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Divertido, 'Os Roses' traz Colman e Cumberbatch impecáveis

  • Foto do escritor: Guilherme Cândido
    Guilherme Cândido
  • 27 de ago.
  • 3 min de leitura

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Um ano depois de co-estrelar o sucesso Irmãos Gêmeos (1988) ao lado de Arnold Schwarzenegger e dois anos após estrear como diretor no divertido Joguem a Mamãe do Trem (1987), Danny DeVito resolveu repetir a dose ao comandar A Guerra dos Roses (1989), produção na qual teve a chance de reeditar a parceria de sucesso com Michael Douglas e Kathleen Turner, trio dos divertidíssimos Tudo Por Uma Esmeralda (1984) e A Joia do Nilo (1985). No longa, uma adaptação do romance de Warren Adler (1927-2019), Douglas e Turner interpretavam marido e mulher que se descobrem mergulhados num ódio mútuo, culminando num divórcio cuja batalha pela luxuosa casa é encarada de forma literal pelos ex-pombinhos. A dupla carismática e talentosa de protagonistas, aliada a boas piadas de humor negro, transformaram o longa-metragem num tremendo sucesso para a Fox, alavancando também a carreira de DeVito como diretor, cujo auge chegaria sete anos mais tarde com o clássico Matilda (1996). É de se estranhar que Hollywood tenha demorado mais de três décadas para finalmente dar sinal verde a um remake, ainda mais em tempos bélicos como os que estamos vivendo e considerando a escassez de comédias nas telonas.

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Mas como substituir os magnéticos intérpretes originais? Para se distanciar de uma cópia barata, a produção foi ousada ao apostar em dois britânicos famosos por papéis dramáticos. Felizmente, Olivia Colman (vencedora do Oscar por A Favorita) e Benedict Cumberbatch (indicado ao Oscar por O Jogo da Imitação e Ataque dos Cães) também são mundialmente reconhecidos pela versatilidade, o que fica claro logo nos primeiros segundos de projeção deste Os Roses - Até Que a Sorte os Separe, nova adaptação da obra de Adler e que chega aos cinemas brasileiros neste final de semana.

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Ao invés de refazer o longa de 1989, o roteirista Tony McNamara (indicado ao Oscar por Pobres Criaturas e pelo já citado A Favorita) opta por beber somente da fonte literária, narrando o relacionamento de Ivy e Theo do fim ao início, com direito a um prólogo impecável que nos mostra a gênese da paixão fulminante dos Roses com eficiência, economia e, claro, muito bom humor.

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Se o filme anterior fazia pausas irritantes para que o descartável personagem de Danny DeVito pudesse narrar até o que não presenciou, esta nova versão ganha uma estrutura mais conservadora, nos moldes das comédias românticas clássicas. O diferencial fica por conta de bem-vindas atualizações, esvaziando, por exemplo, uma eventual interpretação machista, que facilitava a vilanização do personagem de Michael Douglas. Dessa vez, há uma inversão na dinâmica do casal e Cumberbatch faz questão de acentuar a sensibilidade de Theo.

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Mais conhecido como o Doutor Estranho do Universo Marvel, o londrino tem a oportunidade de mostrar seu vasto arsenal cômico, pois além do timing excepcional, ele também se sai admiravelmente bem no humor físico, talvez a maior surpresa do projeto. Expressivo, também é muito difícil conter as gargalhadas quando Cumberbatch resolve investir nas próprias reações, por vezes recuperando gags bobas como aquelas protagonizadas por Kate McKinnon (Barbie), que faz milagre com o tempo de tela limitado. Já Andy Samberg, o eterno Jake Peralta da série Brooklyn Nine-Nine (2013-2021), tem espaço para aprimorar o papel herdado de DeVito. Aliás, Samberg e McKinnon ganham de presente a melhor piada do roteiro, quando McNamara tira sarro da fama armamentista dos estadunidenses.

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O show, por outro lado, é mesmo de Cumberbatch e Colman, talentosos a ponto de engrandecerem o já eficiente primeiro ato e amenizarem o arrastado segundo, quando o roteirista passa a se concentrar no lado dramático de sua história. A carência de risos dá lugar a uma troca saborosíssima entre os experientes atores, seja através de farpas afiadíssimas ou de interações imprevisíveis. Colman, um dos grandes nomes de sua geração, conquista com uma composição marcada pelos olhares, transitando entre extremos com perfeito equilíbrio. Repare como um diálogo repleto de sincericídios começa com a inglesa entregue a uma expressão de ternura apenas para, em questão de segundos, se transformar num vetor de agressividade.

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Se perde tração lá pela metade, Os Roses volta aos trilhos quando enfim desiste de adiar o chamariz do projeto: o conflito entre Ivy e Theo. Embora dure bem menos do que no filme de 1989, essa versão colhe os frutos da construção dramática feita na primeira metade, trocando o humor negro pela intensidade: enquanto DeVito pesava a mão ao testar o bom senso perante a plateia, com gags envolvendo urina e violência animal, o veterano Jay Roach (do excelente Entrando Numa Fria) é inteligente ao confiar no potencial de seus brilhantes intérpretes, que de fato são hábeis em provocar o riso sem precisar de sequências elaboradas.

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Mesmo que derrape numa metáfora destrambelhada sobre uma baleia, o resultado, no geral, é uma comédia mais leve e que merece elogios por tocar em assuntos socialmente efervescentes, além de oferecer um olhar mais extravagante sobre o matrimônio.


NOTA 7

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