top of page

Festival de Cinema Europeu Imovision #8: "Dreams"

  • Foto do escritor: Guilherme Cândido
    Guilherme Cândido
  • 2 de mai.
  • 3 min de leitura

Dreams (Sex Love)

(Drømmer, Noruega)


Vencedor de três prêmios no Festival de Berlim 2025, incluindo o Urso de Ouro, Dreams é a parte final de uma trilogia idealizada pelo realizador norueguês Dag Johan Haugerud, sendo Sex e Love (aos quais não assisti) as primeiras. Drømmer, no original, pode ser resumido como um conto febril sobre o primeiro amor, aquele experimentado na adolescência, fase na qual sentimentos ganham proporções difíceis de serem administradas. Haugerud conta sua história através do olhar e da prosa de Johanne (Ella Øverbye, melancólica na medida certa), que aos 17 anos se vê perdidamente apaixonada pela professora de francês, Johanna (Selome Emnetu).


Sem saber lidar com o turbilhão de efeitos colaterais da primeira paixão, seu impulso inicial é escrever sobre o que está sentindo, como se quisesse eternizar para si aquele momento tão singular. Nesse processo, ela se descobre uma questionadora nata, refletindo sobre a memória e ilustrando com uma crueza impiedosa a dor do amor não correspondido. Aliás, o Amor é outro mistério a ser desvendado pela moça.

O problema é que Haugeraud, responsável também pelo roteiro, investe numa narração tão excessiva, que as imagens tornam-se meramente ilustrativas, uma redundância narrativa cansativa e que desgasta a protagonista. Apesar do jogo de cintura com as palavras, Literatura e Cinema são linguagens distintas, ainda mais quando estamos lidando com um material digno de elogios, pois intenso e genuíno, mas banal (palavra do terapeuta de Johanne, não minha) em análise mais generalizada.

A fotografia ensolarada de Cecilie Semec e a trilha aveludada de Anna Berg ajudam na construção desse retrato puro e idílico sob o prisma de uma escritora talentosíssima. Tanto que avó e mãe, quando apresentadas ao diário de 95 páginas, chocam-se não pelo conteúdo íntimo, mas pelas habilidades da menina.

Justamente quando a narração dá uma trégua, Dreams evolui até quase se transformar num filme completamente diferente graças à extensão do tempo de tela de Ane Dahl Torp e Anne Marit Jacobsen. Torp vai do arquétipo de mãe ocupada e consequentemente negligente, para uma mulher nostálgica, lidando com as memórias desbloqueadas pela experiência da filha, ao passo que Jacobsen, no papel de uma poetisa profissional, traz ternura num primeiro momento apenas para ganhar contornos mais ambíguos posteriormente. Não por acaso, o melhor momento da projeção é quando as mulheres mais velhas resolvem rememorar Flashdance (1983) sob um viés ideológico, rendendo um debate divertido e acalorado.

Demonstrando um controle narrativo invejável, Dag Johan Haugerud logo retorna à angústia de Johanne, mas caminhando para um desfecho desonesto quanto à natureza da narração. Se inicialmente somos induzidos a acreditar se tratar de versos tirados do texto da moça (o off é interposto a imagens da mãe lendo-o), chegamos a nos conformar com a ideia representada por um mero recurso dramático (mais preguiçoso do que poético), até o diretor/roteirista revelar que toda a verborragia provém de uma sessão de terapia. O problema é que a protagonista comenta passagens que não presenciou, como ao responder de forma ressentida a declarações de Johanna. Haugerud também colhe resultados irregulares ao investir em simbolismos: se acerta na analogia à Escada de Jacó, erra feio na concepção de um número musical desajeitado que deveria elucidar os sonhos de uma personagem.

Por mais que traga provocações interessantes sobre a memória e desperte reflexões agridoces de uma época universal sem problematizar questões queer, apresentando uma cenografia refinada (o apartamento de Johanna povoado por elementos de lã é um toque bem pensado) e uma direção competente, Dreams não consegue ir além da trivialidade que compõe o seu cerne.



NOTA 6

bottom of page
google.com, pub-9093057257140216, DIRECT, f08c47fec0942fa0