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'Lilo & Stitch' não chega aos pés do desenho original

  • Foto do escritor: Guilherme Cândido
    Guilherme Cândido
  • há 1 dia
  • 4 min de leitura

Demorou, mas chegou a hora de a Disney fazer o seu próprio remake em live-action de Lilo & Stitch. Apesar da recente onda de tropeços, culminando no fracassado Branca de Neve, a companhia teve seus acertos, como nos casos de A Bela e a Fera, Aladdin e, especialmente, Meu Amigo, o Dragão, apresentando, senão versões excepcionais, boas adaptações. Lançado em 2002, Lilo & Stitch pode não ser um clássico atemporal, mas é simpático e adorável o bastante para sustentar uma base leal de fãs que cresceram aprendendo que Ohana significa família.

 

Unindo as duas versões está a história de Lilo, uma menina havaiana com dificuldade para fazer amigos e passando por maus bocados com Nani, irmã mais velha com quem vive após a morte dos pais. Num belo dia, porém, ela resolve adotar um cachorro, sem saber que, na verdade, o animal é uma experiência alienígena cuja fuga o levou à Terra. Também em busca de pertencimento, Stitch, como passa a ser chamado pela garotinha, descobre o verdadeiro significado de família enquanto tenta escapar de dois conterrâneos prontos para levá-lo de volta ao seu planeta-natal.

No desenho, Lilo & Stitch formam um laço maior do que a amizade entre um animal de estimação e seu tutor. Ambos estão deslocados, são peixes fora d’água que se veem destinados a fazerem “coisas ruins” enquanto forças exteriores aparecem para tirá-los de seus lares. Enquanto à menina sobra um resquício desse conflito, a criatura (fruto de efeitos visuais impressionantes) perde completamente seus dilemas, sendo relegado a montagens engraçadinhas envolvendo sua vocação para a destruição.

Aliás, os roteiristas Chris Kekaniokalani Bright e Mike Van Waes mal desenvolvem o arco dramático da protagonista, pois passam a maior parte do tempo preocupados em reproduzir ipsis litteris as sequências mais marcantes do longa de 2002, transformando este remake numa espécie de “melhores momentos” que jamais funcionam plenamente em conjunto. A montagem burocrática de Phillip J. Bartell (Mansão Mal-Assombrada) e Adam Gerstel (Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania) salta de beat para beat sem deixar o espectador processar o que está acontecendo na tela. É como se os profissionais tivessem sido contratados apenas para costurarem uma série de esquetes na esperança de que os fãs relevassem a falta de coesão narrativa.

Pois este novo Lilo e Stitch, é feito sob medida para viralizar na internet graças à fidelidade com que recria os planos da animação. Essa abordagem acaba sendo o bastante para os executivos da Disney, pois tende a garantir o tão almejado bilhão nas bilheterias. Afinal, serve como um gatilho para acionar a commodity mais valiosa da indústria do entretenimento atualmente: a nostalgia. Nada importará mais do que a sequência da primeira briga entre Lilo e Nani, ou a imagem de Lilo, Nani e Stitch surfando ao som de "Hawaiian Roller Coaster Ride".

Com isso, perde-se a magia que irradiava no original. Muito mais do que o humor, multifacetado através das criativas interações de Stitch com os demais personagens, havia alma naquela produção e, na pior das hipóteses, uma lógica interna para além da fórmula Disney. Quem assistiu ao desenho, claro, saberá de cor tudo o que acontecerá e, até por isso, pouco sentirá as lacunas que surgirão, ao passo que os marinheiros de primeira viagem terão que se contentar com facilitações que só expõem a natureza simplória do roteiro. Não apenas os diálogos são mecânicos e excessivamente didáticos, como a própria reconstrução da família por meio do protagonista (o mote principal) soa protocolar e lembremos que Stitch precisa remendá-la para ser devidamente acolhido.

Por outro lado, a produção merece os créditos por simplificar o truncado terceiro ato, que ainda dependia de uma decisão incongruente envolvendo o vilão Jumba. Outro ponto positivo é o elenco principal, cujas escalações não são menos do que certeiras, especificamente a novata Maia Kealoha como Lilo e Sydney Agudong (West Michigan) como Nani. A primeira transmite o mesmo misto de travessura e inocência que orbitava a heroína, ao passo que Agudong corrige outro problema do roteiro original ao focar na juventude de Nani e em suas ambições. Já os coadjuvantes não surpreendem: Billy Magnussen, que já foi Príncipe Disney com o razoável Caminhos da Floresta, parece eternamente preso ao papel do sorridente pouco inteligente, enquanto Zach Galifianakis (Se Beber, Não Case) está deslocado na pele de um vilão que jamais exige seus talentos.

E por falar em talento, é imperdoável o desperdício do cineasta Dean Fleischer Camp, acostumado à fofura (é dele o espirituoso Marcel, a Concha de Sapatos), mas limitado à função de mão de obra contratada, sendo incapaz de imprimir seu estilo. Outro desapontamento é a participação de Courtney B. Vance (vencedor do Emmy pelas séries Lovecraft Country e American Crime Story), um figurante de luxo na pele de Cobra Bubbles, figura emblemática em 2002 e completamente perdido em 2025.

 

Pois no final das contas, essa falta de personalidade é o que define o novo Lilo & Stitch, uma produção que sofre para fazer o básico e cuja identidade se perde completamente no caminho entre desenho e live-action.


NOTA 5

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