Projeto James Bond #08: Com 007 Viva e Deixe Morrer (1973)
Com 007 Viva e Deixe Morrer (Live and Let Die, 1973)
Um contrato milionário (5.5 milhões de libras) envolvendo até participações nos lucros não foi o bastante para manter Sean Connery, que deixou James Bond nas mãos de Roger Moore, escolhido pelos produtores após bem-sucedida carreira na TV (com a série O Santo, principalmente). Cotado inclusive para protagonizar o primeiro filme (quando perdeu o papel para Connery) e para substituí-lo (quando George Lazenby acabou com o papel), Moore entra de forma definitiva.
De fato, Moore traz uma leveza a Bond que acabou influenciando no tom de suas aventuras. Diferentemente de Lazenby, que foi incapaz de dar personalidade ao espião, Moore é hábil ao construir sua própria versão, mantendo a elegância de Connery, mas dispensando a malícia que caracterizou sua performance. Ao invés dos sorrisos debochados e das tiradas irônicas, Roger Moore investe num olhar honesto, transmitindo uma benevolência que, verdade seja dita, ressignifica o relacionamento de Bond com as mulheres (ao menos nesse filme).
Apresentando a primeira bond girl negra da série, Com 007 Viva e Deixe Morrer embarca na onda do blaxploitation, levando o agente secreto novamente aos Estados Unidos, país onde a história se passa quase inteiramente. Essa opção faz parte da intenção dos produtores em fazer de 007 um produto mais popular, assumindo-se como uma aventura mais comercial, aproximando a franquia do convencional, num claro efeito colateral desta pasteurização da marca.
Isso se aplica também à trilha sonora, com George Martin (lendário produtor dos Beatles) assumindo a função de John Barry). Mais pop, sua composição diminuiu o uso de orquestra e deixou a produção mais próxima dos filmes de ação estadunidenses da época. Já a canção-tema de Paul McCartney mostrou-se um tremendo sucesso, não por acaso, foi a primeira da franquia a ser indicada ao Oscar. Além de ser uma das melhores de toda a série, os diferentes compassos da música são aproveitados em momentos distintos do filme.
Apesar da acertada decisão de tornar o Bond de Roger Moore diferente daquele interpretado por Sean Connery (não há uma reunião na sala de M, cigarros ou um Martini, por exemplo), permitindo a Moore criar livremente seu próprio personagem, a produção investe pesado nas marcas registradas da franquia, como os gadgets e as perseguições, potencializando-as em situações feitas sob medida para que ganhassem destaque, como o relógio-ímã ou a espetacular perseguição de barco que até hoje permanece como uma das melhores de 007. Destaque também para a bond girl de Jane Seymour, adequada ao surgir com a combinação de carisma e beleza tão procurada pelos produtores.
Mesmo assim, a série acabou sendo alvo de controvérsia, especialmente em relação ao aproveitamento dos negros e da cultura afro. Tratados como elementos exóticos pelo roteiro (merecendo as críticas que recebeu), os negros, além de estereótipos, são um claro aceno de 007 ao blaxploitation, movimento que fazia sucesso na época com filmes como Shaft e Super Fly. Isso permite ao filme aproveitar Quarrel Jr., filho do personagem de 007 Contra o Satânico Dr. No, por exemplo, assim como uma breve referência ao comportamento policial, aqui retratado em tom jocoso (o delegado Pepper é uma caricatura completa). Todas as sequências passadas no Harlem e aquelas envolvendo rituais são meras tentativas de pegar carona no que fazia sucesso.
O que explica a escolha pelo vilão Kananga, surpreendentemente um dos mais convencionais de toda a série e com objetivos ainda mais verossímeis. Mais jovem a interpretar um antagonista na franquia, o nova-iorquino Yaphet Kotto aproveita bem o tempo de tela que tem, beneficiando-se da irreverência de sempre da série ao retratar seu lado “Mr. Big”. Entretanto, é o capanga Tee Hee que acaba roubando a cena, com seu braço metálico e o sorriso inabalável transformando-o num dos mais carismáticos capangas até então. Aliás, é ele o responsável por um dos momentos mais infames de toda a série, ao fazer com que James Bond encontre uma forma inusitada para escapar de crocodilos (pulando sobre os enfileirados animais como num jogo de Atari).
Essa inclinação ao estapafúrdio, claro, deve ser creditada ao roteirista Tom Mankiewicz , culpado pelos erros que levaram o filme anterior a apresentar conflitos de compatibilidade entre seu astro e o tom da narrativa. Já com Roger Moore, a situação mostra-se muito mais favorável, pois seu estilo encaixa perfeitamente à nova proposta da franquia, remodelada com a chegada do astro inglês. Vale ressaltar que Live and Let Die (no original) é uma das obras mais tímidas dessa fase, que ao abraçar o pop, descambou para a fantasia, mas isso é assunto para os próximos filmes.
Tornando compreensível o fato de ser o James Bond favorito de tanta gente, Roger Moore estreia de forma sólida na série, beneficiando-se também da evolução considerável em relação ao filme anterior. E mesmo que esteja longe dos melhores filmes do espião britânico, ao menos serve como uma descompromissada e divertida aventura.
NOTA 7
Bom-dia . Gostei do filme acho que o 007 f0i bem . Parabéns pelos comentários .