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'Coração de Lutador' prova que Dwayne Johnson sabe atuar

  • Foto do escritor: Guilherme Cândido
    Guilherme Cândido
  • há 3 dias
  • 3 min de leitura

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Não é difícil deduzir o apelo deste projeto para Dwayne Johnson, que dedicou mais da metade da vida à luta livre. Mark Kerr, o biografado, foi um pioneiro das Artes Marciais Mistas antes de a marca UFC alcançar a popularidade que possui hoje. As próprias facetas de Johnson e Kerr se misturam em vários momentos, o que concede uma interessante camada metalinguística a este Coração de Lutador, exibido no último Festival Internacional de Cinema de Toronto.

 

No auge de sua carreira como lutador, onde conseguiu seu apelido, The Rock fez a transição para o Cinema em 2001 ao imortalizar o papel de Escorpião Rei em O Retorno da Múmia. Depois disso, a ascensão foi meteórica. Nas telas, um intérprete carismático, fora delas, uma verdadeira estrela: simpático, gentil com os fãs e sempre pronto para protagonizar uma superprodução hollywoodiana. Após mais de uma década encarnando versões do mesmo personagem (até o cenário selvagem aparecia com frequência), ele parece disposto a finalmente deixar The Rock para trás. Agora chegou a vez de Dwayne Johnson. E ele quer um Oscar.

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Como quem teve dificuldades para explicar o fracasso de sua empreitada na pele do Adão Negro da DC, chega a ser irônico o fato de seu Mark Kerr desmoronar tão copiosamente após a primeira derrota. Um marco não apenas no cartel do lutador, mas também em sua vida particular, pois acaba desencadeando uma dependência cada vez maior de opioides. Quem sofre é a igualmente instável Dawn (Emily Blunt), esposa do sujeito e quem precisa segurar as pontas durante seus altos e baixos.

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Indicada ao Oscar por Oppenheimer, Blunt recebe o papel teoricamente mais promissor de sua carreira, rendendo a oportunidade de explorar as nuances psicológicas da mulher. O problema é que o roteiro não só negligencia a personagem em prol de Mark, mantendo-a presa no clássico modelo da “esposa do lutador”, (representada por Amy Adams em O Lutador, por exemplo), como a mergulha numa espiral de repetições que mina justamente aquele que deveria ser o coração do filme (com o perdão do trocadilho). O destaque do elenco secundário, então, passa a ser o lutador Ryan Bader, que graças a uma composição naturalista, mal parece estar debutando como ator. Bader transmite honestidade e bondade na pele de Mark Coleman, melhor amigo, treinador e adversário ocasional de Kerr.

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Enquanto isso, Benny Safdie parece seguir um compromisso particular de extrair grandes performances de atores azarões. Foi assim com Robert Pattinson em Bom Comportamento (2017) e com Adam Sandler em Jóias Brutas (2019), ambos filmes escritos e dirigidos ao lado do irmão Josh. Estreando como roteirista e diretor solo, ele é o responsável por fazer Dwayne Johnson atuar pela primeira vez. E o ex-WWE surpreende, seja por adotar uma voz mais cadenciada, refletindo a persona calma de Mark, ou pelos momentos de maior introspecção (como aquele em que chora sozinho num vestiário). Johnson é eficaz principalmente por evocar a fragilidade emocional do homem, que apesar do porte físico imponente, está claramente quebrado por dentro. A caminhada para ser reconhecido como ator dramático é longa, mas o primeiro passo foi dado e Johnson não medirá esforços para repetir o sucesso de Demi Moore (A Substância).

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Longe de ser bobo, ele até fez questão de usar maquiagem protética para ficar mais parecido com Kerr, o que pode render mais um Oscar ao prestigiadíssimo Kazu Hiro. Assim como o nariz de Bradley Cooper em Maestro, outro trabalho do maquiador japonês duas vezes vencedor do Oscar, o visual de Johnson não o deixa tão parecido assim com o Kerr, mas cumpre a tarefa de fazê-lo desaparecer no papel, o que já demonstrou dar certo para Gary Oldman e Brendan Fraser.

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Quando não está soando como um veículo de promoção para Dwayne “The Rock” Johnson, Coração de Lutador sofre para se equilibrar entre o drama e a ação. No drama decepciona esporadicamente por tentar emular (sem sucesso) o realismo do magnífico O Lutador (2008). Já a ação corresponde aos melhores momentos da longa, captando com visceralidade as lutas: note, por exemplo, como o design de som dispensa os efeitos sonoros clássicos de socos, adotando ruídos crus que causam um impacto muito mais forte (em todos os sentidos). Aliás, falando de som, como é bom ver um filme esportivo sem a presença de comentaristas intrusivos explicando lances a todo o momento...

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Apesar de repetitivo e ocasionalmente derivativo, Coração de Lutador engrossa a lista de “filmes de luta” com o diferencial de ter revelado ao mundo a capacidade de Dwayne Johnson em oferecer uma atuação dramática. Uma descoberta e tanto se considerarmos o tempo em que ele passou arqueando as sobrancelhas e fazendo seus músculos peitorais “dançarem”.


NOTA 6,5

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