"Lou" é mais uma tentativa fracassada de reproduzir "Busca Implacável"
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  • Foto do escritorGuilherme Cândido

"Lou" é mais uma tentativa fracassada de reproduzir "Busca Implacável"

Atualizado: 26 de set. de 2022


Após se ver dominado por brucutus anabolizados durante décadas, o Cinema de ação experimentou algumas reinvenções ao longo das últimas décadas. Figuras mais vulneráveis, isto é, mais próximas de seres humanos, começaram a ganhar espaço, como ficou evidente após Matt Damon surgir pela primeira vez como Jason Bourne e impactar a Indústria, modernizando também os filmes de espionagem. Em seguida, foi a vez dos astros de filmes de ação ganharem outra roupagem ao serem redefinidos por Liam Neeson, ator que aos 56 anos aceitou estrelar Busca Implacável. A oportunidade de ver um veterano do calibre do astro norte-irlandês distribuir pancadas mesmo perto de entrar na terceira idade foi recebida com entusiasmo pelo público e consequentemente pela Indústria, que reabriu as portas para talentos já distantes do auge.

De repente, fomos atropelados por uma manada de produções querendo tirar uma lasquinha do sucesso da recém-criada franquia Busca Implacável, inaugurando uma espécie de linha vintage do Cinema de ação moderno. No entanto, mesmo que seja sempre divertido ver ex-queridinhos de Hollywood como Pierce Brosnan, Mel Gibson, Jackie Chan e Jennifer Garner massacrando vilões, a verdade é que seus retornos triunfais nem sempre significavam bons filmes. A exceção mais recente é o ótimo Anônimo, que transformou o veterano comediante Bob Odenkirk em astro de ação. Já Allison Janney, outra vinda do humor e que há menos de 5 anos ganhou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por Eu, Tonya, tentou seguir o mesmo caminho, mas seu tiro acabou saindo pela culatra.

Isso porque o roteiro assinado por Maggie Cohn (vindo da TV) e pelo estreante Jack Stanley não consegue disfarçar o desespero da produção em fazer de Lou o Busca Implacável de Allison Janney. Estão lá todos os tropos consagrados pelo filme de 2008, desde o sequestro de uma filha até o passado como agente secreto que, claro, é usado como subterfúgio para viabilizar combates corporais mais viscerais. Os clichês até poderiam ser relevados, caso estivessem a serviço de um veículo para promover as habilidades de Janney como estrela de ação. O problema é que Lou, sua personagem, além de não matar mais do que dois capangas na principal sequência de ação do filme, ainda se vê no centro de uma trama desgastada por convenções e repleta de reviravoltas pouco plausíveis, o que representa um gigantesco desapontamento.

Preparando o espectador desde o início da projeção para o momento em que finalmente veremos Lou em ação, a tal sequência é construída com cuidado, divertindo muito mais do que a ação que a conclui. Apostando na aparência envelhecida para convencer dois brutamontes de sua fragilidade, Lou estuda rapidamente a situação na qual se encontra (no interior de uma cabana) enquanto abusa dos gestos lentos e da voz claudicante para manter o disfarce. Porém, quando as coisas finalmente esquentam (literalmente), mal conseguimos vê-la em cena, graças ao equívoco de trazer a mulher vestindo as mesmas cores presentes no ambiente.

A fotografia infelizmente não ajuda, investindo em tons escuros que tornam tudo ainda mais caótico, principalmente nos momentos em que Lou é atirada contra a parede, fazendo com que a personagem se camufle. Para piorar, o restante do filme resume-se a uma espécie de caça ao tesouro, com o vilão vivido por Logan Marshall-Green (Upgrade) se prestando ao patético papel de deixar pistas para ser encontrado, enquanto aos poucos o roteiro clareia as intenções do sujeito, apresentando argumentos que farão o espectador ter de se esforçar bastante para aceitá-los de bom grado.

Na pele de uma espiã que sai da aposentadoria para recuperar a filha sequestrada de sua vizinha, Allison Janney não faz feio: surgindo em cena com cabelos grisalhos e desgrenhados, numa entrega acentuada pela frequência com que a vemos suja de lama ou encharcada pela chuva, Janney capricha na expressão sempre fechada e convence nas passagens que demandam um esforço físico maior, ainda que seu empenho seja sabotado pelo filme.

Finalizando a narrativa sem fechar as portas para uma possível continuação, Lou tinha tudo para ser para Alisson Janney o que Busca Implacável foi para Liam Neeson, mas o desespero da produção em reproduzir o sucesso da obra de 2008 foi maior do que a necessidade de construir uma história para sua talentosa protagonista brilhar.


NOTA 4



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