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CRÍTICA | “Valor Sentimental”

  • Foto do escritor: Guilherme Cândido
    Guilherme Cândido
  • há 22 horas
  • 3 min de leitura

*Crítica publicada durante a cobertura do Festival do Rio 2025



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O Cinema de Joachim Trier é calcado nas fortes emoções, como fica claro na brilhante trilogia de Oslo, que começou com o ótimo Começar de Novo (2006), chegou ao ápice em Oslo, 31 de Agosto (2011) e culminou no excelente A Pior Pessoa do Mundo (2021). São produções intimistas que retratam sensações e sentimentos universais, evocando o calor humano das relações. Valor Sentimental não só endossa essa percepção, como possui algumas das sequências mais fortes da carreira do diretor.

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Isso porque, como já se tornou sua marca registrada, o roteiro que escreveu ao lado de Eskil Vogt (seu parceiro no bom Thelma) acompanha um núcleo fechado de personagens, no caso um pai e suas duas filhas, que se reencontram após a morte da mãe destas. E o que une essas três pessoas além do laço familiar é a Arte.

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Nora (Renate Reinsve), a mais velha, é atriz de teatro e mantém uma relação distante, mas respeitosa com o pai, Gustav (Stellan Skarsgaard), que por sua vez é um respeitado cineasta. Já Agnes (Inga Ibsdotter Lilleaas), a caçula, abandonou cedo a carreira artística, coincidentemente logo após ter estrelado o filme mais prestigiado do pai.

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Um dos maiores triunfos do filme vencedor do Grande Prix de Cannes é justamente a forma como o roteiro revela o que motivou as rusgas tão resistentes que um possui com o outro, especialmente Gustav, cuja ausência foi sentida sobretudo por Nora. O que acaba reaproximando os dois e reconstruindo o seio familiar é o novo projeto idealizado pelo cineasta, que enxerga a primogênita como ideal para protagoniza-lo.

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Não bastasse o bom aproveitamento da Arte como cura para as feridas familiares, Trier ainda constrói um prólogo não menos do que excepcional ilustrando a importância de uma casa para o trio protagonista. Afinal, este legítimo personagem viu gerações crescerem em seus interiores e a rachadura que aparece numa das paredes é só um dos elementos que escancaram o imóvel como uma metáfora para esta família “quebrada”.

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Contando com longos fade outs para marcar transições, Valor Sentimental tem um ritmo impecavelmente natural, desfilando seu drama cada vez mais possante sem cometer o pecado de tentar evitar o humor. Pois o filme usa com sabedoria os alívios cômicos, que chegam sem que percebamos e exatamente por isso funcionam tão bem. Da mesma forma, até mesmo os risos são fundamentados, como a divertida sequência de abertura que acaba revelando uma característica importante de Nora.

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E se a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas estranhamente ignorou a performance complexa de Renate Reinsve em A Pior Pessoa do Mundo, desta vez a indicação é inevitável, tamanho o entendimento da atriz em relação à obra de Trier. Além do olhar triste denunciando falsas demonstrações de felicidade, Reinsve transmite uma carga de frustração e ressentimento essenciais não apenas para sedimentar o terceiro ato, mas para complementar a abordagem mais contida de Stellan Skarsgaard, outro que dificilmente será esnobado nessa temporada de premiações.

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A força do elenco é apenas um reflexo da precisão quase cirúrgica com que Valor Sentimental é rodado, algo que fica claro também na fotografia texturizada do dinamarquês Kasper Tuxen (O Aprendiz) e seus enquadramentos perfeitos. O design de produção faz maravilhas principalmente com a casa, definitivamente um organismo vivo que sente.


Denso, Valor Sentimental é o tipo de filme que demora a sair da mente mesmo depois que os créditos começam a rolar, transformando o impulso de aplaudí-lo num gesto absolutamente natural.


NOTA 9






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