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The Weeknd protagoniza experiência sensorial em 'Hurry Up Tomorrow'

  • Foto do escritor: Guilherme Cândido
    Guilherme Cândido
  • há 2 horas
  • 3 min de leitura


Vencedor de quatro Grammys, indicado ao Oscar, autor de hits ouvidos milhões de vezes nas principais plataformas e capaz de lotar arenas em todos os cantos do mundo, The Weeknd quer mais. Cantar deixou de ser suficiente; agora o canadense de 35 anos também quer provar saber atuar e não apenas em videoclipes, embora este Hurry Up Tomorrow – Além dos Holofotes soe exatamente como um na maior parte do tempo.


Isso porque o músico interpreta uma versão de si na história concebida por ele mesmo ao lado de Reza Fahim e de Trey Edward Shults (que também dirige). Nela, vemos o cantor se apresentar diante de multidões empolgadas, mas também sofrer nos bastidores por um amor não correspondido. Tal desilusão, aliás, representa uma dor tão forte que chega a se manifestar fisicamente, causando um problema em suas cordas vocais e ameaçando seu ganha-pão.

Nesse momento, é Abel Tesfaye quem Shults quer mostrar na tela, o homem por trás do mito, o alter-ego de The Weeknd, relegado a um personagem. Ou ao menos é o que o texto tenta vender para nós. Tanto que os créditos são assinados pela identidade civil do músico e não seu nome artístico. O problema é que, por mais que o diretor se interesse por Tesfaye, investindo em planos fechados na esperança de a câmera captar alguma nuance que aprofunde sua relação com o espectador, o artista não corresponde. O talento musical inquestionável do sujeito jamais é igualado por seus dotes dramáticos, o que ao menos é admitido em determinado momento, quando alguém chega a dizer que suas investidas como ator não deram certo (uma referência à fracassada série The Idol).

Eventualmente, no entanto, o roteiro se desprende de suas amarras narrativas para abraçar o surrealismo, tentando alcançar uma experiência lynchiniana sem contar com a mesma envergadura do mestre recentemente falecido. É quando Hurry Up Tomorrow conclui sua metamorfose para algo mais próximo de um vídeo musical do que um longa-metragem tradicional. E aí reside o maior equívoco do projeto em termos comerciais, pois está sendo divulgado como um típico thriller psicológico.

Jenna Ortega, hoje mais conhecida como a Wandinha da Netflix, vive inicialmente uma fã obcecada por The Weeknd, reconhecendo-se em suas músicas e desesperada por obter respostas daquele que se tornou sua maior referência. Trata-se de um modelo legítimo que gerou frutos memoráveis como Obsessão Cega (1981), O Rei da Comédia (1982) e, claro, Louca Obsessão (1990), sua maior influência. Todavia, quem for ao cinema esperando ver The Weeknd em apuros para se livrar de uma Ortega ensandecida, vai se decepcionar. Já os fãs de Barry Keoghan irão se deleitar com mais uma atuação carismática do irlandês indicado ao Oscar por Os Banshees de Inisherin (2023). Keoghan se desdobra no papel do apoio emocional do protagonista, tirando leite de pedra ao convencer tanto como agente dedicado, quanto como amigo preocupado, brilhando numa participação curta, mas marcante.

Enquanto isso, a trama cumpre função apenas acessória, pois o verdadeiro fio-condutor é a música e a prova cabal é oferecida numa sequência em que Jenna Ortega canta e dança ao som de vários dos sucessos do cantor, estendendo-se ao ponto de revelar o verdadeiro propósito de Hurry Up Tomorrow: servir para divulgar o trabalho de um dos maiores nomes do pop contemporâneo. O título, inclusive, não foi escolhido a esmo, já que também foi usado para batizar o mais recente álbum de sua estrela e que deve servir como um bom acompanhamento.

A trilha sonora pesada e ostensiva, calcada em sintetizadores e melodias que conversam diretamente com a obra de seu compositor, ajuda a criar o clima onírico, mas o destaque técnico da produção fica por conta da fotografia de Chayse Irvin, figurinha carimbada (veja só) dos videoclipes, tendo colaborado com nomes como Bad Bunny, Travis Scott, OneRepublic e Beyoncé. Irvin investe pesado no contraste, sendo capaz de transitar organicamente entre a escuridão fantasmagórica e a iluminação estilizada, sendo o vermelho crucial para a eficácia de seu festival de feixes de luz.

Dono de uma filmografia sólida que inclui os bons Ao Cair da Noite (2017) e As Ondas (2019), o cineasta Trey Edward Shults adota o grau certo de inquietude para conduzir uma experiência vibrante e, por vezes, incômoda. Se o maior inimigo da Arte é a indiferença, Hurry Up Tomorrow – Além dos Holofotes já terá cumprido sua missão quando espectadores desavisados começarem a questionar a própria permanência dentro da sala de projeção.


NOTA 5

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