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Retrospectiva Karatê Kid #1: A Hora da Verdade (1984)

  • Foto do escritor: Guilherme Cândido
    Guilherme Cândido
  • 28 de abr.
  • 13 min de leitura

Saudações, leitores!

 

Depois de quinze anos, a franquia Karatê Kid está de volta com mais um capítulo e dessa vez contará com o retorno de Ralph Macchio, protagonista original e que não aparece desde o terceiro filme. Ao lado dele estará Jackie Chan, presente no reboot de 2010 e sucessor do inesquecível Pat Morita, intérprete do Sr. Myiagi e já falecido.

Karatê Kid: Lendas chegará aos cinemas na próxima semana, em 8 de maio e, para entrar no clima, resolvi maratonar toda as obras que chegaram aos cinemas (portanto, a série Cobra Kai e o desenho animado ficaram de fora). Fique ligado, pois escreverei sobre cada filme e cada crítica incluirá também histórias de bastidores e curiosidades!

 


Karatê Kid: A Hora da Verdade (The Karate Kid, 1984) 



Quarta maior bilheteria do mundo em 1984 (mais de 130 milhões de dólares arrecadados) e o maior sucesso das locadoras no ano seguinte, a fama de Karatê Kid: A Hora da Verdade, ao menos em âmbito brasileiro, passa por gerações de telespectadores da querida Sessão da Tarde, faixa vespertina da Rede Globo voltada para a exibição de filmes. Você provavelmente pensou em A Lagoa Azul (1980) ou Curtindo a Vida Adoidado (1986), mesmo sabendo (ou não) que o recorde de reprises no programa pertence a Ghost: Do Outro Lado da Vida (1990), mas as aventuras de Daniel-san e Senhor Miyagi foram fartamente oferecidas a crianças e adolescentes que escolhiam passar as tardes pós-escola na frente da televisão, incluindo este que vos escreve.


Para elas acontecerem, aliás, o estúdio teve de pedir autorização à DC Comics para utilizar o título “The Karate Kid”, já que também se tratava de um popular personagem da história em quadrinhos Legião dos Super-Heróis, publicada pela editora (e que nada tinha a ver com o filme, diga-se de passagem). Por isso, durante os créditos de cada produção da série, há um espaço para comunicar a permissão concedida.


Já o subtítulo “A Hora da Verdade”, ausente no original, é uma referência direta da distribuidora brasileira à canção-tema do filme. “The Moment of Truth” (clique aqui para ouvir), composição de Bill Conti e performance do Survivor, toca logo após a cena final. Curiosamente, tanto a banda, quanto o compositor, vieram de Rocky: Um Lutador (1977), outra produção esportiva dirigida por John G. Avildsen e que faturou Oscars de Melhor Filme, Melhor Montagem e Melhor Diretor, para o dito-cujo. Avildsen, derrotado por um câncer no pâncreas aos 81 anos em 2017, foi a primeira escolha do produtor Jerry Weintraub e não precisou de muito para se convencer a comandar uma “promissora versão de Rocky para jovens”, como brincou Stallone ao saber sobre o projeto.

O cineasta John G. Avildsen e o Oscar conquistado por 'Rocky' (1977)
O cineasta John G. Avildsen e o Oscar conquistado por 'Rocky' (1977)

Bill Conti, indicado ao Oscar por Rocky e pela canção-tema de 007 Somente Para Seus Olhos (1982), havia acabado de conquistar a estatueta por Os Eleitos (1984), mostrando estar em ótima fase ao apostar em melodias tocadas em instrumentos de sopro. O tema composto para Karatê Kid é um de seus melhores trabalhos ao capturar a essência da trama, resistindo à tentação dos acordes enérgicos para sublinhar a trama. Ao invés disso, Conti prefere aludir à sabedoria de Miyagi e ao equilíbrio da arte marcial que ensina a Daniel LaRusso, conseguindo a proeza de levar o público a experimentar o mesmo estado de espírito de seus personagens, algo comentado até mesmo por Jerry Weintraub.

