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Foto do escritorGuilherme Cândido

Engenhoso e complexo, "Monster" traz Kore-eda em grande forma


Com mais de trinta anos de carreira, o cineasta japonês Hirokazu Kore-eda se tornou conhecido por conceber narrativas delicadas e intimistas, exatamente como Assunto de Família (Shoplifters), longa-metragem vencedor da Palma de Ouro e indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2018. Em Monster, primeira produção desde A Luz da Ilusão (1995) que ele dirige sem ter escrito o roteiro, Kore-eda trilha um caminho diferente, estabelecendo um enredo mais intrincado em sua estrutura, mas não menos poderoso emocionalmente.

Escrito por Yûji Sakamoto, o script é engenhoso ao apresentar várias perspectivas diferentes de uma mesma história, contada a partir do momento em que o jovem Minato (Soya Kurokawa), chega em casa ferido e coloca a culpa no professor recém-contratado. Furiosa, a mãe do rapaz (Sakura Ando, também de Assunto de Família) vai até a escola buscando explicações, conseguindo apenas um protocolar pedido de desculpas da diretora (Yûko Tanaka) e de Hori (Eita Nagayama), o tal professor.

Essas contradições, que subvertem as expectativas do público mais ou menos a cada vinte minutos, frequentemente induzem ao erro, favorecendo especulações que nem sempre se provam certas. E Sakamoto faz isso sem trapacear, utilizando-se meramente do artifício de embaçar o contexto durante as mudanças. Nesse sentido, ele se beneficia de uma montagem absolutamente extraordinária do próprio diretor Kore-eda, que liga as versões através de dispositivos secundários. Note como o som de um instrumento de sopro é ouvido ao fundo de uma cena, apenas para, mais tarde, revelar-se fundamental para contextualizar outro momento.

Uma espécie de Close caso fosse escrito por Christopher Nolan (sem o tradicional excesso de explicações, obviamente), Monster é um filme tão complexo quanto emotivo. E enquanto Lukas Dhont soube trabalhar como ninguém o subtexto de sua obra-prima, a mais nova excelência atingida por seu colega japonês é mais incisiva em seu discurso, o que futuramente deve representar uma ótima sessão dupla.


NOTA 9


* Crítica publicada durante o Festival do Rio 2023

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