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'Rosario' decepciona com trama óbvia e dinâmicas repetitivas

  • Foto do escritor: Guilherme Cândido
    Guilherme Cândido
  • 28 de ago.
  • 3 min de leitura

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O maior problema de filmes como Rosario, não é a falta de imaginação, representada por jump scares preguiçosamente construídos, nem as limitações do diretor, repetitivo em suas estratégias visuais (a câmera rotaciona tantas vezes que cheguei a ficar tonto) e muito menos sua natureza caça-níquel (o terror é um investimento que necessita de pouco capital para render); mas sim o reincidente equívoco de tratar o espectador como um imbecil ou, no melhor dos eufemismos, como alguém portador de uma forma aguda de TDAH.

 

Mesmo durando pouco mais de uma hora e vinte minutos, o roteiro assinado por Alan Trezza se deixa levar por momentos que fariam mais sentido numa comédia, como aquele que exibe a protagonista pesquisando sobre a uma maldição tematicamente crucial no Google. E como se não bastasse ler o texto em voz alta, faz questão de interpretá-lo (também em alto e bom som), comprovando que o faz não para si, mas para o público. Em outras palavras, Trezza não vê problemas em transformar Rosario numa esquizofrênica que fala sozinha, se a intenção for mastigar sua óbvia trama para os supostos boçais que forem assistí-la ganhar vida nas telas.

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Para a infelicidade da produção, quase ninguém acabou indo ver Rosario estrear nos cinemas norte-americanos, restando poucos territórios a serem explorados com o objetivo de amenizar os prejuízos financeiros. E o próximo da lista é o Brasil, esteja avisado.

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A história acompanha uma jovem de ascendência latina tendo de acompanhar o corpo da avó recém-falecida enquanto a ambulância não chega para recolhê-lo. Só que uma grande tempestade se aproxima, atrasando todos os serviços públicos. Presa e sem ter o que fazer, ela resolve vasculhar o sinistro local (sempre uma ótima ideia), descobrindo segredos alarmantes.

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Emeraude Tobia, a Lily da série Com Amor (2021-2023) assume o papel de scream queen com entrega comovente e até se beneficia da inteligência de Rosario, que pode até ser maluca, mas não é burra. Ao menos não a ponto de ignorar os sinais de que há algo maligno à espreita. A bem-vinda surpresa de ver a protagonista de um filme de terror tentar fugir no primeiro sinal de perigo não dura muito, pois logo o script a obriga a retornar para o local de origem. 

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O que seria suportável caso Felipe Vargas tivesse algumas cartas na manga, e nem me refiro ao básico, pois isso o cineasta estreante consegue fazer com alguma segurança. Mas Vargas não possui muitos recursos, limitando-se a repetí-los à exaustão, ao ponto de o espectador mais desatento (ou alheio às convenções do gênero) antecipar seus movimentos. Quando alguém se escora numa parede logo após um vulto surgir em segundo plano, por exemplo, torna-se uma questão de tempo até o volume da trilha sonora aumentar subitamente para tentar provocar o tão almejado susto.

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Dessa forma, Rosario torna-se uma experiência mais cansativa do que assustadora, o que é uma pena, pois o design de produção merece elogios pelo esforço (o apartamento da “abuela” realmente parece estar em decomposição). Por outro lado, uma obra que ousa desperdiçar David Dastmalchian (o Bolinha de O Esquadrão Suicida), não pode sair impune. Ainda mais por transformá-lo num vizinho esquisitão obcecado por uma Air Fryer (que rende o momento mais inusitado do filme, diga-se de passagem).

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Tentando demonstrar alguma seriedade com um pano de fundo envolvendo imigração, mas falhando miseravelmente ao substituir credibilidade por superficialidade, o longa ainda tem a pachorra de fazer parecer fácil mexer com magia negra, sugerindo bastar ler um livro sobre artes obscuras como se fosse um manual de instruções, - no melhor estilo “Faça você mesmo sua própria maldição para lançar em quem quiser!” - para dominar alguma técnica demoníaca.

 

Que nenhum espectador resolva aplicar os conhecimentos adquiridos para tentar apagar Rosario da memória…


NOTA 3

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