Projeto James Bond (Bônus): 007 Nunca Mais Outra Vez (1983)
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  • Foto do escritorGuilherme Cândido

Projeto James Bond (Bônus): 007 Nunca Mais Outra Vez (1983)

007 Nunca Mais Outra Vez

(Never Say Never Again, 1983)


Há 40 anos, os fãs de James Bond tiveram o privilégio de ver não apenas um, mas dois filmes do personagem no mesmo ano. O motivo, no entanto, passou longe de ser agradar os fãs. Tudo começou em 1958, quatro anos antes de 007 Contra o Satânico Dr. No iniciar a trajetória do espião britânico nos cinemas, quando Ian Fleming, autor dos livros protagonizados por James Bond, chegou a se reunir com Kevin McClory e Jack Wittingham para juntos criarem uma história sobre o espião com o intuito de apresentarem a algum estúdio, porém, o projeto nunca saiu do papel e Fleming seguiu escrevendo seus livros. Quando 007 Contra a Chantagem Atômica chegou às livrarias, Kevin McClory ficou enfurecido ao perceber que Fleming havia aproveitado muitas de suas ideias sem lhe dar o devido crédito e resolveu entrar na justiça contra o autor.

O que McClory não sabia é que Fleming já havia vendidos os direitos de adaptação de 007 para os produtores Albert Broccoli e Harry Saltzman, que escolheram justamente 007 Contra a Chantagem Atômica para ser o primeiro filme da vindoura franquia. O processo rodou os tribunais por anos e fez com que a EON, empresa de Broccoli e Saltzman, adiasse a produção, obrigando-os a iniciarem a trajetória de James Bond nas telas com 007 Contra o Satânico Dr. No. Nesse ínterim, McClory fazia uma série de provocações à dupla, ameaçando inclusive criar sua própria franquia sobre o personagem e colocá-la para competir com a EON nos cinemas.


Um ano depois da estreia, a celeuma entre McClory e Fleming finalmente chegou ao fim, com a sentença dando ao primeiro o direito de ser creditado como um dos autores da trama de Thunderball (no original) e estabelecendo uma janela de 10 anos de exclusividade para a EON, que poderia seguir com a sua produção desde que creditasse McClory (‘baseado na ideia original de’ está de fato presente na abertura), que por sua vez estava livre para tirar do papel sua própria adaptação do livro original. Ao invés de ganhar permissão para produzir várias aventuras com James Bond (seu maior desejo), McClory apenas garantiu os direitos sobre a adaptação de 007 Contra a Chantagem Atômica, o que na prática significava que ele poderia fazer um mero remake e nada mais do que isso.


Determinado a fazer valer o direito adquirido, McClory, então, reuniu um grupo de roteiristas para conceber o projeto e o levou para Hollywood, onde conseguiu vendê-lo para a Orion que assumiu os custos de produção e formou uma parceria com a Warner para distribuí-lo. Havia uma obsessão em contratar um ex-James Bond, (George Lazenby e até Roger Moore foram considerados), mas após ficar sabendo que o primeiro deles, Sean Connery, poderia ser persuadido (leia-se: aceitaria desde que muito bem pago), McClory não pensou duas vezes e fechou um contrato milionário com o astro escocês, que além do cachê obsceno (o maior de todos os tempos entre atores britânicos), também exigiu participar do processo criativo. E assim nasceu Never Say Never Again (“nunca diga nunca novamente”, em tradução livre), com o título partindo de uma brincadeira da esposa de Connery relembrando uma entrevista em que o marido havia declarado que nunca mais interpretaria Bond.


A ideia sempre foi respeitar os anos de Connery longe do personagem, com James Bond retornando da aposentadoria e tendo de lidar com a idade avançada, o que permitiu uma série de alfinetadas na franquia da EON, pois Connery, com 53 anos, era três anos mais jovem que Roger Moore, cuja versão do espião tentava ignorar a passagem do tempo. Esses momentos com Bond no processo para entrar em forma são os melhores de 007 Nunca Mais Outra Vez, que se beneficia da nostalgia de rever na tela a lendária combinação Sean Connery-James Bond. E o escocês não faz feio, surgindo tão bem em cena (apesar de visivelmente mais velho), que mal parece ter deixado o personagem, muito mais humano do que a versão de Roger Moore, vale ressaltar. Pois Bond dessa vez sente dores nas costas e já não é tão rápido como no passado, ao passo que Moore insiste em interpretar um super-humano, característica reforçada pelas histórias cartunescas que protagoniza.


O elenco de apoio é absolutamente estelar, começando pelo austríaco Klaus Maria Brandauer, que constrói o vilão Max Largo como uma versão completamente diferente daquela vista em 007 Contra a Chantagem Atômica. De cara limpa, sem o famoso tapa-olho, Largo é um antagonista extremamente carismático, pois mais realista e com uma personalidade muito mais complexa. Agindo como um verdadeiro homem de negócios, ele não se entrega a rompantes de violência, discursos megalomaníacos ou atitudes histriônicas, exalando ameaça apenas com sorrisos e inflexões (o momento em que explica o valor de Domino é especialmente eficaz nesse sentido). No papel que a elevou ao estrelato, Kim Basinger vive uma bond girl mais ingênua do que o padrão estabelecido pela série original, embora faça boa dupla com Connery. Completando o elenco, Max Von Sydow surge como uma versão mais despretensiosa de Blofeld. O filme também vale pela curiosidade de ver Rowan Atkinson, o eterno Mr. Bean, atuando na maior franquia de espionagem do mundo décadas antes de assumir a sua própria, Johnny English, ironicamente uma paródia de James Bond.


É uma pena que a partir do segundo ato, 007 Nunca Mais Outra Vez se revele tão prosaico quanto as aventuras mais recentes do estúdio rival, investindo em sequências de ação dirigidas sem energia por Irwin Kershner, prestigiado após o sucesso de Star Wars Episódio V – O Império Contra-Ataca e protagonizadas por um Bond limitado pela lógica de envelhecimento estabelecida durante os primeiros minutos de projeção. No entanto, jamais deixa de ser atraente ver o velho Connery em ação no papel que o consagrou. Além disso, pesa negativamente a ausência do tema clássico do personagem, que não pôde ser usado por ser propriedade da EON e deixa uma imensa lacuna assim como os créditos de abertura, sem o tradicional trabalho de Maurice Binder na animação e com a discreta Lani Hall dando voz ao tema da vez.


Muito se falou na época sobre quem teria se saído melhor nessa inédita disputa de 007s. Ambos faturaram abaixo do esperado, mas o James Bond de Roger Moore rendeu um pouco mais do que o de Sean Connery. Já em termos de qualidade, o cenário se inverte, pois enquanto 007 Contra Octopussy se posicionou como uma típica aventura cômica, 007 Nunca Mais Outra Vez ganhou pontos por manter-se fiel aos primeiros filmes do espião, oferecendo uma clássica trama de espionagem com o bônus de ser protagonizada pelo inigualável Sean Connery.


NOTA 6,5

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