top of page

"O Grande Golpe do Leste" aborda crise alemã com bom humor

  • Foto do escritor: Guilherme Cândido
    Guilherme Cândido
  • 10 de jun.
  • 3 min de leitura

Turbulência e Alemanha são termos que, quando combinados, costumam remeter à época em que o Nazismo se alastrava pelo Velho Continente. No entanto, o período que envolveu a unificação do território alemão, marcado pela queda do Muro de Berlim em 1989, trouxe histórias suficientes para serem contadas pelos próximos cem anos.


Uma delas envolveu um grupo de residentes de uma cidade pequena da socialista Alemanha Oriental (ou República Democrática da Alemanha) que descobriu um depósito repleto de dinheiro descontinuado. Graças a uma brecha na Lei, que conferia um período de carência para a troca pela nova moeda, os cidadãos conseguiram recolocar as notas em circulação. Não pela ganância, claro, mas para ajudar a singela comunidade afetada pelo colapso econômico da antiga liderança soviética, como verdadeiros comunistas. O que começa como um plano para possibilitar aquisições de utensílios domésticos, como cafeteiras e fornos de micro-ondas, se transforma num projeto para comprar a fábrica local e entregar ao povo, novamente seguindo o Socialismo à risca.  

Meio filme de assalto, meio comédia, mas também meio sátira política e meio crítica social, O Grande Golpe do Leste tenta ser muitas coisas, e o que acaba se tornando não fica exatamente claro nas mãos de Natja Brunckhorst, mais conhecida como a protagonista do impactante Eu, Christiane F., 13 Anos, Drogada e Prostituída (1981). Em seu segundo longa-metragem como cineasta, Brunckhorst, também autora do roteiro, é hábil ao extrair leveza de uma situação muito séria. A atmosfera jocosa, facilitada pela fotografia ensolarada de Martin Langer deixa palatável uma trama potencialmente sombria, ao menos em termos políticos.

Se não chega a provocar gargalhadas expansivas, o filme jamais deixa de oferecer uma experiência agradável, embora o tom aprazível castre a trama dramaticamente. Inofensivo, Zwei Zu Eins (no original) tem mais valor histórico e didático do que vocação para provocar. O roteiro, frouxo, deixa escapar uma série de perguntas, minando a credibilidade de um desenvolvimento narrativo já à mercê da suspensão da descrença (os fatos embasam apenas a premissa). A estrutura, frágil, ainda expõe os próprios artifícios, como na rasa faísca que surge para desestabilizar o trio principal partindo de um mistério do passado.

Todavia, o elenco recheado de talentos é capitaneado por aquela que certamente foi a principal responsável na hora de justificar o lançamento deste projeto em solo brasileiro. Mundialmente famosa pelo espetacular desempenho, no igualmente espetacular Anatomia de Uma Queda, Palma de Ouro em 2023  e vencedor de um dos cinco Oscars aos quais foi indicado, Sandra Hüller (também nomeada ao prêmio da Academia), traz simpatia a um papel que oferece tão pouco material para uma atriz de tantos talentos. Ainda sobra espaço para Max Riemelt, estrela da finada Sense8 (2015-2018) e Ronald Zehrfeld brilharem. Espanta que Riemelt ainda não tenha conquistado Hollywood com seu carisma digno de um frontman, ao passo que Zehrfeld transmite a mesma aura gentil que exibiu no bom Dying – A Última Sinfonia (2024).

A forma divertida de lidar com as consequências da queda do Muro de Berlim lembra Adeus, Lenin! (2003), mas as comparações não ajudam. Enquanto o filme que lançou Daniel Brühl permanece até hoje como uma referência ao abordar um dos períodos mais nebulosos da História da Alemanha, O Grande Golpe do Leste dificilmente será lembrado após as luzes da sala de projeção se acenderem.



NOTA 5

bottom of page
google.com, pub-9093057257140216, DIRECT, f08c47fec0942fa0