"Não Feche os Olhos" transporta a linguagem dos pesadelos para as telas
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  • Foto do escritorGuilherme Cândido

"Não Feche os Olhos" transporta a linguagem dos pesadelos para as telas

É inegável o potencial que monstros e monstruosidades possuem para aterrorizar o espectador, não é à toa que o Cinema possui uma vasta galeria destes personagens, muitas vezes macabros. Mas a verdade é que por mais assustador que possa parecer uma criatura sombria, não há nada pior do que a nossa própria imaginação. Afinal, como já disse H.P. Lovecraft, mestre do horror literário, "o mais antigo e mais forte de todos os medos, é o medo do desconhecido". Quando isso é entendido por um cineasta/roteirista, o resultado tende a ser profundamente eficaz e, consequentemente impactante.


Baseando-se nisso, o cineasta estreante Anthony Scott Burns é extremamente hábil ao manipular a linguagem cinematográfica para permitir que o mundo dos sonhos invada o universo de sua história, espelhando a citação de Lovecraft dentro de seu próprio filme. O que seria pior para a protagonista do que vivenciar seus maiores pesadelos?


Essa lógica é estabelecida com maestria por várias sequências cuidadosamente elaboradas para emularem a lógica dos sonhos, o que torna Come True (no original) um poderoso veículo de terror moderno através das imagens sombrias e repletas de figuras taciturnas que a montagem cuidadosamente dispara em determinados momentos.


Assim, é natural que a protagonista seja uma adolescente com imensa dificuldade para se manter acordada. Por isso, cai do céu a chance de participar (como cobaia) de uma pesquisa que visa analisar o sono (e os sonhos) de pacientes voluntários e devidamente remunerados. Tudo parece perfeito até que seus pesadelos começam a ganhar vida.


Durante uma primeira metade absolutamente perturbadora, Burns cria uma atmosfera imprevisível que se equilibra entre o sinistro e o intrigante, mantendo o espectador sempre curioso, mas alerta para o que pode surgir a qualquer momento enquanto se envolve na vida da jovem heroína. E é exatamente por causa dessa expectativa criada pelo próprio diretor/roteirista que a segunda metade se revela uma decepção tão grande.


Logo após estabelecer conceitos instigantes e personagens ambíguos, Burns aos poucos joga tudo pela janela, começando com uma descartável subtrama amorosa que culmina numa desnecessária cena de sexo que lembra, e muito, um dos piores momentos do péssimo Slender Man: Pesadelo Sem Rosto.


Mesmo depois desse golpe, a trama segue caminhos interessantes e o espectador permanece engajado, mas Burns ataca novamente e passa a investir em momentos que buscam o susto fácil, como toda a sequência que se passa numa floresta. Por outro lado, nada chega perto da atroz cena final, onde, do mais absoluto e obscuro nada, surge um celular com uma mensagem enchendo a tela com um conteúdo que destrói quase tudo o que foi construído até ali, num plot twist que almeja um choque barato, mas que enfraquece a história em retrospecto.


Nem mesmo o reflexo do espelho que encerra a projeção soa tão tolo como o que é atirado na cara do espectador através daquele SMS. Uma pena, pois a experiência única e desconfortável criada por Anthony Scott Burns merecia uma conclusão menos sensacionalista.


NOTA 5,5

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