Festival Filmelier no Cinema: #6 - O Último Soldado
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  • Foto do escritorGuilherme Cândido

Festival Filmelier no Cinema: #6 - O Último Soldado


Com mais de quarenta anos de carreira, Bille Auguste é um daqueles cineastas que podem se orgulhar por ter conquistado a Palma de Ouro duas vezes (com Pelle, O Conquistador em 1988 e As Melhores Atenções em 1992) entrando para um seleto grupo que conta com Francis Ford Coppola, Ken Loach, Michael Haneke e outros grandes nomes. O dinamarquês também foi responsável por obras valorosas como A Casa dos Espíritos (1993) e a versão de 1998 de Os Miseráveis, mas nos últimos anos tem emprestado seu prestígio a produções de pouca expressão, especialmente em sua terra natal. Seguindo neste caminho, Auguste surpreendeu ao ser anunciado como o diretor deste O Último Soldado que fez parte de uma leva de produções financiadas por empresas chinesas com o intuito de atrair nomes internacionais para movimentar o mercado local, assim como o épico A Grande Muralha, por exemplo, que contou com astros como Matt Damon, Willem Dafoe e Pedro Pascal. Não é difícil de imaginar o que motivou o aceite de Auguste, afinal, todos temos que pagar contas, não é mesmo?

O envolvimento dos chineses passa longe de ser um mero investimento, diga-se de passagem, pois o filme apresenta uma história da Segunda Guerra Mundial contada a partir da perspectiva chinesa, o que permitiu à produção uma atenção especial à recriação da época, mas não a impediu de fazer um retrato maniqueísta dos japoneses (rivais históricos), aqui representados por militares concebidos como verdadeiros monstros capazes apenas de atrocidades, como matar e estuprar inocentes.

A trama se passa pouco depois do ataque do Japão a Pearl Harbor, em 1941, quando os Estados Unidos ordenaram uma série de missões com o intuito de bombardear Tóquio e aumentar o moral. Uma dessas missões é liderada por Jack (Emile Hirsch), jovem piloto que acaba caindo com seu B-25 em território chinês e sendo o único sobrevivente da tripulação. Ferido, ele recebe os cuidados de Ying (Liu Yifei) e sua filha Nunu (Fangcong Li) que o escondem dos invasores japoneses.

O roteirista Greg Latter, que concebeu o script a partir de um argumento desenvolvido pelo diretor, não demonstra o menor esforço para disfarçar o caráter protocolar da produção, prendendo-se a clichês que convertem O Último Soldado numa experiência previsível do início ao fim. Você certamente já assistiu a dezenas de filmes semelhantes e provavelmente até melhores, ou ao menos que não tenham recorrido a artifícios baixos para garantir o suspense e manter a atenção do espectador. O próprio esconderijo de Jack na casa de Ying traz lembranças de Bastardos Inglórios, algo tremendamente desfavorável para o filme de Auguste.

Emile Hirsch, que após despontar no elogiável O Clube do Imperador foi de ator promissor, estrelando grandes filmes como Na Natureza Selvagem e Alpha Dog, a figurinha carimbada de produções de quinta categoria, tornando-se o queridinho daquelas produtoras especializadas em filmes lançados digitalmente. Talvez por conta do fracasso retumbante do subestimado Speed Racer ou apenas de escolhas ruins, a verdade é que O Último Soldado é um sopro de esperança na carreira de Hirsch, que ao menos mantém o profissionalismo ao oferecer uma atuação adequada como Jack.

Embora Liu Yifei (Mulan) chame a atenção com a performance resignada como Ying, exibindo uma presença de cena forte o bastante para carregar grande parte do filme nas costas, o destaque do elenco fica por conta da estreante Fangcong Li, que rouba a cena como a precoce Nunu, cuja perspicácia por vezes desafia a liderança da mãe, além de provocar boas gargalhadas com seus comentários sobre o piloto (aproveitando a dificuldade de comunicação).

Com efeitos visuais que oscilam entre o artificial e o apenas correto, algo refletido em toda a parte técnica, Bille Auguste merece elogios pelo empenho em fazer de O Último Soldado um filme digno de nota, driblando limitações orçamentárias e conferindo peso a uma narrativa consciente de sua importância histórica (mais de 250 mil chineses foram assassinados pelos japoneses como represália por ajudarem os norte-americanos).

Chegando ao fim de forma apressada, o que resulta em conclusões desajeitadas de alguns arcos importantes (um militar de alta patente surge para anunciar o futuro de Jack e seu relacionamento com Nunu), O Último Soldado é um filme ambicioso em suas intenções, mas apenas modesto em sua execução, representando um ponto baixo na carreira respeitável de Bille Auguste.


NOTA 5

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