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Foto do escritorGuilherme Cândido

"Presos na Floresta" não se liberta dos clichês em trama banal


Você certamente alguma vez já viu um filme protagonizado por alguém que passou toda a história preso em algum lugar ermo. Imagino que dezenas de obras estejam passando pela sua cabeça agora, mas apresentarei outro: Presos na Floresta: Fuja Se For Capaz. O que a versão brasileira tenta esconder e o título original escancara é que o grande diferencial do projeto é a boa e velha areia movediça, presente em inúmeras produções como mera coadjuvante (especialmente em aventuras como Indiana Jones), mas promovida a estrela nesse projeto colombiano recentemente adquirido pelo streaming Shudder (ainda fora do Brasil).


Na trama somos apresentados à médica Sofia (Carolina Gaitan, dubladora de Pepa na edição original de Encanto), que está visitando a Colômbia, seu país-natal, ao lado do marido Josh (Allan Hawco, o Coyote da série Jack Ryan) para comparecer a um congresso. Mas nem as virtudes de Bogotá são capazes de melhorar o relacionamento do casal, cujo casamento está em frangalhos. Tanto que Sofia mal consegue passar dois minutos ao lado de Josh (e ela nem imagina o que a aguarda...), mas com o adiamento da apresentação de esposa, Josh tem a brilhante ideia de fazer uma trilha na montanha mais alta do local. Ao se sentir desafiada, a mulher topa e os dois partem para explorar a floresta presente no título em português. Não demora muito para os dois caírem na famigerada areia movediça, que aprisionará marido e mulher durante o restante da projeção.

O nível pedestre da produção pode ser constatado logo nos primeiros minutos, quando o roteirista Matt Pitts, de séries como Fringe e Westworld, aproveita o trajeto de carro feito pelos personagens até o hotel para fuzilar o espectador com todas as informações possíveis sobre o casal, desde a motivação da viagem, passando pela revelação de que ela possui dois filhos e culminando na obsessão do marido em fazer uma trilha simplesmente porque se deu o trabalho de levar sua mochila. Isso nem seria um grande problema caso o roteiro se mostrasse um pouco mais criativo nos minutos seguintes. Infelizmente, Pitts permanece determinado a quebrar o recorde de diálogos expositivos, trocando apenas o interior do carro pela mesa de um restaurante. Aliás, é justamente nessa sequência que ficamos sabendo da importância da tal mochila, algo que poderia até ser encarado como um exemplo de foreshadowing, caso sua função não fosse tão descarada.


Além disso, Quicksand (optarei pelo título original para não ter que escrever a mastodôntica versão brasileira nas próximas vezes) não se furta em retratar seus protagonistas como indivíduos profundamente irritantes, seja pelas brigas tolas que passam o tempo todo alimentando, ou pelas decisões absurdas que tomam em determinados momentos, como na genialidade de Josh em abordar (desarmado) um assaltante assim que percebe sua presença. “Ele está arrombando o carro!”, diz ele em off dois minutos depois de já termos identificado o óbvio.

Exibindo um sorriso que lembra vagamente o saudoso Robin Williams, Alan Hawco convence como o marido grudento, mas bem-intencionado. Inicialmente até simpatizamos com sua situação perante os chiliques da esposa, mas logo desejamos que ele simplesmente cale a boca ou pare de ter ideias. Da mesma forma, Sofia é encarnada com uma seriedade excessiva por Carolina Gaitan, dificultando a suspensão da descrença ante eventuais disparates, por mais comovente que seja o esforço que a produção faz para ser levada a sério. Como não estranhar um autoproclamado “experiente adepto de trilhas” que mal se preocupa em checar a previsão do tempo antes de sair de casa? E nem mencionarei a falta de conhecimento da “médica” Sofia perante um evento dramático no segundo ato.


Enquanto isso, o diretor Andres Beltran (da série Primate, do Prime Video), tenta desesperadamente manter o espectador envolvido, apelando até mesmo para a câmera subjetiva ao tentar criar suspense sobre um determinado réptil (as comparações com a Nagini de Harry Potter são inevitáveis e não ajudam). Mas verdade seja dita, ele é competente ao impedir que o ritmo caia, mesmo durante os respiros, quando tenta trazer alguma profundidade aos protagonistas, mas é sabotado pela superficialidade do texto. Falando em superficialidade, é um crime a fotografia não ter aproveitado as belíssimas paisagens colombianas, limitando-se a tomadas aéreas (os drones realmente estão na moda) de estradas e da floresta enquanto o departamento de som faz o trabalho sujo de impedir que o público baixe a guarda (estamos diante de uma floresta, afinal).

Improvisando um arco dramático precário sobre Sofia e forçando a barra na desgastada dinâmica do casal em crise que redescobre o amor durante um perrengue, Quicksand não exibe um traço sequer de originalidade, contando com derivações em absolutamente todos os seus departamentos, desde o design de produção até a construção de seus personagens. Pelo menos, com a duração enxuta, o espectador não deverá esperar muito para saber como a história termina. Se é que já não descobriu lá pela metade da projeção...


NOTA 3


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