Projeto James Bond #24: 007 Contra SPECTRE (2015)
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  • Foto do escritorGuilherme Cândido

Projeto James Bond #24: 007 Contra SPECTRE (2015)

007 Contra SPECTRE

(SPECTRE, 2015)


* Aproveito para indicar também a crítica que fiz originalmente para o Central 42 em 2015, quando assisti a 007 Contra SPECTRE pela primeira vez.

Após dois filmes que sacudiram as estruturas da série, 007 retornou às suas origens em Skyfall, filme que estreou no ano do 50º aniversário de 007 Contra o Satânico Dr. No, primeira aventura de James Bond. Daniel Craig encarnou o espião numa missão que buscou referenciar (e reverenciar) a era de ouro da marca 007, mas além de um festival de homenagens aos filmes anteriores, Skyfall também passou a ser lembrado por sua força emocional, graças à chegada do cineasta Sam Mendes (de dramas premiadíssimos). Nos debruçamos um pouco mais sobre o passado de Bond e seu relacionamento com M, centro nervoso da trama, mas também fomos presenteados com sequências de ação com um apuro visual até então inédito, pois o diretor de fotografia Roger Deakins trouxe um olhar diretamente influenciado pela elegância do protagonista. Extremamente bem-sucedido, Skyfall quebrou uma série de marcas: tornou-se o maior sucesso da história da franquia, ultrapassando o bilhão de dólares em bilheteria e foi o primeiro James Bond a conquistar o Oscar de Melhor Canção Original (o hit “Skyfall” de Adele).

Quando 007 Contra SPECTRE chegou aos cinemas, três anos depois, a produção pegou carona na exposição do filme anterior e conseguiu convencer o cineasta Sam Mendes a continuar na cadeira de diretor. Era possivelmente o último filme de Daniel Craig como James Bond, pois durante uma entrevista ele soltaria a bombástica declaração de que preferiria “cortar os pulsos do que fazer outro 007”, o que explica o clima de fim de ciclo ao final da projeção.

Enquanto as incertezas pairavam no set de filmagens, Mendes e sua equipe trataram de oferecer a melhor continuação possível e para assegurarem o sucesso da empreitada, se certificaram de seguir a cartilha hollywoodiana de sequências. Com isso, SPECTRE é ainda maior e mais ambicioso do que Skyfall, beneficiando-se de um orçamento obsceno que bateu os 245 milhões de dólares. Como superar o filme anterior? Mendes deve ter se perguntado em algum momento. Se dramaticamente era improvável alcançar 007 Operação Skyfall, coube ao realizador orquestrar algumas das maiores sequências de ação da história da franquia.

Desde o início, a impressão que temos é a de que a produção parece não saber exatamente o que fazer com tanto dinheiro, que sobra logo de cara num plano-sequência de quase cinco minutos enquanto acompanhamos James Bond indo até o local de sua primeira missão no México. A câmera é estrategicamente posicionada para seguir Bond de uma rua lotada de pessoas comemorando o Dia dos Mortos até um quarto de hotel, que por sua vez servirá como porta de entrada para o alto de um edifício, do qual ele irá ouvir uma conversa importante entre dois bandidos. Trata-se de uma passagem incomum dentro de uma franquia que historicamente nunca foi lembrada por inovações técnicas, mas que vem aperfeiçoando suas narrativas desde que Daniel Craig entrou em cena para dar uma cara nova às aventuras de James Bond.

As sequências de ação, sempre grandiosas e filmadas com esmero por Mendes, que não hesita em empregar planos longos e abertos para impressionar o espectador, são o carro-chefe de 007 Contra SPECTRE, mas não da mesma forma que 007 Quantum of Solace. Pois enquanto o filme de 2008 recorria a set-pieces para mascarar a inexistência de uma trama sólida, SPECTRE utiliza a atmosfera e a ação para compensarem as fraquezas dramáticas do texto. Se é improvável entregar emoção ao espectador, que ao menos seja uma história eletrizante e nesse aspecto 007 Contra SPECTRE é irretocável, embora seus melhores momentos aconteçam antes dos créditos iniciais.

