CRÍTICA | "Conselhos de um Serial Killer Aposentado"
- Guilherme Cândido
- há 31 minutos
- 2 min de leitura
*Crítica publicada durante o Festival do Rio 2025

Steve Buscemi, John Magaro e Britt Lower, esse é o trio protagonista do filme com o maior título original desta edição do Festival do Rio, quiçá de todas. Buscemi, com vasta experiência cômica e um currículo diverso que inclui colaborações com os Irmãos Coen (os ótimos Fargo e O Grande Lebowski) e besteiras ao lado de Adam Sandler (Billy Madison: O Herdeiro Bobalhão e Gente Grande), há algum tempo reivindicou seu lugar também na ala dos atores dramáticos. Se alguém duvidar de seu talento, basta ver alguns episódios da espetacular série Boardwalk Empire: O Império do Contrabando (2010-2014), produzida por ninguém menos do que Martin Scorsese.
Conselhos de um Serial Killer Aposentado, exige ambos os predicados do ator, que fascina e diverte na mesma medida como Kollmick, o misterioso sujeito que aborda um escritor medíocre oferecendo a ideia de fazer um livro sobre um serial killer. Como se isso não fosse estranho o bastante, ele mesmo se apresenta como um, embora garantindo estar aposentado. Para Keane, o ébrio autor, tal acontecimento cai como uma luva, já que sua carreira encontra-se estagnada, o que desagrada imensamente a esposa, Suzie, infeliz num relacionamento em que ela é quem deve tomar todas as decisões. Até que numa noite, ela acaba descobrindo Kollmick, que para livrar a cara de Keane diz ser um conselheiro matrimonial contratado para ajudar o casal.

A produção com fortes traços absurdos, é escrita e dirigida pelo turco Tolga Karaçelik, que ainda tem a sagacidade de transformar o modus operandi do suposto homicida numa receita de sucesso para salvar o casamento de seus clientes de araque. Tais momentos, com um Steve Buscemi (praticamente um live action do Ned Flanders de Os Simpsons) seríssimo a la Leslie Nielsen, são apenas algumas das cartas na manga de Karaçelik. O cineasta ainda é bem-sucedido em fomentar outras intrigas, especialmente aquela em que Suzie cisma que seu marido quer assassiná-la.

A boa química do elenco e piadas que tiram proveito do absurdo da narrativa (uma lhama chega a aparecer, por exemplo), contribuem para uma atmosfera que cumpre a promessa de arrancar altas gargalhadas justamente por não ter medo de abraçar a natureza estapafúrdia do material de origem. Pena que Karaçelik jamais desvenda os mistérios acerca de Kollmick. A dúvida sobre a veracidade de seu relato impede o espectador de se entregar de corpo e alma, deixando margem para uma reviravolta que, na verdade, nunca acontece (e nem deveria). Magaro (de Vidas Passadas) surpreende ao explorar o humor, unindo comédia física e autodepreciativa com inédita eficácia, ao passo que Lower, em alta com a excelente série Ruptura, aproveita o melhor arco do roteiro. Que por sua vez merece créditos por subverter convenções da Comédia Romântica, como no uso dos amigos do protagonista (a de Suzie não hesita em fortalecer a tese de que Keanie é um assassino).

Inteligente o bastante para concluir um arco dramático específico de forma surpreendente, Conselhos de um Serial Killer Aposentado é uma comédia de humor negro não palatável para todos os gostos, mas deliciosa para quem se arriscar a saboreá-lo.
NOTA 7