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Emocionante e cheio de carisma, "Elio" é mais um acerto da Pixar

  • Foto do escritor: Guilherme Cândido
    Guilherme Cândido
  • 18 de jun.
  • 3 min de leitura

Muitos de nós já sonhamos com o espaço. Mesmo depois de a infância ficar para trás, o fascínio pelo universo e seus segredos tende a perdurar, mas não com o nível de obsessão experimentado por Elio, personagem-título da mais nova animação Disney/Pixar. No entanto, o motivo que leva o menino a querer tão vorazmente desbravar as estrelas, ao ponto de implorar para ser abduzido por alienígenas, não está exatamente nos céus. 

 

Como um legítimo personagem Disney, Elio perdeu os pais tragicamente, precisando ir morar com Olga (voz original da recém-oscarizada Zoe Saldaña), tia que trabalha num observatório militar e com quem tem dificuldades para se relacionar. Ele também não possui amigos, pois além de passar a maior parte do tempo tentando encontrar vida extraterrestre, é encarado com estranheza pelas outras crianças de sua idade. A sacada do filme, porém, não está em realizar o sonho do jovem protagonista, mas na forma com que o faz, dando uma resposta  simultaneamente íntima e antropológica a um dos maiores questionamentos da humanidade: estamos sozinhos no Universo? 

Elio é incapaz de enxergar que a resposta para tal pergunta não está no espaço, mas bem à sua frente e não é à toa que o menino veste um tapa-olho durante a maior parte da projeção (quem o tira é justamente sua tia, no momento de maior emoção da história). Portanto, o roteiro escrito a seis mãos, é mais do que uma aventura espacial feita para crianças, mas um conto universal sobre pertencimento e conexão humana narrado com honestidade e sem rompantes megalomaníacos. E aí reside outro mérito da produção, que não almeja alcançar o nível de clássicos da Pixar, como Toy Story (1995), Ratatouille (2007)  e Wall•E (2008), embora carregue um elemento ou outro de cada um destes.

A humildade de Elio, um filme que busca (e encontra) a beleza no simples não é uma fraqueza, mas seu maior trunfo. Basta olharmos para seu motor narrativo: a amizade entre o protagonista e Glordon, uma simpática criança na forma de uma lesma extraterrestre. Assim como Elio, Glordon sente-se deslocado, condenado a seguir uma tradição com a qual não compactua, mas aceita para agradar o pai Grigon, o grande vilão da história. Juntos, eles descobrirão que a amizade pode ser exatamente a conexão que os faltava. Um beat manjado, convenhamos, ainda mais se tratando de um projeto da casa do Mickey, mas que tem seu charme, assim como um arroz com feijão bem temperado e feito com amor.

O que também é manjado, mas passa longe de ser um demérito, é o visual do longa-metragem, tão deslumbrante quanto os maiores acertos da Pixar. O Comuniverso, por exemplo, é um ambiente de cores vibrantes povoado por alienígenas das mais diversas formas. Ao contrário de Elementos, que em 2023 não foi capaz de atingir seu enorme potencial, Elio parte de uma premissa simples para oferecer visuais de encher os olhos. O computador líquido, o chanceler com uma espécie de nariz cuja sombra se assemelha a um bigode e o alien que lê mentes são apenas algumas das ótimas ideias apresentadas.

Por outro lado, como nem tudo são flores, é uma pena que os roteiristas tenham achado necessário incluir uma narração durante os segundos finais, como se a moral da história, palatável para todas as idades, precisasse ser mastigada e transformada num invasivo voice over. A trilha sonora de Rob Simonsen (Deadpool & Wolverine), com seus acordes melódicos, remete a Luca (2021), outra ótima animação Disney/Pixar sobre o poder da amizade como ferramenta para encontrar pertencimento.

Mas, no fim, o que ficará na mente dos espectadores é essa carta de amor atemporal  à beleza da conexão humana, escrita com carinho e muito carisma por artistas especialistas na arte de intercalar lágrimas e risos. Depois de uma sequência irregular, a Pixar enfim se estabiliza; ironicamente com um filme menor. Mas não pior.


NOTA 7,5


Observação: Há uma sequência durante os créditos finais.

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