Projeto James Bond #07: 007 - Os Diamantes São Eternos (1971)
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  • Foto do escritorGuilherme Cândido

Projeto James Bond #07: 007 - Os Diamantes São Eternos (1971)

007 Os Diamantes São Eternos (Diamonds Are Forever, 1971)

Após cinco filmes como o espião mais famoso do mundo, chega o momento de Sean Connery se despedir da franquia 007 (ao menos da oficial, já que 007 Nunca Mais Outra Vez, que contou com o seu retorno, não pertence ao cânone). Infelizmente, porém, ele deixa a franquia oficial da forma mais melancólica possível, estrelando um dos piores filmes de James Bond.


Para começar, é impossível deixar de notar a mudança drástica de tom entre 007 A Serviço Secreto de Sua Majestade e este 007 Os Diamantes São Eternos, abraçando de vez o humor que acabou ditando toda a fase Roger Moore. O problema não chega a ser a intenção de produzir uma aventura mais bem-humorada, mas sim contratar Tom Mankiewicz para reescrevê-la e submeter Sean Connery à inglória tarefa de protagonizá-la.

Fica claro desde a primeira cena que esta produção já era para ter sido estrelada por Roger Moore, mas depois da experiência negativa com o filme anterior e a dispensa do péssimo George Lazenby, os produtores Harry Saltzman e Albert Broccoli simplesmente viram o retorno de Connery como a tábua de salvação da série. O escocês, no entanto, não fez muita questão de esconder as razões que o fizeram embarcar no projeto (mais de um 1.25 milhão de libras esterlinas), apresentando-se no set de filmagem ligeiramente fora de forma e exibindo uma inédita displicência ao compor o personagem, mas voltaremos a esse ponto mais tarde, pois confesso não entender a contratação de alguém como Tom Mankweickz para trabalhar no roteiro escrito por Richard Maibaum, a essa altura um especialista em James Bond e que vinha de um acerto. O homem que mais tarde escreveria Emergência Maluca e Casal 20 ainda seria chamado de volta para os dois filmes seguintes, inaugurando a Era Roger Moore.

Além de tornar a trama confusa, Mankiewicz pesa a mão em absolutamente todos os elementos do roteiro, fazendo de “exagero” a palavra-chave de 007 Os Diamantes São Eternos. Apesar de contornar com irreverência a troca do intérprete de Blofeld (e o motivo de não fazer o mesmo para explicar as várias faces de Felix Leiter permanece um mistério) e fazer uma boa piada metalinguística brincando com a ausência de Connery (“soube que estava de férias”, alguém diz), ambos pontos positivos presentes nos primeiros 10 minutos de projeção, o roteirista mergulha a história numa espiral nonsense que beira a galhofa.

Flertando perigosamente com a sátira, os roteiristas não hesitam em atirar James Bond nas situações mais cartunescas possíveis: Já no prólogo, que inclui uma montagem absolutamente artificial de Bond caçando implacavelmente Blofeld, há duas mortes que beiram o ridículo (inimigo parado se deixando amarrar, para depois ser atirado numa piscina de lava; sujeito se afogando numa poça de lama). As perseguições, que já foram o ponto alto da série, agora descambam para o absurdo e aquela que acontece em Las Vegas, com os carros dando voltas num quarteirão chega a ser inacreditável.

Segunda bond girl a surgir em cena, Lana Wood segue religiosamente a atmosfera extravagante na qual sua Plenty O’Toole está inserida, atuando sempre um tom acima de todos à sua volta. Já a Tiffany Case de Jill St. John se sai melhor, principalmente por contar com um tempo maior de tela, mas não escapa de ser sabotada pela direção de Guy Hamilton (diretor de 007 Contra Goldfinger, por incrível que pareça), que investe em irritantes closes para captar suas reações (geralmente a atitudes peculiares de Bond).

Sentindo o peso dos 41 anos de idade e aparentando desinteresse em continuar no papel que o projetou internacionalmente, Sean Connery mesmo assim não chega a ser um estorvo, por mais que sua caracterização seja incompatível com a história que foi concebida. Afinal, o maior equívoco da produção é justamente colocar a persona elegante do Bond de Connery em conflito com o teor fantasioso que envolve sua missão. Surge um dilema: quando tenta fazer graça, Bond ultrapassa os limites do ridículo (a cena com o rato ou aquela com o inimigo holandês), mas quando investe na seriedade, o resultado é a autoparódia (durante a já citada perseguição em Las Vegas; os diálogos com Blofeld). E o que dizer da descartável passagem com a mulher gorila? Pior que isso, só o constrangedor momento em que Blofeld foge vestido de mulher.

E por falar no arqui-inimigo de James Bond, é preciso lembrar que Charles Gray, seu novo intérprete, já havia aparecido brevemente em Com 007 Só Se Vive Duas Vezes, mas na pele do desafortunado Henderson. Já como Blofeld, Grey se sai admiravelmente bem, adequando-se perfeitamente ao tom proposto pelo roteiro, equilibrando-se entre a ameaça e a irreverência, mas sem abandonar a ironia (note a frequência com que sorri). Seus momentos finais, no entanto, poderiam figurar tranquilamente num dos filmes de Austin Powers, essa sim uma sátira assumida da franquia.

O que nos leva à caricata dupla de capangas interpretada por Putter Smith e Bruce Glover, responsável por participar da penúltima cena de Connery como o James Bond original, infelizmente sua pior, parecendo saída diretamente de uma comédia com Leslie Nielsen ou uma aventura de Johnny English. Quebrando um tabu ao surgirem de mãos dadas, Kidd e Wint, respectivamente, protagonizam mais tarde um diálogo que afasta qualquer sutileza.

Mesma intérprete da clássica “Goldfinger”, Shirley Bassey retorna à série oferecendo mais uma boa performance com a agradável, mas nada memorável, canção-título, com o mesmo podendo ser dito sobre o compositor John Barry, que até acerta nas melodias, mas fica anos-luz abaixo de seu excepcional trabalho no filme anterior. Tecnicamente, ademais, 007

Os Diamantes São Eternos se destaca em função do design de produção de Ken Adam, especialmente ao evocar o tema do filme em detalhes curiosos, como ao colocar um imenso vitral no formato de um diamante em uma igreja.

Aventura completamente deslocada das demais, 007 Os Diamantes São Eternos é a ovelha negra da franquia, representando um dos pontos mais baixos de toda a série ao flertar com a autoparódia enquanto busca uma atmosfera que simplesmente não combina com seu astro.


NOTA 4


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