"Skinamarink - Canção de Ninar" | Fenômeno da internet começa tenso e termina monótono
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  • Foto do escritorGuilherme Cândido

"Skinamarink - Canção de Ninar" | Fenômeno da internet começa tenso e termina monótono


Após ter várias cenas vazadas em redes sociais como TikTok e Twitter, Skinamarink tomou a internet de assalto ao provocar reações exacerbadas dos fãs de filmes de terror. Uns juravam se tratar do melhor terror de todos os tempos, enquanto outros o tachavam de entediante. Por se tratar de um terror experimental, com um visual altamente estilizado que busca se descolar dos padrões da indústria e que adota uma linguagem que, ao contrário do que dizem, segue sim uma lógica interna, é preciso reconhecer os méritos do projeto, mas vamos com calma, pois está muito longe de qualquer extremo, seja positivo ou negativo.


A trama é excepcionalmente simples, acompanhando duas crianças em 1995 que no meio da noite percebem que os pais sumiram. Ao buscarem respostas, os irmãos Kaylee e Kevin notam acontecimentos estranhos como portas e janelas desaparecendo e sons inexplicáveis ecoando no andar de cima da casa. Nada extraordinário, convenhamos, mas o que o diretor estreante Kyle Edward Ball almeja, mergulhando a história numa escuridão quase absoluta, é combinar esses tropos clássicos a uma abordagem visual arrojada que emula uma estética de pesadelo.

Não um pesadelo qualquer, pois canadense adota uma linguagem incomum, com ângulos e enquadramentos que geram estranheza, mas que aos poucos são absorvidos pela narrativa proposta. Seja ao manter a lente apontada para o teto ou quando investe na câmera subjetiva, assumindo o ponto de vista de cada criança, Ball convida o espectador a se colocar no lugar de seus personagens, numa experiência que ganha traços oníricos à medida que o ambiente vai sendo modificado, deformando a realidade. Para sacramentar essa viagem rumo aos cantos obscuros de nossas primeiras memórias, o cineasta lança mão de uma série de símbolos do terror infantil normalmente associados à escuridão, como armários e porões. E quando alguém pede a uma das crianças para olhar debaixo da cama, é impossível não sentir um calafrio.

Ele até chega a explorar conceitos que se relacionam diretamente à ideia de solidão, ao assumir que não há nada mais assustador para uma criança do que estar em casa à noite sem a presença dos pais, quando a imaginação tende a pregar peças. A escuridão da fotografia dá vazão a esse receio, usando o desconhecido para provocar tensão diante da possibilidade de algo estar se escondendo num dos pontos precariamente iluminados da tela. Paralelamente, a dinâmica construída em cena com a câmera constantemente estática, é eficaz ao gerar inquietude sempre que o cineasta resolve movimentá-la e não são poucos os momentos que se beneficiam dessa quebra de rotina.

É uma pena, portanto, que as ideias de Ball se esgotem tão rapidamente, com eventos tão esparsos (o primeiro só acontece após meia hora e demora até o surgimento de outro) dentro da já enxuta narrativa (cerca de 90 minutos) que sobra pouco para manter o espectador interessado. O cineasta se mostra excessivamente confiante na atmosfera que construiu, esperando que o clima sinistro seja o bastante para manter o espectador tenso enquanto a próxima grande cena não chega, o que resulta numa experiência irregular que aos poucos vai testando a paciência do espectador, diluindo o impacto da história. Com planos que emulam a estrutura narrativa de Atividade Paranormal (as câmeras alternando entre vários cômodos), Skinamarink – Canção de Ninar fica refém de uma sensação permanente de curiosidade, mas se desenvolve tão lentamente que a tensão acaba dando lugar à monotonia.

Isso gera um outro problema que o filme tem dificuldades para contornar, já que conforme o espectador fica impaciente, tende a ansiar por um final que o recompense na mesma proporção. E aqueles que esperarem por um final bombástico, provavelmente ficarão decepcionados, já que o orçamento limitadíssimo da produção (apenas 15 mil dólares) não permitiria ir muito além do que é apresentado e que, de certa forma, mostra-se coerente à 'mitologia' criada por Ball, mesmo que envolta (até demais) em mistério.

Sem jamais revelar o rosto das crianças, com uma estratégia visual semelhante ao do desenho A Vaca e o Frango ao manter o quadro sempre abaixo da cintura (mais um ponto para a nostalgia, mesmo que involuntária), a produção merece créditos por convencer como um produto vindo diretamente da década de 90, sem precisar apelar para a desgastada estética de found footage. Os defeitos na imagem (pesadamente granulada), o som monofônico e a presença dos saudosos videocassetes unem o útil ao agradável (lembremos da natureza barata do projeto). Já em relação aos sustos, Skinamarink segue o padrão de seu roteiro, atendo-se ao básico dos jump scares (acordes súbitos ou elementos atirados na direção da câmera), com exceção de alguns momentos em que precisa entregar algo para justificar o medo do personagem/espectador (incluindo os minutos finais).

Valendo mais por seu caráter experimental do que pelos parcos sustos e arrepios provocados a conta-gotas, Skinamarink – Canção de Ninar representa perfeitamente todos os ônus e bônus decorrentes do sucesso na internet, ganhando fama com o efeito viral e gerando engajamento, mas eventualmente sucumbindo às expectativas de um público cuja descrença cresce junto com a repercussão da obra. Analisando o que foi apresentado, o projeto seria tremendamente mais eficaz caso fosse formatado como um curta-metragem.


NOTA 5,5

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