Festival de Cinema Europeu Imovision #7: "Você é o Universo"
- Guilherme Cândido
- há 5 horas
- 3 min de leitura
Você é o Universo
(U Are The Universe, Ucrânia)

Na esteira do sucesso de produções estadunidenses como Lunar (2009), Gravidade (2013), Perdido em Marte (2015) e O Astronauta (2024), o cineasta estreante Pavlo Ostrikov resolve contar do seu jeito a história de alguém isolado na vastidão do espaço. Após uma montagem sucinta que contextualiza o futuro indeterminado da história de forma a driblar a exposição, ficamos sabendo que o planeta sofre com o acúmulo de resíduos nucleares e a solução é descartá-los nos confins do universo, mais precisamente Calisto, uma das 95 luas de Júpiter. Para capitanear essa missão, o escolhido é o ucraniano Andriy Melnyk (Volodymyr Kravchuk), encarregado de pilotar a desgastada espaçonave Obriy numa viagem de quatro anos ao lado do robô Maxim (voz de Leonid Popadko).
Poderia ser uma experiência excruciante para qualquer pessoa, mas não para um misantropo rabugento como Andriy, que curte cada segundo de silêncio enquanto aprecia a solitude. Por isso, quando recebe a notícia de que a Terra explodiu misteriosamente, ele não hesita em comemorar, gastando os recursos calculadamente administrados por Maxim. Quando finalmente se dá conta da dramaticidade da situação e a proximidade do próprio fim, o cosmonauta se pega depressivo e sem propósito, até que uma mensagem é recebida de uma estação espacial na órbita de Saturno. A meteorologista francesa Catherine Boucart (voz de Alexia Depicker) lhe tira o título de último ser humano vivo e se apresenta como sua última chance de estabelecer algum tipo de conexão humana.

Não bastasse o esgotamento de sua premissa, Ostrikov ainda traz para si comparações com obras largamente superiores, seja ao tocar o tema de 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968) numa gag, ou nas semelhanças entre Maxim e o T.A.R.S. de Interestelar (2014) - incluindo uma piada envolvendo seu nível de humor - , o cineasta ainda mistura ecos de Solaris (1972) e até mesmo Ela (2013), ao fazer seu protagonista, essencialmente, se apaixonar por uma voz.

O tom confuso, misturando comédia e drama em doses pouco equilibradas, é amenizado pela presença carismática e humana de Kravchuk, hábil ao transitar entre os extremos da personalidade de um astronauta cansado e tendo nada a perder. Aliás, nem o design de produção parece entender plenamente o protagonista, decorando seu dormitório com pôsteres e vinis tal qual um adolescente o faria.

Como roteirista, Ostrikov insiste em beats convencionais sem perceber que o maior trunfo da narrativa é o próprio Andriy e sua intrincada relação com o isolamento. Quando o faz, Você é o Universo alcança seus melhores resultados, divertindo e fascinando na mesma medida, com personalidade e segurança.

Felizmente, o terceiro ato reserva reviravoltas suficientes para desculparmos as derivações do script, especialmente ao desenvolver a vocação de Maxim para suceder ao trono de HAL 9000 como o computador de bordo mais impiedoso da Sétima Arte. Ostrikov também é inteligente ao não apelar para reações radicais, permanecendo fiel ao clima sóbrio construído até então.

Sem a mesma dedicação na hora de explicar a necessidade de plasticina durante a missão, o longa falha apenas pontualmente no que diz respeito aos efeitos visuais (as tomadas com a nave em queda), compensando as deficiências gráficas com uma montagem ágil cujo ápice é representado por uma sequência repleta de transições engenhosas que trazem dinamismo ao início do relacionamento entre Andriy e Catherine.

Culminando num desfecho ao mesmo tempo arrasador e poético, U Are The Universe (no original) pode não ser o mais barroco e necessário membro do nicho de filmes sobre astronautas isolados no espaço, mas vale como um esforço honesto do Cinema Ucraniano, principalmente levando em conta o contexto geopolítico envolvido.
NOTA 6