CRÍTICA | "Honey, Não!"
- Guilherme Cândido

- há 27 minutos
- 3 min de leitura
*Crítica publicada durante o Festival do Rio 2025

Quando casais famosos se separam, há muita comoção especialmente da parte dos fãs. Foi assim com Edson Celulari e Cláudia Raia, Fátima Bernardes e William Bonner, Angelina Jolie e Brad Pitt, e muitos outros. No entanto, ao menos em termos profissionais, poucos términos de relacionamento foram tão impactantes quanto o dos irmãos Coen. Donos de um currículo invejável que inclui preciosidades como Ajuste Final (1990), Fargo (1996) e O Grande Lebowski (1998), os vencedores do Oscar por Onde os Fracos Não Têm Vez (2007) decidiram em 2021 seguir caminhos separados, encerrando mais de 30 anos de parceria. E enquanto Joel manteve o alto nível com A Tragédia de Macbeth (2021), o caçula Ethan caiu feio com o tenebroso Garotas em Fuga (2024).
Assim como ocorreu em sua estreia solo, o roteiro foi escrito por Ethan ao lado da esposa, Tricia Cooke, cada vez mais longe do brilhantismo do cunhado. E o mais estarrecedor de Honey, Não! nem é o senso de humor digno daquele tio que faz a piada do pavê (os jovens devem chamar de "cringe"), muito menos a insistência de tentar desconstruir a imagem de Chris Evans como queridinho dos filmes familiares, mas sim sua total incapacidade de convencer como um filme noir. Pior, é embaraçoso para Ethan Coen, um vencedor do Oscar, constatar que Seth Rogen demonstrou muito mais conhecimento no assunto em apenas um episódio de sua genial série O Estúdio do que Honey, Don't (no original) em seus sofríveis 89 minutos.

Margareth Qualley (A Substância) é Honey Donoghue, uma investigadora particular que assume o caso de um misterioso acidente de carro que terminou em morte. Em meio a cantadas de um inconveniente policial local, a jovem desfila pelos ensolarados cantos do Novo México à procura de pistas até finalmente se dar conta de estar no meio de um esquema muito maior do que pensava. Aubrey Plaza (Emily, a Criminosa), como uma burocrata de delegacia, faz as vezes de femme fatale, protagonizando sequências de sexo pouco imagéticas com Qualley. Apesar da falta de química, ambas encarnam bem seus papéis e mostram ter feito o dever de casa, ao contrário de seu diretor.

Ethan Coen já inicia a projeção com créditos que se misturam a fachadas e placas, alcançando um resultado mais confuso do que estiloso (e tenho certeza de que ele se julga descoladíssimo). O desencadeamento de eventos é frouxo e ocasionalmente arbitrário (especialmente quando Evans entra em cena), mas representa uma evolução para Coen, se considerarmos o caos de seu longa anterior. Um retrocesso, no entanto, é constatado no momento em que Honey cola um adesivo com a frase “eu tenho vagina e voto” sobre um emblema MAGA, demonstrando uma falta de timing desconcertante (além de soar panfletário).

Chris Evans, tão adorável no recente Amores Materialistas, surge repulsivo na pele de um mercador da fé ninfomaníaco. É refrescante vê-lo tentar se distanciar das produções açucaradas pelas quais ficou famoso, mas o eterno Capitão América não tem bala na agulha e nem idade suficiente para sustentar esse tipo de papel. E adicionar palavrões aos gestos expansivos de sempre e a fala acelerada não muda isso. No entanto, o impacto de seu personagem é positivo para corroborar o discurso do roteiro escrito certo por linhas tortas (até um relógio quebrado acerta a hora duas vezes).

Em seu auge, Honey, Não! soa tediosamente derivativo; nos seus piores momentos, é constrangedoramente panfletário, escapando do desastre absoluto graças ao talento de suas duas personagens femininas mais fortes.
Para o bem de Ethan, que os Irmãos Coen voltem a trabalhar juntos o quanto antes.
NOTA 3