O maestro nova-iorquino Bill Conti
O maestro nova-iorquino Bill Conti

Weintraub, que vinha de uma série de especiais para a TV, ainda estava à procura de seu primeiro blockbuster. O arrojado Parceiros da Noite (1980), estrelado por Al Pacino era sua única credencial até se deparar com um artigo jornalístico sobre um adolescente, filho de uma mãe solteira, que se tornou faixa preta de uma arte marcial para se defender dos valentões da vizinhança. Para escrever a história, o produtor não poderia ter dado mais sorte ao escolher Robert Mark Kamen, hoje famoso pela criação de lucrativas franquias de ação, como Carga Explosiva e Busca Implacável, além de uma prolífica parceria com o realizador francês Luc Besson, com quem também fez O Quinto Elemento (1997). Kamen não era exatamente um novato, mas as duas produções que havia assinado, Toque de Recolher (1981) e Seita de Fanáticos (1982), jamais saíram da obscuridade. Foi Karatê Kid que o colocou no mapa.

O produtor Jerry Weintraub
O produtor Jerry Weintraub

De volta à sorte de Weintraub, Kamen caiu como uma luva para o projeto, pois pôde se basear em sua própria história de vida. Conforme contou numa entrevista, aos 17 anos, o roteirista foi espancado por uma gangue de arruaceiros após visitar a Feira Mundial de Nova York em 1964. Traumatizado, decidiu estudar uma luta para poder se defender. Porém, se viu descontente com as aulas, já que seu primeiro professor enxergava as artes marciais como ferramentas de violência. Foi quando passou a se aprofundar nas técnicas Goju-ryu, de Okinawa, encontrando um mestre japonês que não falava inglês, mas havia sido aluno de Chojun Miyagi. Nascia Karatê Kid: A Hora da Verdade.

O roteirista Robert Mark Kamen
O roteirista Robert Mark Kamen

Antes de ficar conhecido por batizar o simpático mestre de Daniel LaRusso, Miyagi criou seu próprio estilo de “karatê-jutsu”, com o tal “Goju-ryu” baseando-se em dois “kata”: Sanchin (duro) e Tensho (suave). O que vemos no filme, no entanto é uma variável “hollywoodiana” do Tensho, posto que o Sr. Miyagi é um fiel devoto da filosofia pacifista do Karatê. Para interpretar o sensei (como são chamados os mestres das artes marciais), Jerry Weintraub foi atrás do astro nipônico Toshirô Mifune, colaborador frequente do lendário cineasta japonês Akira Kurosawa. Mifune chegogu a fazer um teste para o papel e, de acordo com John G. Avildsen (na faixa comentada do DVD), foi muito bem, mas trouxe muito de sua bagagem como intérprete de samurais. Avildsen buscava uma composição mais leve e foi aí que surgiu o nome de Noriyuki ‘Pat’ Morita, embora Weintraub tenha torcido o nariz inicialmente para a escalação do ator nipo-americano.

Pat Morita na época de 'Happy Days'
Pat Morita na época de 'Happy Days'

O produtor via Morita como o extremo oposto de Mifune e não acreditava que um comediante poderia ser levado a sério como o papel demandava. Pat Morita, vale lembrar, era membro do elenco da bem-sucedida sitcom Happy Days (1974-1984) e havia acabado de lançar três comédias nos cinemas só em 1982. Bastou uma única audição para o desacreditado intérprete conquistar Weintraub (que só topou escalá-lo após não achar outra pessoa para ser testada), graças principalmente à influência do mestre Fumio Demura em sua composição, assimilando não apenas suas crenças nas artes marciais, como também seus maneirismos e sua forma de falar. Ironicamente, Demura, falecido em Abril de 2023, acabou atuando como dublê de Morita em todos os quatro filmes da franquia. A escalação de Pat Morita deu tão certo que ele ainda foi indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.

Pat Morita com Fumio Demura
Pat Morita com Fumio Demura

Com o Sr. Miyagi definitivamente escolhido, faltava a contratação de seu pupilo e, para isso, várias promessas da Indústria foram consideradas, como Sean Penn, Robert Downey Jr., Jon Cryer, Emilio Estevez, Nicolas Cage, C. Thomas Howell, Tom Cruise, Michael J. Fox, Eric Stoltz, Charlie Sheen e D.B. Sweeney. Enquanto este último chegou a participar de uma audição, Sheen foi o único que recebeu, de fato, uma proposta para interpretar Daniel-san, mas recusou. Ralph Macchio só entrou no radar mais tarde, em virtude de sua atuação como Johnny Cade em Vidas Sem Rumo (1983). Apesar de se enquadrar no perfil descrito pelo roteiro (“um fracote com problemas”), Macchio já estava com 22 anos, sendo o membro mais velho do elenco principal (para efeitos de comparação, William Zabka tinha 18 anos quando encarnou Johnny Lawrence, portanto, o único adolescente legítimo da produção).

