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  • Foto do escritorGuilherme Cândido

"Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa" é um deleite para os fãs

Atualizado: 26 de jul. de 2022

Capitalizar o chamado “hype” (expectativa/ansiedade por um projeto audiovisual) tem sido uma das estratégias mais lucrativas da Marvel, cujos executivos descobriram cedo que não há máquina de marketing mais poderosa do que seus próprios fãs. Eles, aliás, são os responsáveis pelo pagamento do orçamento já na semana de estreia e contagiam o espectador casual com sua empolgação. Por isso, é mais do que compreensível, lógico, que os produtos com o selo Marvel venham carregados do famigerado “fan service” (referências direcionadas a seu público mais fiel). O fã despe-se da aura de espectador e assume o caráter de cliente, que afinal, é o bem mais precioso de uma empresa.


Dando continuidade direta aos acontecimentos que encerraram Homem-Aranha: Longe de Casa, especialmente a revelação da identidade do herói, a produção apresenta inúmeros sinais de que seguirá por um caminho mais ousado, explorando as consequências da destruição da imagem de Peter por meio de fake news, o que acaba gerando um culto fanático pelo impostor Mysterio, refletindo nossa realidade de forma crua e certeira.


Mais do que isso, Sem Volta Para Casa não tem medo de mergulhar na ótica de Peter Parker e aborda sem rodeios o peso que o jovem carrega, pois, assim como lembra Stephen Strange em certo momento, já o vimos passar por tanta coisa que até esquecemos de que se trata apenas de um garoto. Na prática, o mago serve para revelar/amplificar a imensa bondade que reside no coração inocente e puro de Peter, um otimista incorrigível por natureza que, frequentemente, se vê num conflito provocado por sua inabalável fé na Humanidade.


E Tom Holland faz um belo trabalho (o melhor sob a batuta da Marvel) ao evocar o turbilhão de emoções que invade a vida de Peter Parker tão precocemente. Aliás, mesmo depois de sete filmes como protagonista, poucas vezes o lado humano do super-herói foi tão explorado como nessa sua nova aventura: ele pode ter superpoderes, mas também comete erros (das mais variadas magnitudes), mas também é capaz de aprender com seus tropeços. Tanto que, ao final, temos a plena noção do amadurecimento de Peter, cumprindo o que a essa trilogia prometia.


Infelizmente, ao pavimentar o caminho a ser trilhado pelo herói em sua jornada repleta de provações, o roteiro negligencia elementos importantes, como as questões envolvendo a descoberta da identidade do Homem-Aranha, por exemplo: se inicialmente isso se apresenta como um enorme percalço na vida do jovem estudante (incapaz de passar despercebido até mesmo em sua escola), subitamente é esquecido à medida em que a trama avança. Para piorar, embora J. Jonah Jameson surja insistentemente martelando a ideia de que Peter Parker assassinou Mysterio, os apoiadores do vilão parecem desaparecer da história.


O roteiro também tem dificuldades para lidar com a quantidade expressiva de vilões, modificando, por exemplo, a motivação do Homem-Areia e deixando o Lagarto de lado (sua captura inicial sequer é mostrada). Entretanto, nada causa mais estranheza (com o perdão do trocadilho) do que ver o Homem-Aranha de Tom Holland levar a melhor diante do Doutor Estranho de Benedict Cumberbatch. Ora, o tal confronto entre os dois (antecipado pelo trailer), não apenas ocorre numa dimensão diferente, mas controlada por Stephen Strange.


É claro que, mesmo depois de uma conturbada campanha de divulgação, que teve de lutar bravamente contra supostos vazamentos, as inúmeras “surpresas” que ocorrem durante a segunda metade da projeção acabam por amenizar o impacto das derrapadas dos roteiristas Chris McKenna e Erik Sommers. Obviamente sem entregar spoilers, basta dizer que Sem Volta Para Casa mergulha de cabeça no fan service e se transforma numa verdadeira metralhadora de referências das mais diversas formas.


O insólito terço final, que absorve todo o absurdo articulado nos dois atos anteriores, guarda tantos momentos desconcertantes que fica até menos difícil de engolir o tradicionalmente espúrio CGI usado em abundância pela Marvel. Nesse sentido, vale destacar o excesso de sequências noturnas e um confronto corporal específico cuja pasteurização visual (problema recorrente do estúdio) remete imediatamente à luta entre Thanos e Homem de Ferro em Vingadores: Guerra Infinita. Outra patinada é a possibilidade inacreditavelmente ingênua de “curar” vilões, mostrando o personagem-título tentando conceber, do zero, soros capazes de reverterem desde a esquizofrenia psicótica do Duende Verde até o visual do Lagarto.


Por falar em vilões, entre todos aqueles (re)apresentados, o destaque fica mesmo por conta do Duende Verde de Willem Dafoe, mais perigoso do que nunca e realmente assustador pela primeira vez. O que não significa que seus colegas de elenco não tenham se saído bem, pois Alfred Molina segue estupendo como o Doutor Octopus, experimentando uma bem-vinda reviravolta e Jamie Foxx rouba a cena ao possuir as melhores tiradas do roteiro, incluindo uma sobre as semelhanças na origem de determinados antagonistas, expondo a falta de criatividade e o absurdo de seus criadores.


Sem deixar de lado a verve cômica do MCU, famoso por suas experiências leves e inconsequentes, Sem Volta Para Casa surpreende com uma faceta emocional duplamente certeira ao servir como catalisadora para a formação de Peter como herói, mas também como uma brilhante sacada ao espelhar um elemento-chave do Multiverso da franquia.


Revelando-se um raro exemplar satisfatório de encerramento de trilogia, superando com sobras o fraco terceiro capítulo da Era Tobey Maguire, Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa talvez seja o blockbuster mais divertido de 2021, deixando aquele gostinho de quero mais e estendendo o tapete vermelho para um futuro pra lá de promissor.


NOTA 7

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