Documentário "The Cleaners" detalha a moderação de conteúdo na internet
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  • Foto do escritorGuilherme Cândido

Documentário "The Cleaners" detalha a moderação de conteúdo na internet


Atualmente, mais de 3 bilhões de pessoas acessam a internet, consumindo e produzindo conteúdo através das mídias sociais que incluem Twitter, YouTube e, claro, o Facebook. Ferramentas quase indispensáveis no cotidiano da sociedade, os três fazem parte de um fenômeno sem precedentes, graças à globalização e à tecnologia. Mas tamanha facilidade de acesso a informações pode representar uma faca de dois gumes. Partindo do princípio de que nem tudo que é postado permanece eternamente postado, há os chamados “Cleaners”, profissionais contratados como moderadores de conteúdo ou, a grosso modo, os responsáveis pela exclusão de material da internet. Os diretores Hans Block e Moritz Riesewick ouviram alguns desses Cleaners, que detalham o cotidiano desse curioso trabalho.


À primeira vista, Block e Riesewick parecem empolgados com o material apurado, atirando orgulhosamente diversos dados informativos no colo do público, com o trunfo de terem obtido autorização para publicar trechos originais dos e-mails trocados com os Cleaners. “Sem nós, a internet seria uma bagunça”, comenta um desses profissionais, que prefere não ser identificado. E seria mesmo, mas que critérios são observados antes de determinar a exclusão de algo?


Essa área cinzenta, como mostrado através de imagens reais dos depoimentos de figuras poderosas do Facebook e do Google, está longe de alcançar unanimidade. Afinal, os Cleaners são pessoas comuns que passam o dia inteiro assistindo a vídeos e acessando imagens com o objetivo de bater a cota de 25 mil arquivos até o final do expediente. O Facebook e o Google até negam que possuam moderadores de conteúdo, e legalmente não possuem mesmo, já que eles são funcionários de uma empresa terceirizada localizada nas Filipinas. Que essa empresa esteja ligada aos dois gigantes da internet, é apenas um detalhe.


Com dados acachapantes capazes de provocar um choque de realidade no espectador, The Cleaners mostra os dois lados da moeda, dando voz àqueles que excluem e também aos responsáveis pelo material excluído. Assim, alguém que faz a cobertura fotográfica de guerras, por exemplo, é prejudicado pelo serviço, que julga inapropriado o material divulgado. A moça que ficou famosa por ter pintado uma caricatura do presidente estadunidense Donald Trump nu e com um pênis minúsculo, sente-se censurada, como se sua obra não fosse reconhecida por seu valor artístico.


É um debate interessante, mas que fica prejudicado pela produção não ter conseguido declarações do Google e do Facebook, fazendo com que fiquemos sem a versão de um lado da história. O roteiro até tenta contornar esse problema, trazendo a maior rede social para o centro do debate, mas no afã de demonizar a empresa de Mark Zuckerberg, distrai-se e foge da questão principal, escanteando os Cleaners, que por sua vez, tentam vender o peixe deles com frases de impacto como “somos como policiais, protegemos os usuários”, deixando para o espectador a reflexão sobre o ponto de vista.


A verdade é que toda a questão é subjetiva demais. Inicialmente é possível pensar: Quem são eles para decidirem o que eu devo ou não ver? E é uma indagação pertinente, pois há características culturais, pessoais e até éticas que determinam essa situação. O resultado é rico e tende a provocar calorosas discussões após a sessão. Porém, voltando à questão dos Cleaners, é preciso aplaudir a iniciativa da produção em mostrar os efeitos colaterais do trabalho de moderação.


Uma moderadora, por exemplo, de tanto assistir vídeos pornográficos, acaba sonhando em demasia com pênis de todas as formas e o moderador de conteúdo terrorista vira um verdadeiro expert em decapitações, sendo capaz de determinar a lâmina e até criticar o corte que é feito. A coisa fica séria, porém, quando um funcionário não consegue lidar com o que vê, o que resulta no suicídio de um dos moderadores, depois de vários pedidos de transferência negados.


Óbvio em sua montagem, que não se envergonha de incluir cenas de moderadores ‘limpando’ roupas ou, pior, mostrando uma batalha de paintball apenas para ilustrar o argumento de um entrevistado que se compara a um sniper à procura do conteúdo a ser deletado, The Cleaners é um documentário que esbanja informação sobre um assunto que deve ser do interesse do mundo inteiro, capturando o histórico momento onde o Twitter de um senador aparece logo abaixo de seu nome durante um julgamento ao vivo, ilustrando o crescente impacto das redes sociais nas nossas vidas.


Faltou apenas um moderador para manter o foco no assunto principal…


NOTA 7

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