Inspirado por José Mojica, 'Prédio Vazio' resgata tradições do Terror Brasileiro
- Guilherme Cândido
- 11 de jun.
- 2 min de leitura

A paradisíaca Guarapari, no litoral do Espírito Santo, é daquele tipo de cidade que vê seus habitantes se multiplicarem na alta temporada. No Carnaval, por exemplo, o município salta de cem mil para mais de um milhão, com a esmagadora maioria sendo de veranistas pegando carona no tradicional feriado para curtir suas praias e se entregar à folia. É nesse cenário edênico, que o cineasta e roteirista Rodrigo Aragão se dá o luxo de chamar de terra-natal, que se desenvolve o mais novo terror tipicamente brasileiro a ser lançado nos cinemas.
Na órbita do tal prédio vazio presente no título, Aragão narra a história de duas mães. Uma, vivida por Gilda Nomacce, é a responsável por cuidar daquele local que só parece ganhar vida quando acessado pelos foliões. Entre eles, está a personagem de Rejane Arruda, hóspede ao lado do marido abusivo e que, de quebra, se encontra em apuros após presenciar uma tragédia. Quem se propõe ao seu resgate é a filha, espécie de Lisbeth Salander tupiniquim que vai às pressas ao seu encontro, acompanhada do namorado desajeitado. Lá, ela descobrirá segredos obscuros antes de finalmente poder salvar a mãe.

O roteiro tinha potencial para enveredar por diversos caminhos frutíferos. Estão lá elementos suficientes para dar substância ao enredo, seja através do drama familiar ou até do suspense que se desnuda com as revelações sobre o prédio. Aragão, no entanto, parece mais interessado nos tropos relacionados ao terror, limitando-se a reproduzir situações e regurgitar conflitos que jamais ganham espaço para se expandirem ao ponto de se tornarem relevantes dentro da história.

Dono de uma vasta filmografia que o posiciona entre os nomes mais prolíficos do Terror Brasileiro, o capixaba se diverte manipulando elementos consagrados, deixando pouco para ser compartilhado com o público. No que diz respeito ao posicionamento da câmera, à composição do quadro e à direção de atores, Aragão mostra talento e desenvoltura, mas peca no refino da atmosfera, inofensiva pois dependente do choque para manter o espectador sob rédeas curtas.

A maquiagem e os efeitos práticos, especialidade do diretor, chamam atenção, dando vazão à sua criatividade, mas à revelia. Prédio Vazio se torna um competente veículo para seus predicados técnicos, sendo impedido de alçar voos maiores em virtude da escolha pelos sustos em detrimento do clima. Efêmeros, os jump scares precisam se avolumar para continuarem funcionando, ao passo que uma atmosfera genuinamente arrepiante teria efeitos inquestionavelmente mais duradouros.

Vale ressaltar, porém, o aproveitamento do bom design de produção e a inventividade na hora de colocar a sanguinolência em primeiro plano, como na ótima sequência do elevador, fazendo valer um discreto aviso colado numa de suas extremidades. Do elenco, destaque para Nomacce, ícone do Cinema Nacional e que já vinha do bom A Herança. A atriz paulista intriga pela aura misteriosa que habilmente alimenta, enquanto tira de letra os desdobramentos de sua personagem.

Merecendo aplausos pelo esforço de manter vivo um gênero costumeiramente negligenciado, principalmente no Brasil, Rodrigo Aragão faz jus ao prestígio que conquistou ao longo de quase vinte anos de carreira, mesmo que sua mais nova obra passe longe de ser sua mais inspirada.
NOTA 5,5