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'Shadow Force - Sentença de Morte' não justifica espaço nos cinemas

  • Foto do escritor: Guilherme Cândido
    Guilherme Cândido
  • 11 de jul.
  • 5 min de leitura

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Dois assassinos altamente treinados rodam o mundo cumprindo missões para uma agência secreta, mas resolvem mudar de vida quando o amor floresce entre eles. O chefe da tal organização, um implacável espião, previsivelmente não vê com bons olhos a perda de seus maiores ativos e empreende uma caçada para eliminar quaisquer pontas soltas, fazendo com que o casal tenha de fugir e lutar pela sobrevivência a fim de conquistar a tão sonhada liberdade para formar uma família. Mais frustrante do que perceber que esta premissa já serviu de base para outros tantos filmes de ação, só o fato de que é Joe Carnahan quem a utiliza como base de seu mais novo projeto, Shadow Force – Sentença de Morte.


Carnahan já foi um autor criativo, chamando atenção logo de cara com o tenso Narc (2002), thriller policial com Jason Patric e o finado Ray Liotta. Depois reuniu um elenco repleto de estrelas da grandeza de Ben Affleck, Ryan Reynolds e Andy Garcia no descolado A Última Cartada (2006). Sua queda, porém, teve início de forma cruel quando seu melhor filme até então, o divertidíssimo Esquadrão Classe A (2010), surpreendentemente naufragou nas bilheterias. A superprodução que adaptou às telonas o seriado homônimo da década de 80, foi a grande aposta da saudosa Fox para aquele ano, mas nem Bradley Cooper, Patrick Wilson, Jessica Biel e Liam Neeson, no auge de sua fase como astro de ação, foram suficientes para levar o público aos cinemas.

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De lá pra cá, o californiano tem lançado apenas filmes menores, com o bacaninha Stretch (2014) sendo o melhor de uma leva que incluiu os recentes Mate ou Morra (2020) e Fogo Cruzado (2021), ambos protagonizados por Frank Grillo, o principal rosto do segmento de filmes de quinta categoria desovados discretamente em serviços on demand. Nesses últimos tempos de vacas magras, entre seus poucos acertos estão a criação da longeva série The Blacklist (2013-2023) e o script que resultou em Bad Boys Para Sempre (2020), longa-metragem que ressuscitou a franquia de Will Smith e Martin Lawrence. Isso é pouco, não dá para negar, mas ao menos mantinha seu currículo incólume. Até agora.

A começar pelo título, que mais parece saído de uma temporada de Power Rangers, Shadow Force representa o ponto mais baixo da carreira de Joe Carnahan; tanto que surpreende ter chegado aos cinemas ao invés de ser entubado por alguma plataforma de streaming.

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Longe de soar como um projeto assinado por um roteirista experiente, o filme que desembarca nos multiplexes brasileiros neste final de semana é do tipo que coloca seus personagens para assistirem televisão apenas com o objetivo de soltar informações relevantes para o espectador. E quando se juntam para conversar, o máximo que se tem é uma troca de perfis de outras figuras importantes. Infelizmente, os diálogos seguem esse padrão ao longo dos pouco mais de noventa minutos de projeção, variando entre a exposição escancarada (“você quer ir atrás do Cinder”) e a mais pura artificialidade (“estamos atrás do Fulano! Ele é o alvo!”), como no instante em que alguém solta um “o jogo começou senhores, vamos pegá-los!” numa forma capenga de dar início ao segundo ato.

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Como se não bastasse termos que testemunhar a artificialidade das conversas, ainda somos tratados como beócios já que Carnahan se encarrega de mastigar todos os detalhes de sua já simplória trama e se pelo menos não se entrega ao insuportável momento em que alguém solta um “então você quer dizer que...” antes de repetir o que acabou de ouvir, não resiste em trazer pessoas falando sozinhas a respeito de elementos cruciais da narrativa. As coisas pioram quando Carnahan decide enveredar pelo drama ao desenvolver o relacionamento entre Isaac (Omar Sy) e o filho, com a trilha melosa de Craig DeLeon (ótimo em Desconhecidos) sublinhando frases como “sinto falta da mamãe, faz tempo que não a vejo!

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Carismático e com bom porte físico, era uma questão de tempo até que Omar Sy fosse chamado para estrelar algum filme de ação, especialmente depois do desempenho brilhante demonstrado no inesquecível Intocáveis (2011), que lhe abriu as portas de Hollywood. Após marcar presença em blockbusters como X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido (2014), Jurassic World (2015) e Inferno (2016), o francês de ascendência senegalesa é desperdiçado no arquétipo do agente aposentado tentando se manter longe da ação, mas consegue extrair leite de pedra ao evitar a melancolia típica desse papel. Sempre sorridente, ele repete a estratégia do açucarado Uma Família de Dois para ditar a química com o jovem Jahleel Kamara (da série Manifest). Já a experiente Kerry Washington, vencedora do Emmy por Scandal (2012-2018), mal tem a oportunidade de se aprofundar no drama de Kyrah, a assassina obrigada a se distanciar da família.

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Exibindo um volume assustador de furos, o roteiro é inconsistente até mesmo na hora de ilustrar a habilidade de seus supostamente competentes agentes de campo. Kyrah, em determinado momento, por exemplo, mesmo altamente treinada e com vasta experiência, esquece-se de atirar na cabeça do vilão, que cai espetacularmente após levar uma série de tiros apenas para que o espectador desatento possa se surpreender ao vê-lo levantar tranquilamente enquanto desabotoa a camisa para revelar o colete à prova de balas. Curiosamente, este mesmo cidadão, não lembra de usar a proteção justamente ao enfrentar o casal protagonista! E detalhe: ambos trabalharam para ele durante anos, o que deveria conferir alguma vantagem.

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Nem mesmo a ação se salva, pois Joe Carnahan é incapaz de disfarçar a coreografia mecânica das lutas ou a natureza estéril dos tiroteios. Isso para não mencionar a péssima perseguição de lancha que acontece no terceiro ato, usando e abusando de uma pavorosa tela verde e culminando numa explosão absolutamente sem sentido.  Por outro lado, o único momento em que de fato conseguimos detectar um mero lampejo do velho Carnahan é na montagem paralela entre dois combates durante os minutos finais, com movimentos sincronizados marcando as alternâncias.

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Enfraquecendo sua maior reviravolta ao parar a narrativa para explicá-la, o cineasta ainda reacende o debate sobre a “Maldição do Oscar”, cooptando a recém vencedora do prêmio Da’Vine Joy Randolph (pelo excelente Os Rejeitados) para o projeto na pele de um alívio cômico que ao invés de risadas só consegue provocar irritação.

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Imitando o vastamente superior Em Ritmo de Fuga (2017) ao colocar um deficiente auditivo para ouvir Lionel Richie, o maior pecado de Shadow Force – Sentença de Morte não é sua completa falta de originalidade, mas sua incapacidade de tentar ser algo além de um produto genérico indigno de tomar espaço nos cinemas.

 

NOTA 2,5

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