"F1: O Filme" é uma propaganda eletrizante da Fórmula 1
- Guilherme Cândido
- há 1 dia
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Tendo debutado com o divertido espetáculo computadorizado TRON: O Legado (2010), é no mínimo irônico o fato de Kosinski estar se tornando um nome forte da ação visceral e seu mais novo trabalho reforça essa tendência. No entanto, apesar de contar com boa parte da equipe técnica de seu fenomenal Top Gun: Maverick, F1: O Filme não é exatamente o “Top Gun com carros” alardeado por aí. A experiência imersiva, potencializada pelo esmero técnico e pela intensidade dos set-pieces, é destaque novamente, mas desta vez desacompanhada das demandas emocionais.

Escrito pelo mesmo Ehren Kruger, agora sozinho, o roteiro ressignifica o termo “fórmula” eludido no título ao reciclar elementos presentes em praticamente todos os filmes esportivos, especialmente aqueles sobre automobilismo. Estão lá o veterano avesso a regras, o novato arrogante, a rivalidade, o executivo traíra, o arco de superação, o evento traumático, entre outros. Dispensando apresentações, é Brad Pitt quem vive Sonny Hayes, um ex-piloto de Fórmula 1 que aceita retornar para impedir o fracasso da escuderia de Ruben (Javier Bardem, visto recentemente em Duna: Parte Dois), amigo e antigo colega de equipe. Chegando lá, Hayes encontra um cenário hostil, tendo de trabalhar com o novato Josh Pearce (Damson Idris, do Zona de Combate da Netflix) para conquistar uma improvável vitória no altamente competitivo campeonato mundial.

Não bastasse a estrutura formulaica, Kruger é incapaz de criar um laço afetivo dos personagens com o espectador. Dessa forma, não adianta o responsável por bombas como Sangue e Chocolate (2007) e Transformers: A Era da Extinção (2014) apelar para surpresas dramáticas, uma vez que não chegamos de fato a nos importar com o destino dos envolvidos. Essa, aliás, é a principal diferença entre F1 e Top Gun 2, pois é justamente o combo representado pelos riscos implicados e nosso apego por Maverick, Rooster e companhia, que nos mantém engajados e tão suscetíveis ao drama, principalmente no final, quando alívio e emoção caminham lado a lado.

Felizmente, o que falta à produção em termos dramáticos, sobra em adrenalina, muito por conta do esforço de uma equipe técnica comprometida em oferecer a mais visceral das experiências cinematográficas (e se você puder tê-la em IMAX, será recompensado). Além da câmera nervosa e sempre próxima da ação, outro ponto positivo é o design de som, tão espetacular que até a boa trilha do mestre Hans Zimmer é esporadicamente interrompida para apreciarmos a excelência sonora. Já a montagem do oscarizado (por Traffic), mas irregular Stephen Mirrione, de fracassados originais Netflix (Spiderhead e O Céu da Meia-Noite) e também de obras premiadíssimas (O Regresso e Birdman), é bem-sucedida ao incorporar traços da linguagem televisiva sem perder o dinamismo, representando também um afago ao público das transmissões.

Falando em afago, Brad Pitt mostra-se um tremendo acerto de casting: inquestionavelmente carismático e estiloso, o ator norte-americano não tem a menor dificuldade em fazer de Sonny Hayes o bad boy irresistível tão presente em sua filmografia. Inclusive, vale destacar a forma com que o filme trabalha a questão envolvendo sua idade, com Hayes tendo de lidar com questões normalmente evitadas em outras obras. E se Javier Bardem e Kerry Condon cumprem tabela com papéis aquém de seus talentos (o que não significa que são piores ou mal interpretados), Damson Idris brilha como o impetuoso Josh Pearce: cheio de personalidade e expressivo (com direito a uma pitada de sarcasmo), o jovem londrino mostra ao apático Archie Madekwe (calcanhar de Aquiles da adaptação de Gran Turismo) como construir um bom piloto novato.

Em contrapartida, por mais eletrizante que seja, o que ameniza seu vácuo emocional, F1: O Filme ainda tropeça ao não conseguir disfarçar sua natureza marqueteira, soando como uma longa propaganda dos produtos da marca F1. E se escrevo no plural é porque, além de pilotos (espere muitas participações especiais), equipes, circuitos, vinhetas e grafismos, a produção faz questão de encontrar espaço para divulgar o próprio videogame, numa sequência para lá de gratuita.

No final das contas, é divertido ver a narrativa tentar nos convencer de que está tomando caminhos não convencionais (a estratégia de Sonny, por exemplo), quando o destino é sempre o mesmo, fazendo de F1: O Filme um caro showcase do produto Fórmula 1, concebido num molde familiar (até demais), mas com estilo de sobra para cativar os amantes do bom Cinema de Ação Visceral.
NOTA 7