'Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda' combina risos e nostalgia
- Guilherme Cândido
- há 4 dias
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Quando vi Sexta-Feira Muito Louca (2003) pela primeira vez, lembro de ter gostado, mas não a ponto de revê-lo, coisa que finalmente fui fazer apenas dois dias antes da sessão de imprensa de sua. E só depois desse tardio reencontro com Lindsay Lohan e Jamie Lee Curtis, minha nepobaby favorita desde True Lies (1991), me dei conta do carinho que tenho por esse filme, um sentimento muito bem explorado por este Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda, que chega aos cinemas vinte e dois anos depois.
A essa altura do campeonato, até quem não assistiu deve saber (ou lembrar) que Curtis e Lohan interpretam mãe e filha que trocam de identidade e entram numa espiral de loucura tentando manter as aparências até encontrarem uma solução capaz de reverter a situação. Uma trama simples que utiliza um recurso tão popular, que acabou gerando uma infinidade de obras derivadas, desde o clássico Quero Ser Grande (1988) até o brasileiro Se Eu Fosse Você (2006), incluindo, claro, Se Eu Fosse Minha Mãe (1976), a fraca versão original de Sexta-Feira Muito Louca e estrelada pela até então desconhecida Jodie Foster.

Sequências tardias nunca saem de moda em Hollywood (Top Gun, Bad Boys, Um Tira da Pesada e TRON estão aí para comprovar), ainda mais nesses tempos em que a criatividade é quase uma utopia, mas Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda segue outro pensamento comum entre executivos de grandes estúdios: o de que toda continuação deve dobrar a aposta no que deu certo.

Assim, não temos uma, e sim, duas trocas de identidade dessa vez, com Anna (Lohan) habitando o corpo da própria filha adolescente (e vice-versa), cuja arquirrival, na escola passa a ter a identidade de Tess (Curtis). E vice-versa, obviamente. Dessa forma, abre-se a possibilidade tanto de inverter dinâmicas (agora é Anna quem deve lidar com a rebeldia da filha), como de repetí-las.

O roteiro escrito por Jordan Weiss (de Sweethearts, original HBO Max) também reaproveita outros pontos positivos do longa de 2003, como elementos narrativos, personagens e até situações. Nesse caso, porém, a familiaridade com o texto (eufemismo intencional) potencializa outra commodity valiosa da atualidade: a nostalgia.

Mas não se engane, pois a diretora Nisha Ganatra (do razoável Talk Show: Reinventando a Comédia), é competente o bastante para evitar que a produção se converta numa chantagem emocional em forma de filme, mesmo que, aqui e ali, o drama soe mais superficial do que deveria. Em relação ao humor - que é o mais importante, convenhamos - a canadense é hábil ao construir gags que funcionam sem apelar para a escatologia, um alívio jamais proporcionado pelas obras de Adam Sandler, diga-se de passagem. Além disso, enquanto tira sarro de conflitos geracionais, fisgando os mais maduros ao debochar dos efeitos colaterais do envelhecimento, a narrativa atualiza piadas ao incorporar termos caros às novas gerações (cringe, gaslight).

Contudo, é preciso apontar um desequilíbrio no volume das gags em geral, produzindo a sensação de que qualquer situação (até a mais séria) pode descambar para o ridículo ou para o surreal, prejudicando o ritmo (há pouco tempo de respiro) ao obrigar coadjuvantes sem grande potencial cômico a tentar provocar o riso pela insistência, algo claro na passagem do Centro de Imigração.

Por outro lado, Lindsay Lohan e Jamie Lee Curtis não só reeditam a química invejável exibida no filme anterior, como evidenciam um aprimoramento. Tudo fica ainda melhor quando a dupla se dispõe a levar o humor às últimas consequências, elevando o nível de piadas que não pareciam promissoras à primeira vista, como toda a sequência que se passa numa loja de música e faz referência a uma canção presente em 2003.

Por falar em referências, a produção levará os fãs do original ao delírio, pois entrega absolutamente tudo o que se poderia querer ver (ou rever). Há mais do que menções, por exemplo, à Pink Slip, banda fictícia de Anna e nem comentarei sobre outros crowd-pleasers para não estragar eventuais surpresas. Todavia, acho que dizer que alguns eventos da narrativa anterior ganham divertidas repercussões não chega a ser um spoiler.

O maior spoiler que pode ser dado é a impressão de que Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda foi concebido por profissionais que claramente possuem uma relação afetiva com o capítulo anterior, contagiando até mesmo aqueles que não pediram por essa continuação, que se não chega a fazer a plateia chorar de rir (nem o original conseguiu), ao menos despertará as gargalhadas adormecidas desde 2003.
Observação: Não deixe de notar a homenagem à cena do carro vermelho saltando em Curtindo a Vida Adoidado (1986).
NOTA 7