exercício que busca atacar, mas reconciliar logo na resposta seguinte, seguindo uma complementação que só alcança alguma personalidade quando o cineasta finalmente demonstra uma inclinação política, sugestionando através da trilha sonora e da montagem uma posição simpática ao modelo de Leonel Brizola e outra mais contundente ao de Moreira Franco.


No decorrer da projeção, vale ressaltar, Rio do Medo parece não querer esconder sua natureza jornalística, investindo numa linguagem que cairá como uma luva na grade de programação da GloboNews, destacando-se porém, ao mostrar disposição em acompanhar a ação policial de perto, colocando a câmera próxima dos policiais e conferindo um bem-vindo ar de ‘jornalismo verdade’, ainda que permita aqui e ali um comentário parcial por parte dos militares.


Por falar nisso, os entrevistados também oferecem bom material, com destaque para frases impactantes como “o policial não atua para estabelecer o Paraíso, e, sim, para impedir que o Inferno se instale” e “policial é como uma criança: longe dá saudade, mas perto incomoda”. Criticando fortemente a falta de amparo por parte do Governo, a produção ganha corpo conforme aproxima-se de seu desfecho, quando deixa de lado a dinâmica de “atacar/conciliar” para adotar um tom ácido que quase soa como um apelo, apresentando dados impressionantes sobre o número de policiais mortos de folga (que supera o de oficiais em serviço), e aqueles que sofrem danos psicológicos, mas que não possuem acompanhamento adequado.


No final das contas, Rio do Medo é um documentário relevante pelas informações coletadas e importante para aqueles alheios aos problemas cariocas, apresentando uma realidade implacável, que ganhará muito mais repercussão quando for parar na Televisão, seu veículo de exibição mais adequado.


NOTA 7

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