Mesmo esquecível, 'Família à Prova de Balas' é curto demais para entediar

Seguindo os passos de Vince Vaughn, Kevin James é mais um comediante a enveredar pelo caminho dos filmes de ação. No entanto, apesar de adotar o mesmo visual careca barbudo, o novaiorquino indicado ao Emmy de Melhor Ator Cômico pela bem-sucedida série The King of Queens (1998-2007), não vai tão fundo na ideia de mostrar ao público que também pode distribuir tiros e pancadas por aí. Enquanto Vaughn estrelou dois longas ultraviolentos do cineasta S. Craig Zahler e logrou algum êxito também na TV, protagonizando o segundo ano da antologia policial True Detective, James ainda luta por espaço na Indústria.

Como Jason Bourne, Matt Damon provou que não é preciso ter um físico imponente para prosperar no mercado, antes dominado por brucutus. Com Busca Implacável, Liam Neeson mostrou ao mundo que a idade é apenas um número quando o negócio é massacrar bandidos. Há jurisprudência também na Comédia, pois não faz muito tempo desde que Bob Odenkirk (o eterno Saul Goodman de Breaking Bad) arrebentou em Anônimo (2021), que por sua vez tem uma continuação programada para estrear em poucas semanas. Portanto, o que falta a Kevin James para brilhar como astro de ação?

Família à Prova de Balas, ou Guns Up (no original), chega ao Brasil pouco tempo depois de fracassar nas bilheterias norte-americanas, o que infelizmente não chega a ser uma surpresa, mas o culpado passa longe de ser seu protagonista.

O diretor Edward Drake, responsável por várias das atrocidades estreladas por Bruce Willis em seus últimos esforços antes de sua precoce e triste aposentadoria, tenta repetir a receita de sucesso utilizada por Anônimo (2021), ao escalar um humorista consagrado na pele de um assassino tentando proteger a sua família. Inclusive, Drake refaz a sequência em que o anti-herói tranca esposa e filhos num dos cômodos e apaga as luzes para promover uma verdadeira chacina dentro da própria casa.

O problema é que o cineasta não exibe um terço da criatividade do colega Ilya Naishuller, entregando-se a sequências burocráticas atrapalhadas pelos cortes frenéticos da montagem. O máximo que sua imaginação alcança é uma cena engraçadinha com Kevin James observando outro personagem dar cabo de uma dezena de bandidos enquanto passa na frente da câmera estática. O roteiro, esquemático, gera a impressão de que estamos diante da derivação de uma série de obras superiores.

Kevin James até se sai bem nos confrontos físicos e demonstra segurança portando armas, mas é seu ótimo timing cômico que se destaca, promovendo alguns dos momentos realmente inspirados do longa-metragem e salvando outros da mesmice, como aquele em que sustenta uma postura blasé ao questionar a agressividade de alguém ou seu olhar de reprovação para a esposa quando esta resolve rolar por um balcão ao invés de simplesmente dar a volta no mesmo.

Christina Ricci, que anda sumida de Hollywood (a ponta que fez em Matrix Resurrections não conta), é sabotada por uma escolha infeliz de marketing, que, por estupidez ou puro desespero, tem revelado nos materiais de divulgação a grande reviravolta envolvendo sua personagem. Assim, mesmo que a história melhore consideravelmente quando Ricci se posiciona lado a lado de Kevin James na Ação, perde-se o elemento surpresa, o que não deixa de ser frustrante. Até porque, a produção se esforça para pintar um retrato badass da atriz (com direito a ângulos de câmera imponentes e longos closes), cujo papel ganha uma divertida piada envolvendo John Wick.

Dessa forma, o terceiro ato não apenas ameniza a natureza reciclada do script, como tende a fazer o espectador deixar o cinema com uma boa impressão, que obviamente não durará muito tempo, especialmente se houver um daqueles deliciosos debates pós-sessão. Felizmente, Família à Prova de Balas é curto o bastante para não ser considerado uma perda de tempo, mesmo sendo facilmente esquecível.

NOTA 5,5