Projeto James Bond #10: 007 O Espião Que Me Amava (1977)
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  • Foto do escritorGuilherme Cândido

Projeto James Bond #10: 007 O Espião Que Me Amava (1977)


007 - O Espião Que Me Amava (The Spy Who Loved Me, 1977)


Mantendo a fórmula consagrada pela era de ouro do personagem, mas sem o tom sombrio, 007 O Espião Que Me Amava é o filme mais equilibrado estrelado por Roger Moore, o que significa que também é o melhor, justamente por reduzir substancialmente o humor que marcou negativamente a aventura anterior de James Bond, voltando às origens numa trama mais voltada para a espionagem. Isso não significa que a produção abraça a sisudez, apenas que os roteiristas sabiamente resolveram abandonar o destaque dado para gags escrachadas (principalmente aquelas protagonizadas pelo infame xerife J.W. Pepper) e sequências de ação cartunescas (como a acrobacia veicular ao estilo Evel Knievel e acompanhada de um efeito sonoro cômico), adotando o humor apenas como válvula de escape, mantendo a leveza da atmosfera.

Pouco criativo em termos de narrativa, seguindo à risca o checklist dos primeiros roteiros da franquia e apresentando um vilão pouco carismático, sobra espaço para gadgets imaginativos como um relógio/fax e um comunicador disfarçado de caixa de música que são incorporados de maneira orgânica e sempre apresentados com impacto, mas o destaque fica por conta do espetaculoso Lotus Esprit adaptado para se tornar um veículo anfíbio repleto de recursos. Sua aparição além de ser emblemática, rouba a cena e se coloca facilmente entre os grandes momentos de toda a série, rivalizando com o tradicional Aston Martin no ranking de automóveis modificados do agente secreto.

Politicamente mais inclinado a uma posição de neutralidade, o roteiro de Richard Maibaum e Christopher Wood (o primeiro da série totalmente original, isto é, sem ter sido baseado num romance de Ian Fleming) deixa de lado a Guerra Fria e investe numa trama que coloca os dois lados da Cortina de Ferro para cooperarem por um objetivo-comum, com James Bond tendo de trabalhar com a agente soviética Anya Amasova, conhecida pelo codinome XXX. É ela também que confirma a cronologia da série ao relembrar os acontecimentos de 007 A Serviço Secreto de Sua Majestade, confirmando que apesar da troca de atores, o personagem permanece. Disposta a desafiar o status do espião britânico, Amasova é interpretada por Barbara Bach como uma mulher forte e inteligente, promovendo uma verdadeira briga de egos com Bond ao se posicionar como uma adversária cuja determinação remete a inesquecível Pussy Galore, mas com um componente pessoal que traz uma tensão incomum à relação com James Bond. Falando em incomum, este filme finalmente revela a identidade de “M”, indicando que de fato se trata de um codinome baseado na inicial do nome do chefe de Bond.

Que por sua vez é vivido por Roger Moore em sua melhor forma ao conseguir balancear perfeitamente despojamento, elegância e bom humor. Esperto o bastante para não cair na armadilha de buscar conexões com a performance de Sean Connery, o queridinho do público, eternamente uma sombra para qualquer ator que vier a interpretar James Bond, Moore concebe sua própria versão do personagem com segurança e confiança, maneirando nos olhares irreverentes e caprichando na persona de astro de filme de ação que acabou por encarnar durante essa fase de sua carreira.

Infelizmente, porém, o vilão vivido pelo alemão Curd Jürgens é prejudicado por planos que inicialmente soam convencionais demais para os padrões alcançados pela série (dominar o mundo deixou de ser uma novidade), mas que pioram à medida em que despertam questionamentos (por que ele deseja acabar com a humanidade se sua intenção é viver isoladamente no fundo do mar?). Sem uma característica física marcante, Jürgens passa a depender demais da própria performance para elevar o nível de Stromberg, mas que empalidece diante de antagonistas formidáveis como Goldfinger e Blofeld, aproximando-se do ligeiramente superior Emilio Largo.

