Simpático "Amor em Verona" manipula clichês com maestria
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  • Foto do escritorGuilherme Cândido

Simpático "Amor em Verona" manipula clichês com maestria


Quem diria que o diretor de pérolas como Demolidor – O Homem Sem Medo e Motoqueiro Fantasma se descobriria como autor de comédias românticas? Pois após errar feio, mas ver Ben Affleck levar toda a culpa pelo fracasso de Demolidor e repetir os mesmos equívocos com o esdrúxulo Motoqueiro Fantasma (estragando o sonho de Nicolas Cage em interpretar um herói dos quadrinhos), o cineasta e roteirista Mark Steven Johnson finalmente se deu conta (ou a própria indústria fez isso com ele) de que super-heróis não eram bem sua praia. Ao menos ele foi capaz de deixar o orgulho de lado e dar um passo atrás, investindo em Quando em Roma, sua primeira empreitada no gênero que viria a ser sua tábua de salvação.


Infelizmente, Mark Steven Johnson foi capaz de desperdiçar um elenco que incluía Angelica Huston (A Família Adams), Danny DeVito (Irmãos Gêmeos) e Jon Heder (Napoleon Dynamite). E nem citei os protagonistas... Estes vividos pelo fotogênico Josh Duhamel, surfando na onda de Transformers (ele interpretou o Coronel Lennox) e Kristen Bell, em alta na série Veronica Mars. Tudo parecia perdido para Johnson, até que finalmente surge a Netflix em sua vida. Amor Garantido (2020), sua estreia no streaming, fez relativo sucesso e levou a empresa a apostar numa história de sua própria autoria. Nascia Amor em Verona.

Sem inventar, o autor deixou de lado suas ambições e resolveu investir numa comédia romântica básica, mas sabendo manipular os signos desse gênero com notável segurança. Basta uma olhada rápida na sinopse para antecipar não apenas o final, como cada beat. Julie (Kat Graham) é uma professora que sempre sonhou em fazer uma viagem romântica para Verona, mas ao chegar no lugar, percebe que já há outra pessoa em seu quarto, Charlie, vivido pelo britânico Tom Hopper. Com a impossibilidade de corrigir o erro da reserva, os dois são obrigados a dividirem o espaço, determinados a fazerem com que o outro desista.

Assim, a consagrada dinâmica de Como Perder Um Homem em 10 Dias é reeditada, mas sem a criatividade da obra estrelada por Kate Hudson e Matthew McConaughey. Por mais divertido que seja ver Julie e Charlie em guerra, é claro que em algum momento os dois se deixarão levar pela atmosfera romântica de Verona (e suas belas paisagens), combinando uma trégua que criará o momento perfeito para o Cupido fazer o seu trabalho.

Figurinhas carimbadas da Netflix (ele está na série The Umbrella Academy e ela no açucarado Missão Presente de Natal), Tom Hopper e Kat Graham são hábeis em construir figuras simpáticas, beneficiando-se de uma química que se mostra essencial para a narrativa. A tarefa dos dois é facilitada ainda mais pela condução confiante de Mark Steven Johnson, eficiente ao estabelecer um clima sempre agradável.

O x da questão aqui não está na história em si, que já foi contada inúmeras vezes, mas na forma como é desenvolvida. Os clichês, fáceis de serem identificados, estão todos lá, batendo ponto até a última sequência, quando a obrigatória epifania amorosa chega atrasada e obriga uma corrida desesperada até o grande amor. E o roteiro, também de autoria de Johnson, não esquece nem dos coadjuvantes inconvenientes que, na verdade, são artifícios dramáticos para impulsionar os pombinhos protagonistas.

Além de suas pérolas de sabedoria romântica, Amor em Verona também comprova que nunca é tarde para encontrar a sua verdadeira vocação, pois foi preciso um empurrãozinho da Netflix para Mark Steven Johnson se reinventar como realizador. Não um gênio, mas alguém suficientemente competente para entreter os românticos incorrigíveis.


NOTA 6


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