A fórmula Bond, retomada com Skyfall, permanece intacta, assim como a disposição em referenciar obras anteriores da série (Moscou Contra 007 é lembrado em vários momentos, especialmente durante as cenas que se passam num trem). O escritório de M voltou a servir de palco para o briefing da missão, ainda que Mendes subverta essa convenção interna para mostrar um Bond que age clandestinamente. Outro elemento clássico que acaba modificado é a interação do espião com Moneypenny, cujo ápice é atingido numa reveladora sequência que se passa no interior do apartamento de Bond. A ausência quase completa de móveis sugere alguém que não costuma frequentar aquele ambiente, refletindo as viagens constantes de Bond e seu desapego com aspectos supérfluos (lembremos que o novo Bond está despido de vaidade).

O que não impede Daniel Craig de investir numa composição mais despojada, permitindo-se até arriscar no bom humor, quebrando parcialmente a fachada fria e abrutalhada do agente que nos acostumamos a ver a partir de 007 Cassino Royale. Mais confortável, Craig é inteligente ao fazer de Bond um sujeito mais maleável e sensato, ecoando a experiência adquirida com as aventuras anteriores. Vesper, por exemplo, já não representa um peso tão grande na consciência do espião, que pode se entregar sem reservas aos encantos da nova bond girl.

Filha do criminoso Mr. White, visto em Cassino Royale e Quantum of Solace, Madeleine Swann é vivida pela francesa Léa Seydoux como uma mulher amargurada por estar colhendo os frutos de uma vida marginalizada. Forçada a exibir uma fortaleza emocional que afasta predadores, Madeleine ganha em Seydoux uma expressão quase sempre sofrida, exalando uma vulnerabilidade esporadicamente quebrada com algumas surpresas (ela teve de aprender a se defender, afinal). Por outro lado, a química insuficiente com Daniel Craig e o pouco tempo de tela dedicado ao relacionamento entre Madeleine e Bond comprometem a eficácia da subtrama romântica envolvendo os dois, cujo desenvolvimento apressado empurra o casal goela abaixo, fazendo o espectador engolir o subterfúgio criado para possibilitar um final menos sombrio para o espião.

Indo pelo mesmo caminho, a produção comete o pecado de não dar tempo suficiente para o austríaco Christoph Waltz se aprofundar no vilão Franz Oberhauser, destinado ao panteão de antagonistas da série, mas mal aproveitado pelo roteiro. Pois além de forçarem uma ligação com as origens de Bond, amarrando desajeitadamente os eventos dos filmes anteriores, os roteiristas tentam criar um suspense acerca da identidade de Oberhauser que soa apenas tolo, já que qualquer fã da franquia antecipará tal reviravolta ainda no primeiro ato. Mesmo assim, são tantas as pistas espalhadas pela trama (ou ‘homenagens’, por assim dizer), que a revelação deixa de despertar curiosidade para funcionar como uma ratificação.

Segunda canção-tema de um 007 premiado pela Academia, “Writing's on the Wall” reflete um Sam Smith determinado a se adequar ao padrão grandioso da série, optando por seguir a linha tradicional apontada por Adele no filme anterior, mas colhendo um resultado que pode até chamar atenção isoladamente dentro da fase estrelada por Daniel Craig, mas que não deve figurar entre as melhores da franquia. A título de curiosidade, o músico londrino declarou numa entrevista que comemorou por só ter precisado cantá-la uma vez, já que a faixa possui notas tão agudas que doía alcançá-las.

Com quase duas horas e quarenta minutos de projeção (o mais longo até então), 007 Contra SPECTRE não chega a ser uma decepção como Quantum of Solace, mas mantém o “efeito gangorra” dentro da série, que desde a saída de Sean Connery passou a alternar bons e maus momentos. Essa tradição incômoda estava prestes a ser interrompida, pois 007 Sem Tempo Para Morrer, o filme seguinte, foi o terceiro acerto consecutivo da Era Daniel Craig.


NOTA 7

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