"De Férias da Família" é a segunda comédia derivativa de Kevin Hart no ano
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  • Foto do escritorGuilherme Cândido

"De Férias da Família" é a segunda comédia derivativa de Kevin Hart no ano


Sonny (Kevin Hart) é uma espécie de marido dos sonhos: pai carinhoso e que participa ativamente da vida dos filhos (envolvendo-se até mesmo com atividades extracurriculares na escola), também se revela um dono de casa devotado e extremamente responsável, permitindo que sua esposa Maya (Regina Hall) possa se concentrar em sua bem-sucedida carreira como arquiteta. Entretanto, sentindo-se um pouco desconectada dos filhos, ela combina com Sonny uma viagem sozinha com os pequenos durante um feriado, convencendo-o a tirar uma folga de seus afazeres domésticos. É quando surge o convite de seu melhor amigo Huck (Mark Wahlberg) para comemorar seus 44 anos em grande estilo após um período afastados em virtude da pandemia.


Bebendo da fonte do Cinema Hedonista da dupla Jon Lucas e Scott Moore, responsável por obras como Se Beber, Não Case, Eu Queria Ter a Sua Vida e Perfeita é a Mãe!, John Hamburg (Quero Ficar Com Polly) tenta construir sua própria versão da típica história de um personagem certinho e sufocado pela rotina que acaba entrando num ambiente anárquico liderado por uma figura de personalidade diametralmente oposta. Cineasta de carreira irregular - Eu Te Amo, Cara, seu último acerto, tem mais de dez anos, ao passo que o fraco Tinha Que Ser Ele? foi lançado em 2016 – Hamburg é incapaz de conceber um universo minimamente interessante.

Ao estabelecer o dia-a-dia de Sonny e suas interações no ambiente escolar, por exemplo, Hamburg, também autor do roteiro, apresenta coadjuvantes burocráticos e definidos por personalidades tão rasas quanto suas piadas. Andrew Santino (do hilário Artista do Desastre) é o que mais se aproxima do acerto, mesmo que protagonize gags datadas envolvendo sua esposa controladora.

E por falar em datadas, o realizador também investe num final que parece saído diretamente da década de 90, ao colocar todos os seus personagens numa cena melosa com o intuito de amarrar seus conflitos e escancarar uma mensagem "edificante". Tão constrangedores quanto esse momento são as tentativas de Hamburg em criar conflitos, invariavelmente definidos ora pela previsibilidade, como aquele envolvendo Sonny e Huck no terceiro ato, ora pela fragilidade dramática, já que a briga entre Sonny e Maya deixa de fazer sentido assim que lembramos que tudo foi motivado pela ideia que ela teve.

Surgindo mais uma vez no piloto automático, Kevin Hart se encontra numa fase produtiva, mas está ficando cada vez mais difícil distinguir seus personagens, pois além de o comediante adotar posturas quase idênticas, está sempre acompanhado de um sidekick com uma personalidade destoante, escrito sob medida para possibilitar suas reações. Depois de Ice Cube (Policiais em Apuros), Dwayne ‘The Rock’ Johnson (Um Espião e Meio) e Woody Harrelson (O Homem de Toronto, que estreou na Netflix há menos de três meses), é Mark Wahlberg a bola da vez, como o tipo descolado e bon vivant que costuma interpretar em comédias.

A dinâmica entre Hart e Wahlberg, pouco inventiva, depende demais do histrionismo do primeiro enquanto protagoniza gags tão absurdas quanto derivativas (o encontro com o puma), enquanto o segundo limita-se a reagir, servindo de escada cômica ou dramática no restante do tempo. Para piorar, a talentosa Regina Hall é desperdiçada num papel que lhe dá pouquíssimo espaço para colocar seu impecável timing cômico em prática.

Esquemático até o último segundo, o roteiro ainda lança desajeitadamente comentários aleatórios sobre machismo e patriarcado no meio de piadas envolvendo fezes e vômitos (marca registrada dos filmes com Kevin Hart) ao invés de se preocupar com seus próprios furos (o celular sem sinal que exibe notificações do Instagram; o dedo quebrado que é usado para tocar teclado e que surge já programado com a música de um famoso cantor que faz uma participação surpresa).


Lançando a segunda comédia derivativa estrelada por Kevin Hart num espaço de menos de três meses, torço para que a Netflix não esteja planejando um Kevin Hart Cinematic Universe para abrilhantar o seu catálogo...


NOTA 4


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