Ralph Macchio, o adulto com cara de adolescente
Ralph Macchio, o adulto com cara de adolescente

O corpo franzino, a voz pré-púbere e o jeito moleque fizeram Macchio passar despercebido pelo público que não cansa de se surpreender ao descobrir a verdadeira idade do intérprete de Daniel LaRusso. Falando nisso, o sobrenome “LaRusso” foi uma modificação feita por Robert Mark Kamen para aproveitar as raízes italianas de Macchio, pois o sobrenome original do protagonista era “Webber”. Presente em literalmente todas as cenas, Daniel é vivido por um Ralph Macchio extremamente hábil em transmitir bondade, o que acaba sendo fundamental não apenas para atrair nossa simpatia e subsequente torcida, mas também por justificar o esforço de Miyagi em treiná-lo.

Aliás, a intenção do sensei em utilizar o sufixo “san” para se referir ao pupilo vai um pouco além do respeito que acompanha seu significado. Daniel-san seria o equivalente a Senhor Daniel, uma forma de tratamento adequada a pessoas em posições sociais superiores ou simplesmente mais velhas e não exatamente adolescentes. Nesse caso, trata-se de um divertido deboche de “Miyagi-san” para com Daniel, um garoto inexperiente que, em alguns momentos, esquece-se disso (especialmente no segundo filme, mas deixemos essa conversa para depois). Em contraste, Martin Kove, assumindo o lugar de John Glover (o Lionel Luthor de Smallville e pai do Dr. Silvana de Shazam!), que deixou o projeto por razões desconhecidas, interpreta John Kreese como um veterano de guerra mais enrijecido e rigoroso com seus alunos. Enquanto Miyagi chega a chamar Daniel de “senhor”, Kreese chama os pupilos pelo diminutivo (Johnny, Jimmy, Tommy, Bobby...). A antítese de Miyagi fica ainda mais evidente quando o sensei explica sua visão do karatê, uma ferramenta para a violência, exatamente o oposto do que o Senhor Miyagi ensina a Daniel.

Por outro lado, não pense que Daniel é um personagem de uma nota só. Apesar de gentil e humilde, ele também é capaz de manifestar impaciência e até nesse aspecto Macchio merece elogios, pois consegue captar a ansiedade do rapaz sem perder de vista o “bom mocismo”. Note, por exemplo, como ele não esconde sua indignação ao receber mais uma tarefa de Miyagi ao invés de uma lição direta de karatê. Apesar do comportamento irritadiço, Daniel jamais passa dos limites e sua preocupação em não desrespeitar o professor, outro traço revelador de seu caráter, pode ser constatado nos maneirismos controlados e na voz hesitante de Macchio, fiel ao perfil desajeitado do personagem. Justamente por isso, Miyagi deixa de dar uma bronca no rapaz e decide revelar a verdadeira natureza dos trabalhos domésticos requisitados, resultando num dos momentos mais emblemáticos de Karatê Kid, com direito a uma frase de efeito vastamente referenciada (“wax on, wax off”, algo como “passa cera, tira a cera”).

E por falar em bondade, Miyagi não fica atrás, compensando toda a dedicação de LaRusso ao presenteá-lo com um dos carros que passou tanto tempo encerando. Oferecer um dos veículos de sua estimada coleção torna o gesto ainda mais significativo, mas o fato desta sequência ser tão emocionante é graças, principalmente, à reação entusiasmada e, mais importante, agradecida do rapaz. E assim é sedimentada a relação entre Miyagi e Daniel, o alicerce do roteiro escrito por Robert Mark Kamen e ilustrado pelo diretor John G. Avildsen sem forçar a barra. Com simplicidade e objetividade, Avildsen faz tudo parecer fácil, mas o simples, às vezes, é o mais difícil de ser executado.

Simples é um adjetivo que cai bem para definir a personalidade de Miyagi, um sujeito pacato e pacífico, que não subestima os pequenos prazeres da vida e reconhece a beleza dos pequenos gestos. Assim como as várias cenas em que o vemos aparando um bonsai, é parte crucial de seu estilo de vida dedicar um tempo a tentar capturar moscas com hashis e aqui cabe uma curiosidade: nas cópias restauradas em 4K, é possível ver que os insetos são peças cenográficas manipuladas por uma fina linha de nylon, refletindo o brilho da luz do set. Modesto e sincero, ele não hesita em admitir quando age por instinto, surpreendendo até o sempre admirado Daniel LaRusso. “Como você fez isso?”, pergunta o garoto incrédulo, ouvindo um inesperado “não sei, foi a primeira vez que fiz!”.

