Projeto James Bond #12: 007 Somente Para Seus Olhos (1981)
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  • Foto do escritorGuilherme Cândido

Projeto James Bond #12: 007 Somente Para Seus Olhos (1981)

007 Somente Para Seus Olhos

(For Your Eyes Only, 1981)


Ao 54 anos de idade, Roger Moore encarnava James Bond pela quarta vez ao estrelar 007 Somente Para Seus Olhos, décimo segundo filme da franquia mais longeva da história do Cinema. Inicialmente, o contrato de Moore estipulava três produções, mas o sucesso de 007 O Espião Que Me Amava o levou a topar uma terceira continuação. O problema é que a idade já estava pesando para o astro britânico, que se mostrava cada vez mais incomodado em fazer par romântico com mulheres até trinta anos mais jovem. Os rumores acerca de sua saída enlouqueciam os tabloides da época, mas uma batalha judicial envolvendo os direitos do personagem aqueceu os bastidores da franquia por décadas, mas que deixarei para detalhar na crítica de 007 Nunca Mais Outra Vez, produção não oficial que contou com o retorno de Sean Connery ao papel de James Bond.

Na tentativa de repetir a fórmula de sucesso do filme anterior, o roteiro concebido por Richard Maibaum e Michael G. Wilson (também produtor) exibe um cuidado semelhante com o teor da aventura, evitando o excesso de humor que arruinou algumas obras anteriores. Embora a composição descontraída de Roger Moore não tenha sido afetada, com o ator mantendo o hábito de disparar tiradas espirituosas, Somente Para Seus Olhos só abraça a comédia de fato nas cenas que iniciam e encerram a projeção. A que inicia, vale ressaltar, representa um dos momentos mais bizarros de toda a série, com uma deslocada sequência em que James Bond tira sarro de uma figura concebida como uma referência direta a Blofeld, mas que jamais revela seu rosto. Com efeitos sonoros anedóticos e uma conclusão embaraçosamente infantil, trata-se da pior abertura de toda a série. Enquanto isso, a cena final, com a brincadeira já tradicional envolvendo James Bond aos beijos com uma bond girl, ganha contornos inacreditáveis ao trazer uma representação de Margareth Thatcher (aqui tratada apenas como “Primeira Ministra” interagindo com uma arara, numa espécie de esquete que esperaríamos ver numa paródia da franquia e não num filme canônico. Uma curiosidade positiva é a ponta de Charles Dance (o Lord Tywin Lannister de Game of Thrones) ainda em início de carreira.

Felizmente, Somente Para Seus Olhos não ousa em seguir nessa linha, mas também não evita reutilizar elementos que já foram testados, fazendo com que a sensação de déjà vu permeie durante toda a narrativa, a começar pela missão de Bond, que consiste mais uma vez em impedir que um dispositivo caia em mãos erradas. Com isso, novamente nos deparamos com uma perseguição de esqui, por mais que a produção se esforce para desafiar a capacidade de seus dublês, que executam manobras arrojadas. Os tubarões também marcam presença, desta vez de forma ligeiramente mais letal do que em suas aparições anteriores, ao passo que o Lotus, tão celebrado como o carro anfíbio de O Espião Que Me Amava, retorna mais como um aceno aos fãs do que como um gadget propriamente dito, já que devemos nos contentar com uma versão convencional do veículo.

Entre as novidades, destaque para a triste ausência de Bernard Lee, cujo falecimento durante a pré-produção obrigou a produção a cancelar a participação de M pela primeira vez (e que jamais se repetiu), já que não haveria tempo para substituí-lo (é dito que o chefe de Bond está de licença). Para cumprir as lacunas narrativas, o roteiro foi retrabalhado a fim de dar mais espaço a Q, sempre divertido na pele do experiente Desmond Llewelyn que aproveita cada minuto adicional em cena. A trilha sonora também traz mudanças expressivas, com Bill Conti fazendo sua estreia na série. O compositor de Rocky não hesitou em trazer seu estilo grandioso para embalar as aventuras de Bond, o que causa estranhamento no início.

Por falar em estranhamento, outro paradigma é quebrado, dessa vez durante os créditos iniciais, que pela primeira vez incluem imagens da cantora da música-tema, no caso Sheena Easton, indicada ao Oscar por um dos temas mais melosos dessa fase. Em contrapartida, o roteiro apresenta uma parcela preocupante de diálogos expositivos, como ao anunciar o patrocínio da patinadora vivida pela jovem Lynn-Holly Johnson ou nas várias conversas que ocorrem num restaurante. Por outro lado, a trama reserva algumas surpresas em sua segunda metade, mesmo que isso enfraqueça o vilão, cuja demora a ser definido impede que seja criado um vínculo com o espectador. Consequentemente, Julian Glover encarna um antagonista apenas adequado, talvez realista demais para os padrões da franquia.

Enquanto isso, Carole Bouquet brilha como Melina, uma bond girl que realmente é capaz de contribuir para a missão protagonizando suas próprias sequências de ação ao invés de ser relegada ao papel de donzela a ser resgatada por Bond. Com um arco dramático bem delineado, ainda que desenvolvido às pressas, Melina se estabelece como uma personagem forte e que ressoa no espectador com motivações palpáveis e um final digno das melhores bond girls da série graças à sua habilidade com flechas.

Trazendo breves referências ao passado de Bond, com A Serviço Secreto de Sua Majestade mais uma vez sendo lembrado (“We Have All The Time In The World” está escrito numa lápide), 007 Somente Para Seus Olhos fica num meio-termo satisfatório dentro do ranking da série, mas deve ser lembrado como uma aventura acima da média nessa fase protagonizada por Roger Moore, que começa a dar seus últimos passos como James Bond.


NOTA 6,5


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