"65 - Ameaça Pré-Histórica" | Adam Driver volta ao espaço em aventura curta e direta
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  • Foto do escritorGuilherme Cândido

"65 - Ameaça Pré-Histórica" | Adam Driver volta ao espaço em aventura curta e direta


Mills é um piloto espacial que tem passado mais tempo trabalhando do que cuidando de sua família. O motivo, claro, é garantir um futuro para sua esposa e para a filha doente, cujo dispendioso tratamento o motiva a aceitar diversas missões para arrecadar dinheiro. Ele, então, embarca numa jornada interestelar de dois anos com a garantia de finalmente poder pagar a cura da filha. Infelizmente, porém, sua nave é atingida por destroços de um gigantesco cinturão de asteroides e cai num planeta remoto e, aparentemente, primitivo. É o momento de revelar ao espectador que o tal planeta é, na verdade, a Terra. Inicialmente, ele pensa não haver sobreviventes (há passageiros em animação suspensa) e gera estranheza por cogitar o suicídio imediatamente, mas não demora até descobrir Koa, uma menina que não fala o mesmo idioma que Mills, mas que consegue passar a ideia de que procura pelos pais (infelizmente falecidos na queda).

Apesar do que sugere a avançada tecnologia em posse de Mills, o filme se passa “antes do advento da humanidade”, como uma legenda faz questão de frisar, mais precisamente 65 milhões de anos atrás. Trata-se do período Cretáceo e todos nós sabemos o que o piloto acabará encontrando. A época escolhida permite à produção colocar o ex-Kylo Ren para lutar contra dinossauros enquanto brinca com a própria história do nosso amado planeta, afinal, Mills cai na Terra justamente quando este encontra-se prestes a ser atingido pelo famoso asteroide que extinguiu os dinossauros.

O roteiro de Scott Beck e Brian Woods despeja uma tonelada de diálogos expositivos, mas ameniza nosso sofrimento por fazê-lo rápido, já que cinco minutos são o bastante para contextualizar o espectador antes de partir para a ação. Não interessa à dupla de diretores explicar as diretrizes da missão de Mills ou o porquê de uma civilização tão preparada não dispor de recursos suficientes para escapar da Terra com menos dificuldades. Parte dessa negligência, que talvez seja justificada por intenções gananciosas do estúdio (continuações e projetos derivados estão sempre em pauta, como bem sabemos), é desculpada pela parca duração da aventura, que se desenvolve por tempo suficiente para entreter o espectador sem gerar a sensação de tempo perdido.

Criadores de Um Lugar Silencioso ao lado de John Krasinski, Beck e Woods são competentes em explorar o potencial da Terra como ambiente hostil aos protagonistas. Energia e suspense são injetados em abundância pelos realizadores, que concebem uma estrutura onde Mills e Koa saltam entre sequências de ação até finalmente alcançarem o objetivo principal, enfrentando perigos cada vez maiores. A ação, aliás, embora nada espetacular, funciona e deve muito de seus méritos ao ótimo CGI da equipe de efeitos visuais.

Adam Driver faz um bom trabalho como Mills, demonstrando versatilidade ao encarnar o tipo heroico, dispondo de certa fisicalidade e até bom humor na construção de um protagonista que não tem dificuldades em despertar nossa torcida, ao passo que Ariana Greenblatt (do adorável Amor e Monstros) também não faz feio, beneficiando-se da personalidade forte de Koa além de construir uma ótima química com seu parceiro de cena. Os dois são a alma do filme, mesmo que o roteiro não faça muita questão de fugir do previsível ao desenvolver o relacionamento entre eles.

O problema é que embora seja ágil o bastante para manter o espectador sempre interessado, seus eventos passam muito longe de conter qualquer sinal de originalidade, servindo apenas para gerar suspense (lembre-se que a ação não impressiona). Não há nada que já não tenhamos visto em obras superiores como a franquia Jurassic ou o King Kong de Peter Jackson, por exemplo, embora 65 - Ameaça Pré-Histórica mereça créditos por transformar os dinossauros em figuras realmente ameaçadoras (o Tiranossauro Rex possui uma entrada triunfal, diga-se de passagem).

Há, entretanto, uma ou outra sacada mais inspirada, como ao colocar Mills e Koa se comunicando através de desenhos que remetem a pinturas rupestres, brincando com a origem desses registros históricos. Da mesma forma, é um alívio estarmos diante de personagens que sabem se virar perante o perigo, dispensando a necessidade de resgate o tempo todo. O diretor de fotografia Salvatore Totino (Homem Aranha: De Volta ao Lar) também merece elogios pelos planos pictóricos que cria através do ótimo aproveitamento das paisagens da Irlanda e do Oregon, que servirão de locações para a produção.

O roteiro que inicialmente se apoia em checkpoints como num bom game, introduz o asteroide como um meio de gerar urgência na história, já que cada minuto que passa, o estrago está cada vez mais perto. É preciso ressaltar, todavia, que a ausência de justificativas para além dos óbvios objetivos de sobrevivência dos personagens centrais, transformam 65 - Ameaça Pré-Histórica numa experiência tão vazia quanto esquecível, mesmo que seus menos de 90 minutos cumpram o papel de impedir bocejos.


NOTA 5,5

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