Mas essa natureza calma e reservada de Miyagi esconde um interior atormentado, e a passagem que mostra com precisão seu sofrimento silencioso quase não chegou ao corte final, pois os executivos da Columbia acreditavam que o clima pesaria.  A sequência em questão, que segundo John G. Avildsen foi determinante para a indicação de Pat Morita ao Oscar (e eu concordo plenamente), é aquela em que vemos, pela primeira vez, Miyagi fora de seu prumo. A aparente embriaguez o vira do avesso, transformando-o numa figura de fala fácil e estridente, mas a composição cuidadosa de Morita evita o ridículo. Não rimos, nos compadecemos. E quando Daniel, após colocá-lo para dormir, vê algumas fotos reveladoras, como a falecida esposa de seu fragilizado amigo e o próprio no período em que serviu ao Exército, tudo se encaixa sem que uma palavra precise ser dita, em mais uma prova do entendimento de Robert Mark Kamen acerca do princípio cinematográfico “não conte, mostre”.

O roteirista, no entanto, tem seu trabalho prejudicado pela montagem, o Calcanhar de Aquiles do longa, que deixa escapar uma lacuna importante no conflito que surge a partir do envolvimento romântico de Daniel com Ali. Para não isentar Kamen por completo, o romance, que é construído de forma promissora (seu empenho ao ensinar a namorada a driblar no futebol, funciona para mostrar sua dedicação, que será crucial mais tarde), é desenvolvido às pressas, avançando rápido demais entre as etapas que compõem a formação do casal. Nem mesmo o irreverente momento em que Daniel não percebe estar próximo de um “Love Tester” (quando uma lâmpada acende sob a palavra “incontrolável”, para definir seu amor por Ali), é suficiente para amenizar. Esse repente fica ainda mais evidente quando o roteiro tenta incluir um comentário social, com os abastados pais de Ali rechaçando Daniel por este ser pobre, o que só se torna um problema de fato quando o rapaz resolve confrontá-los. Como não há sequer uma menção à forma com que Daniel toma conhecimento dessa rejeição, um furo narrativo é detectado. Perdendo-se ou não na ilha de edição, a trama romântica que já soava protocolar, é irremediavelmente comprometida.

Uma pena, pois Elisabeth Shue trancou seus estudos em Harvard para interpretar Ali. Sua participação num popular comercial foi determinante para vencer a concorrência de futuras estrelas como Helen Hunt e Demi Moore. Karatê Kid marcou a estreia de Shue no Cinema, iniciando uma filmografia irregular que incluiria fracassos comerciais como O Homem Sem Sombra (2000) e O Amigo Oculto (2005), obras subestimadas como Morrendo e Aprendendo (1993) e O Santo (1997), além de grandes filmes como Despedida em Las Vegas (que rendeu em 1998 sua única indicação ao Oscar) e Desconstruindo Harry (de Woody Allen em 1997). Também esteve em De Volta Para o Futuro 2 (1989) e sua continuação (1990), substituindo Claudia Wells como Jennifer. Aliás, a própria Elisabeth Shue viria a ser substituída em Karatê Kid II, optando por retomar os estudos em Ciências Políticas. Prejudicada por um papel raso, uma incômoda tradição dos pares românticos da época, Shue protagoniza um vaivém na relação com Daniel e não tem muito material para trabalhar, ficando refém, inclusive, do já citado conflito sobre diferença de classes, numa inconsistência provocada pela montagem.

Elisabeth Shue na série 'The Boys' em 2019
Elisabeth Shue na série 'The Boys' em 2019

A mesma montagem que volta a falhar no clímax, especialmente num momento crucial do torneio de Karatê. Repare como um dos competidores do dojo Cobra Kai hesita ao receber uma ordem do sensei John Kreese para dar um golpe baixo em Daniel LaRusso, chegando a levar uma dura por isso, apenas para minutos mais tarde, ser visto comemorando efusivamente quando Johnny joga ainda mais sujo, atacando a perna lesionada do protagonista.