Com isso, surge uma brecha para Jaws mostrar porque é considerado o melhor capanga pelos fãs da série. Vivido com imponência assustadora por Richard Kiel, de 2,18m de altura, Jaws é concebido pelo roteiro como um sujeito intimidador e de poucas palavras, chamando atenção pelos potentes dentes de aço capazes de destruir qualquer tipo de material. Já Lewis Gilbert, que teve a luxuosa ajuda de Stanley Kubrick para ajustar a problemática iluminação no estúdio e mal parece ter comandado o fraco capítulo anterior, encara Jaws como uma ameaça realmente capaz de amedrontar o espectador, não apenas por se mostrar mais forte que James Bond (repare no tamanho de suas mãos em relação ao rosto do espião), mas também por ser exageradamente resistente ao superar praticamente qualquer obstáculo que surge em seu caminho. Mesmo com pouco tempo de tela (ou exatamente por isso), Jaws exala perigo e é aproveitado por Gilbert como uma potencial fonte de sustos, utilizando os acordes da trilha sonora para acompanhar suas repentinas entradas em cena.

E por falar em trilha sonora, como o compositor habitual John Barry não pôde retornar ao Reino Unido em virtude de problemas com o fisco, a função coube a Marvin Hamlisch que dois anos antes levou três Oscars pelo filme Nosso Amor de Ontem. Primeiro estadunidense a assinar uma trilha da franquia, Hamlisch promoveu uma série de mudanças, quebrando alguns tabus como ao fazer de O Espião Que Me Amava a primeira aventura de James Bond a incluir faixas compostas para outros filmes (Doutor Jivago e Lawrence da Árabia são dois deles), além de incorporar várias músicas clássicas de mestres como Mozart, Bach e Chopin. Mas é pela inclinação à disco music que Hamlisch é lembrado, trazendo melodias dançantes que tinham tudo para destoar do tom menos extravagante da narrativa, mas que funcionaram a ponto de renderem uma das três indicações Oscar recebidas pela produção (Direção de Arte e Canção Original completaram o trio).

Cantada por Carly Simon (esposa de James Taylor na época), “Nobody Does It Better” pode ter conquistado os membros da Academia, mas está longe de ser uma unanimidade entre os fãs de 007. Embora também tenha sido composta por Marvin Hamlisch, a canção fica num meio-termo entre o pop rasgado de “The Man With the Golden Gun” (007 Contra o Homem Com a Pistola de Ouro) e a multifacetada “Live and Let Die” (Com 007 Viva e Deixe Morrer), dispensando a sonoridade badalada que sublinha a trilha incidental.

Sobre as sequências de ação, carro-chefe da fase Roger Moore, 007 O Espião Que Me Amava já tem início com uma perseguição de ski na neve de tirar o fôlego, culminando numa fuga espetacular de Bond antes da abertura. Pegando emprestado alguns elementos de Com 007 Só Se Vive Duas vezes, como o imenso esconderijo do vilão que acaba servindo como palco do clímax durante um resgate, a produção compensa a coreografia burocrática dos combates corporais com alguns momentos que aliam inventividade e ótimos efeitos visuais, especialmente na supracitada passagem em que o carro anfíbio de James Bond rouba a cena.

Optando por um encerramento que ao mesmo tempo homenageia e parodia os finais dos capítulos estrelados por Sean Connery, adicionando uma reviravolta bem-humorada, 007 O Espião Que Me Amava ainda se dá o luxo de cometer uma gafe nos créditos finais ao anunciar o retorno de James Bond em 007 Somente Para Seus Olhos quando, na verdade, sua continuação foi 007 Contra o Foguete da Morte, mas o motivo que levou tamanho deslize a ser cometido eu deixarei para discutir na próxima crítica...


NOTA 7,5


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