"Mortal Kombat" volta aos cinemas sem o Combate Mortal dos videogames
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  • Foto do escritorGuilherme Cândido

"Mortal Kombat" volta aos cinemas sem o Combate Mortal dos videogames

Eu não sou um dos adeptos da tese de que Hollywood ainda não foi capaz de produzir uma boa adaptação de game. Gosto, por exemplo, de Warcraft e Detetive Pikachu, mas reconheço que passam longe da excelência. Portanto, acredito ser mais adequado afirmar que ainda não fomos presenteados com um grande filme, ao passo que produções fajutas continuam chegando às telas, como é o caso deste novo Mortal Kombat. Esse desequilíbrio na proporção de bons e péssimos filmes de games é refletido pela inevitável desconfiança com que o espectador recebe cada notícia sobre uma nova adaptação de videogame.


Terceira tentativa de reproduzir nos cinemas o estrondoso sucesso que faz nos consoles, Mortal Kombat, dessa vez, tem a sorte de contar com fãs apaixonados por trás das câmeras. É o caso do diretor Simon McQuoid, veterano da publicidade que faz aqui sua estreia em longas-metragens. O roteiro, escrito a seis mãos, aproveita parte da mitologia dos games e trata seus personagens com reverência, respeitando suas características.


Logo, é uma pena que tamanho cuidado em transportar o conteúdo do game para o cinema resulte num filme tão pobre de narrativa. A pior de todas as decisões criativas, no entanto, é aquela que inacreditavelmente exclui o torneio que dá nome à franquia, ocasionando um efeito dominó que atinge o filme como um terremoto de proporções épicas. Afinal, de que vale todo o treinamento que permeia o segundo ato? Qual é o propósito? Qual o motivo de recrutar combatentes? Aliás, por quê se preocupar com lutadores se a intenção é impedir que o torneio aconteça? A grande “sacada” do roteiro é deixar o torneio propriamente dito para uma possível continuação?


Isso, claro, não impede a produção de colocar seus personagens para se digladiarem em sequências que podem até ser bem coreografadas, mas que são gravadas sem a menor energia. A montagem burocrática e a direção sem personalidade, transformam as lutas em algo que parece só existir para cumprir uma exigência (estamos falando de um projeto com uma massa de fãs apaixonados, não é mesmo?)


Para McQuoid e sua equipe criativa, o importante é retratar os personagens com fidelidade e metralhar o espectador com referências, seja a figuras do jogo original ou por meio de frases famosas, por mais gratuitas que possam surgir na tela. Mas diante de uma galeria de figuras unidimensionais, que parecem definidos por frases de efeito e golpes, isso parece pouco importar. Josh Lawson, por exemplo, encarna Kano como o clássico brutamontes de valores duvidosos, aqui encarado como alívio cômico. E o inexpressivo Lewis Tan, cujo talento para as artes marciais é inversamente proporcional ao seu alcance dramático, é obrigado a sustentar o estereótipo oposto a Kano, como homem de família repleto de princípios.


Já os efeitos visuais, pouco impressionantes para uma produção dessa magnitude, atuam no limite do realismo, sempre escapando pela tangente dos ambientes escuros. Indo na linha das referências, espere ouvir o tema do filme de 1995 ser tocado de inúmeras formas distintas, com seu ápice naquele que acaba sendo o melhor momento do filme: a aguardadíssima cena onde Scorpion solta seu bordão clássico “Get Over Here”, filmado com tanto esmero que é possível até imaginar os gritos efusivos de fãs no cinema.


E talvez esse exato momento seja suficiente para que jogadores fanáticos ao redor do globo ignorem decisões questionáveis e se contentem com lutas apenas razoáveis numa adaptação de Mortal Kombat sem um combate mortal. Enquanto isso, sigo aguardando os grandes estúdios de Hollywood finalmente acertarem em cheio numa adaptação de videogame.


Quem sabe eles conseguem numa DLC. Ops, numa continuação.


NOTA 4,5


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