Por falar em golpes, Karatê Kid popularizou a chamada “Crane Technique” (ou “Técnica da Garça”), com Daniel, numa bela tomada na praia, treinando o mesmo movimento que usaria para vencer Johnny na luta final. Embora inquestionavelmente plástica, essa ação não chega a ser 100% verossímil e demoraria anos até ser utilizada num torneio oficial. Na verdade, trata-se de um movimento inspirado numa postura (também nomeada como garça) aproveitada amplamente em vários “kata” tradicionais, mas não como golpe, ao menos naquela época. Pois em 2011 durante o UFC 129, o karateca brasileiro Lyoto Machida ousou reproduzir o movimento (mas sem levantar os braços como Daniel-san) para nocautear o norte-americano Randy Couture, sagrando-se campeão (Peso Meio-Pesado).

As lutas finais do filme, condensadas para manter o ritmo e focar em Daniel e Johnny, usam a licença poética para substituir a cadência dos combates da vida real pelo frenesi cinematográfico, numa opção que se mostra tremendamente acertada, já que John G. Avilsen extrai tensão e tração das trocas incessantes de golpes. Nesse ponto, brilham também os figurinos assinados por Fulana e Fulana. Inicialmente, é possível cair no erro de apontar a trivialidade na escolha das cores, com Johnny e os colegas trajando preto e Daniel, logicamente, de branco, mas alguns detalhes mudam tudo. Enquanto os lutadores do Cobra Kai vestem um quimono justo e sem mangas, enfatizando seus músculos, o protagonista usa um modelo de mangas compridas e maior do que o seu tamanho. Essa decisão o torna ainda mais frágil e potencializa a superioridade física de seus adversários. Não bastassem os combates bem encenados, eles contam com um juiz ilustre, que não deveria escapar do conhecimento do espectador. Trata-se de Pat E. Johnson, ninguém menos do que o próprio coreógrafo da produção. Johnson, além de especialista em karatê, foi aluno de Chuck Norris e sua presença no torneio final, em cena com os atores facilitou ajustes na coreografia.

Infelizmente, Karatê Kid encerra-se abruptamente, adotando a velha estratégia de concluir a história o mais próximo possível do clímax, influenciando na sensação do público ao deixar a sala de projeção. Há uma pressa tão grande para introduzir os créditos finais, que não só mal conseguimos ver a comemoração de Daniel com Miyagi e a mãe, como também força-se uma reconciliação do jovem com Johnny, cuja última fala do filme contraria tudo o que demonstrou nas duas horas anteriores. Ora, se a ideia era mostrar o vilão contrariando o próprio sensei ao exibir espírito esportivo, não houve espaço suficiente para desenvolvimento, muito menos para aproximar os inimigos.

A imagem de Johnny, inclusive, mudou ao longo dos anos, com diversos vídeos e ensaios analisando seu comportamento e, inclusive, apontando para Daniel como verdadeiro vilão. Tanto que a série Cobra Kai, continuação dos filmes, é contada justamente por ele e não por LaRusso. Essa nova perspectiva traz frescor para a franquia e oferece uma justa oportunidade para William Zabka explorar seus talentos e seu carisma, mesmo que não tenha se saído mal no longa-metragem. Ao contrário, mesmo que o texto seja pouco sutil ao ilustrar as atitudes de Johnny, Zabka é competente ao transmitir os dois extremos do personagem, até mesmo em seu surpreendente ato final.

Por mais que sustente uma roupagem de cinemão hollywoodiano, com características de blockbuster e uma narrativa mais acessível para o público médio, Karatê Kid é fruto de uma época em que as informações não eram todas mastigadas para o espectador, deixando espaço para o subtexto, como ao mostrar o princípio de uma rusga entre Daniel e a mãe a respeito da decisão unilateral de se mudar para a Califórnia e os motivos que levaram a mulher a tomar essa decisão (e que engloba também seu emprego). Vale ressaltar que Randee Heller, intérprete de Lucille LaRusso é apenas 14 anos mais velha que Ralph Macchio, mas a aparência espantosamente jovial do ator faz desse detalhe algo impensável para o público.

Que no final das contas é presenteado com um drama de amadurecimento acima da média já satisfatória da época e fazendo jus ao carinho nutrido pelos fãs ao longo dos anos. Também, como não admirar uma obra claramente voltada para o entretenimento abordando o lado japonês da Guerra, mas sem deixar de pregar a paz, refletindo a visão de mundo do inigualável Sr. Miyagi, o destaque inquestionável deste promissor ponto de partida para uma franquia cujo fôlego parece se renovar com o tempo.


NOTA 8

 

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