"A Bolha" é o passatempo de um diretor entediado durante a pandemia
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  • Foto do escritorGuilherme Cândido

"A Bolha" é o passatempo de um diretor entediado durante a pandemia

Que a Netflix é uma espécie de campo de desova para Hollywood, todos já estamos carecas de saber. Milhares de produções normalmente recusadas por grandes estúdios e que acabariam relegadas ao VoD (ou ao Home Video, em tempos menos recentes), são recebidas de braços abertos pela gigante do streaming, que não hesita em se orgulhar em suas redes sociais do vasto catálogo que ostenta.


Há, claro, casos específicos envolvendo obras de maior requinte e que são assinadas por autores prestigiados, como Alfonso Cuarón, Martin Scorsese e Pedro Almodóvar, mas trata-se de uma exceção, refletindo, em contrapartida, as agressivas tentativas da Netflix em conquistar território na Indústria por meio de grandes premiações, como aconteceu recentemente com Ataque dos Cães e sua milionária campanha para conquistar o Oscar de Melhor Filme, mas que acabou perdendo justamente para um filme da concorrente Apple TV+ (No Ritmo do Coração).


Pois o tiro, às vezes, sai pela culatra e nem mesmo um nome de peso da indústria é capaz de reverter o desequilíbrio do catálogo da empresa. É o caso de The Bubble (no original), cuja mediocridade não trará abalos para a corporação, misturando-se entre outras obras de qualidade semelhante, mas que certamente mancha a carreira de Judd Apatow, outrora considerado uma espécie de Midas da comédia norte-americana.


O elemento mais ofensivo de seu filme não é a quantidade assustadora de piadas envolvendo vômitos, sexo ou drogas (algo incomum para seus padrões), mas sim a clara impressão de que não havia material suficiente para produzir um longa-metragem. E como Apatow sempre teve dificuldades para manter a duração de seus filmes abaixo das duas horas, fica ainda mais difícil de disfarçar a falta de conteúdo.


Sobram montagens aleatórias com personagens malhando, comendo, dançando e sem o menor propósito, a não ser o de aumentar a metragem. A montagem, já combalida, sofre ainda mais com sequências desconexas e como é triste ver a promissora Maria Bakalova (indicada ao Oscar por Borat 2) desperdiçada num papel em que serve de escada para um Pedro Pascal deslocado, mas que ainda consegue se virar com seu carisma.


O mesmo não se pode dizer do roteiro de Apatow, que embora possua lapsos de lucidez com piadas bem encaixadas sobre situações da pandemia (aquelas que envolvem a personagem de Kate McKinnon durante chamadas de vídeo, por exemplo), críticas sobre o comportamento de celebridades e até mesmo alfinetadas bem humoradas na relação dos estúdios de Hollywood com seu público, se apequenam perante a enormidade de gags datadas e outras que foram exploradas de forma infinitamente melhor em filmes como S.O.S. – Tem Um Louco Solto no Espaço e Banzé no Oeste (ambos do gênio Mel Brooks).


O que se vê é um cineasta driblando o tédio enquanto brinca de fazer filme com seus amigos famosos, construindo uma narrativa frouxa e que ainda investe em estereótipos, para acomodar 120 minutos de um passatempo muito mais divertido para quem participa do que para quem assiste.


E mesmo que Judd Apatow ainda tenha lucrado em cima da estratégia da Netflix em priorizar a quantidade em detrimento da qualidade, a verdade é que recebeu uma bela e cara corda para se enforcar perante milhões de assinantes ao redor do mundo.


Ainda bem (para ele) que Superbad, O Âncora e O Virgem de 40 Anos continuam disponíveis no catálogo. Ao menos por enquanto...


NOTA 3


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